A Espanha tentará novamente na sexta-feira tranquilizar aos mercados quanto ao seu setor bancário, separando seus ativos imobiliários problemáticos - herdados do estouro da bolha imobiliária - de seus balanços, o que deve exigir uma nova injeção de fundos públicos. No centro da iniciativa está o Bankia, fruto da maior união de caixas de poupança do país.
"Será o último plano de saneamento da entidade que seguramente será através da injeção de capital conversível contingente, os famosos 'CoCos', e também serão exigidas mudanças na gestão" do Bankia, disse à AFP uma fonte do ministério da Economia, confirmando que se tratará de dinheiro público.
A primeira consequência deste anúncio foi o pedido de demissão de Rodrigo Rato, presidente do Bankia, nesta segunda-feira. "Decidi passar o posto a um novo gestor por acreditar que isso é o mais conveniente para esta entidade", afirmou Rato, que foi ministro de Economia do país de 1996 a 2004 e diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) até 2007. Segundo o jornal El País, o Bankia é, entre os grandes bancos espanhóis, o mais exposto ao setor imobiliário, e precisará de entre "5 e 10 bilhões de euros" para limpar seu balanço.
As medidas anunciadas pelo governo espanhol são uma resposta às advertências das últimas semanas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Madri, de que o país teria que intensificar o saneamento de seus bancos para resolver suas debilidades, e da agência Standard and Poor's, que rebaixou em dois escalões a nota soberana espanhola, devido a "uma probabilidade crescente de que o governo dê incentivos fiscais ao setor bancário", segundo a agência.
Nascido da união em 2010 de sete caixas de poupança, o Bankia entrou em Bolsa em julho de 2011, ao preço de 3,75 euros por ação. O próprio chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, que até agora rejeitava a ideia, admitiu nesta segunda-feira a possibilidade de usar o dinheiro público, sendo que Madri já emprestou ao setor mais de 15 bilhões de euros.
"Caso isso seja necessário para conseguir crédito e para salvar o sistema financeiro espanhol, nós o faremos, como têm feito todos os países da União Europeia. Mas a injeção de dinheiro público só será feita em última instância", afirmou.
O governo aprovará na sexta-feira um novo decreto-lei para sanear o setor, separando os ativos imobiliários do balanço dos bancos. Após conceder altos volumes de créditos durante a bolha ao final de 2011, os bancos acumulavam 184 bilhões de euros em ativos imobiliários problemáticos - de valor incerto -, ou seja, 60% de sua carteira.
As autoridades já lhe impuseram provisionar 53,8 bilhões de euros para cobrir riscos. "O que pretendemos é que essas moradias (dos bancos) tenham seus preços reais fixados, mesmo que percam dinheiro. Essa é a operação que discutiremos no Conselho de Ministros da próxima sexta-feira", explicou nesta segunda-feira Rajoy em uma entrevista à rádio privada Onda Zero. E se o Estado tiver que oferecer ajuda, isso não ameaçará a meta de redução do déficit, de 8,51% do PIB em 2011 para 5,3% este ano, prometeu Rajoy.