Os incentivos do governo com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a desoneração da folha de pagamento de alguns setores e a redução das taxas de juros não vão ser suficientes para salvar o início de ano da indústria brasileira. O primeiro semestre será um dos piores da história para a fábricas no pais, segundo afirmou ontem o secretário- executivo do Ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria (MDIC), Alessandro Teixeira. “Falar em competitividade no cenário atual é difícil não só para o Brasil, mas para todos os países industrializados”, disse Teixeira, citando a desaceleração do comércio exterior da China como uma preocupação geral. Teixeira participou do seminário Política Industrial no Século 21, no BNDES, no Rio de Janeiro.
Para agravar o quadro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem que o emprego industrial recuou 0,4% em março na comparação com fevereiro, na série livre de influências sazonais, após ter registrado recuo de 0,3% em janeiro e de 0,1% em fevereiro. Na comparação com março de 2011, houve baixa de 1,2% – o sexto resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto e o mais intenso desde dezembro de 2009 (-2,4%).
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) acredita que a recuperação do emprego industrial só ocorrerá no segundo semestre. Em relatório divulgado na sexta-feira, a entidade afirma que não está claro qual será o comportamento tanto da produção industrial como dos ocupados na indústria neste segundo trimestre. “Já sabemos que a evolução da produção industrial é recessiva nos últimos meses, de setembro do ano passado a março deste ano, e que no primeiro trimestre do ano a atividade produtiva da indústria é 3% menor do que era em igual período de 2011, mas com os dados de emprego divulgados pelo IBGE o quadro da indústria ganhou uma pincelada cinza”, afirma o relatório do Iedi.
O resultado do emprego industrial no primeiro trimestre, segundo o Iedi, acumula retração de 0,8% no comparativo com igual período do ano passado, um dos piores resultados da série histórica para um primeiro trimestre. Para a entidade, um dos agravantes desse cenário é o que ocorre em São Paulo. “O número de ocupados na indústria paulista vinha recuando a taxas expressivas de maio do ano passado até fevereiro deste ano, e em março o resultado não foi diferente. Caiu 3,5%. No primeiro trimestre, o emprego na indústria paulista despencou 3,1% em relação a igual período do ano passado”, descreve o relatório.
Recuperação Apesar do cenário global confuso e dos pífios resultados da indústria nacional, o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento diz que se mantém otimista em relação à evolução das exportações e da indústria. “Continuo afirmando que este deve ser um dos piores semestres que a indústria deverá ter com certeza. Mas, ainda assim, mesmo sendo um semestre difícil, porque é difícil para a indústria mundial, para a brasileira, eu tenho sido muito otimista com os resultados que temos apresentado, no crescimento da indústria internamente, no crescimento das exportações”.
Até o primeiro quadrimestre, as exportações nacionais cresceram 4,5%, o que seria um indicativo frente à projeção do MDIC de alta de 3,1% das vendas externas em 2012. A estimativa, entretanto, é muito inferior ao crescimento de 26% conseguido pelas exportações em 2011. O cenário global explica a distância entre as previsões para os dois anos acredita Teixeira. “A grande diferença este ano é o problema da desaceleração da economia internacional”.
Salários têm leve recuo
O valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria ajustado sazonalmente recuou 0,7% em março em relação a fevereiro, depois de registrar expansão por dois meses consecutivos período em que acumulou ganho de 6,4%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destaca, no entanto, que houve clara influência da redução de 7,8% no setor extrativo, por causa do pagamento de participação nos lucros em empresas desse setor em fevereiro. O índice de média móvel trimestral apontou expansão de 1,8% entre os trimestres encerrados em fevereiro e março, intensificando o ritmo de crescimento frente aos resultados de janeiro (1,3%) e fevereiro (1,5%).
No confronto com igual mês do ano anterior, o valor da folha de pagamento real cresceu 4,2% em março, 27º resultado positivo consecutivo nesse tipo de comparação. O índice acumulado no primeiro trimestre de 2012 apontou avanço de 4,6% frente a igual período de 2011. O índice acumulado nos últimos 12 meses cresceu 3,9% em março deste ano, prosseguiu com a redução no ritmo de crescimento iniciada em maio de 2011 (7,3%). Na comparação com março do ano passado, houve resultados positivos nos 14 locais investigados. As maiores influências sobre o total nacional foram verificadas em Minas Gerais (9,7%) e no Paraná (13,4%), por causa da indústria extrativa.
Vale citar também os avanços verificados na região Norte e Centro-Oeste (9,8%), região Nordeste (5,1%), Santa Catarina (6 6%) e Rio Grande do Sul (5,1%). Setorialmente, ainda no índice mensal, o valor da folha de pagamento real no total do País cresceu em 11 dos 18 setores investigados, com destaque para alimentos e bebidas (13,8%), indústrias extrativas (15,4%), máquinas e equipamentos (7,0%), refino de petróleo e produção de álcool (14,2%) e minerais não metálicos (7,6%).