A Grécia, imersa em uma profunda recessão e em um caos político, celebrará novas eleições legislativas no dia 17 de junho, a segunda em menos de dois meses, gerando forte nervosismo nos mercados e multiplicando as tensões na zona do euro e entre seus líderes políticos.
Segundo a agência de notícias grega Ana (semioficial), as eleições legislativas serão celebradas em 17 de junho com um primeiro-ministro de "serviço" (temporário), o presidente do Conselho de Estado Panayiotis Pikramenos, afirma a agência.
As eleições são cruciais para o país em um momento de sucesso da esquerda e dos partidos extremistas contrários à política de austeridade exigida pelos credores do país, União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), em troca de um plano de ajuda.
As principais forças políticas do país não conseguiram chegar a um acordo para formar um Executivo de coalizão após as eleições de 6 de maio, nas quais nenhum partido conseguiu a maioria necessária para governar. A situação política e econômica na Grécia provoca alerta na Europa, onde crescem as dúvidas sobre a permanência do país na Eurozona.
Contudo, o novo presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, defenderam a permanência do país heleno na zona do euro após seu primeiro encontro, realizado ontem, em Berlim. O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Sch?uble, por sua vez, afirmou que o plano de ajuda à Grécia, que exige em troca medidas de austeridade no país, "não pode ser renegociado", disse ele nesta quarta-feira. "Trata-se de um programa de ajuda minucioso, que não pode ser renegociado", disse ele à rádio Deutschlandfunk. "Aqueles que vencerem as eleições gregas terão que decidir se aceitam estas condições ou não", afirmou.
Também o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, negou qualquer mudança no plano de resgate aprovado para a Grécia. "De nenhuma maneira modificaremos os compromissos que exigimos à Grécia", afirmou em uma entrevista coletiva. "A Grécia precisa de um governo democrático e deve cumprir com seus compromissos para recuperar a confiança", completou Barroso.
Já o primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, afirmou nesta quarta-feira que a saída da Grécia da Eurozona seria um "erro maiúsculo" e uma notícia ruim, no momento em que a Espanha, sob a pressão dos mercados, preocupa os investidores. Ele também pediu que a União Europeia defendesse a solidez das contas públicas dos países membros.
Para o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, o desejo da instituição é que a Grécia permaneça no euro, mas não cabe ao BCE decidir. Draghi alertou sobre os efeitos não tangíveis que seriam gerados pela saída de um de seus membros e disse que o BCE continuará exercendo suas funções, independentemente do que aconteça.
Contudo, muitas figuras políticas comentaram sobre a possibilidade de a Grécia deixar a moeda única esta semana. O presidente do Banco Central da Bélgica, Luc Coene, foi um deles. Ele declarou ao jornal econômico britânico Financial Times sobre a possibilidade de um "divórcio amistoso". A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, também aventou essa possibilidade pela primeira vez.
O partido grego Syriza fala abertamente de "anular" as medidas de rigor impostas pela UE e pelo FMI em troca de multimilionários empréstimos ao país. O anúncio de uma nova eleição fez o euro cair na terça-feira abaixo dos 1,28 dólar pela primeira vez em quatro meses.