Apesar de a Espanha estar no olho do furacão dos mercados financeiros e ser vista como a próxima vítima a ser engolida pela crise das dívidas soberanas na Europa, é a Bovespa que acumula uma desvalorização em dólar mais acentuada do que os principais mercados acionários no mundo, inclusive a Bolsa de Madri. Segundo levantamento feito pela Legan Asset que considera os últimos dois meses e usa o dólar como um deflator comum, a Bolsa brasileira apresenta um mergulho superior a 10% em relação a algumas bolsas estrangeiras. Na comparação com o índice espanhol IBEX-35, por exemplo, a queda relativa é de 7%.
O estudo mostra que a Bolsa paulista passou de "mocinha a vilã" desde o agravamento da crise soberana na zona do euro e o receio com o ritmo da atividade na China e nos Estados Unidos, entre a segunda semana de março até esta semana de maio. De acordo com a empresa de gerenciamento de ativos, o Ibovespa está aquém dos mercados que formam o grupo dos BRICS, bem como de outras bolsas emergentes e alguns "mercados maduros".
Todavia, a arrancada da Bolsa no início de 2012 havia colocado a renda variável brasileira entre as de melhor performance global, acumulando uma valorização de quase 20% até o início de março. Agora, porém, o Ibovespa acumula queda ao redor de 4% no ano, até a quinta-feira, em moeda nacional, e de pouco mais de 10%, no mesmo período, em moeda estrangeira.
Para o sócio e gestor da Legan Asset, Ivan Kraiser, o comportamento da Bolsa nesse período reflete não só o cenário de maior aversão ao risco no exterior, que culminou com a diminuição do apetite do investidor estrangeiro pelas ações brasileiras, mas também fatores internos. "Essa questão da interferência do governo em ações e setores específicos agrediu o comportamento do mercado", avalia.
O "tombo" relativo do Ibovespa em dólar em comparação às bolsas da China e da Índia é de 30% e 18%, respectivamente. A Bolsa da Rússia é a que mais se aproxima da queda do mercado acionário brasileiro. O desempenho da Bovespa está apenas 5% abaixo do desempenho da bolsa russa. É válido ressaltar que tanto a Bolsa russa quanto a Bovespa acumulam queda superior a 20% em relação aos seus picos de pontuação do ano.
Entre outros mercados emergentes, destacam-se também a depreciação do Ibovespa ante a Bolsa do México e da Coreia do Sul, de 20%, para cada uma. E o índice Kospi sul-coreano está no menor nível do ano, com as sucessivas retiradas de capital externo daquele mercado. Já na comparação com os mercados norte-americanos, a Bovespa também levou uma rasteira. O Ibovespa acumula uma queda relativa em dólar de 23% em relação ao S&P 500.