A Grécia entrou novamente em campanha eleitoral para as legislativas de 17 de junho, em meio a temores cada vez mais acentuados sobre um possível afastamento do país da zona do euro e uma forte turbulência dos mercados.
Esta será a segunda eleição em menos de dois meses, o que agrava a incerteza política e a ansiedade dos credores, UE, BCE e FMI, que duvidam da vontade dos gregos em prosseguir com a austeridade fiscal, imposta desde 2010, após a vitória dos partidos contrários ao rigor nas eleições de 6 de maio.
Na origem das preocupações está a ascensão do partido de esquerda anti-austeridade Syriza, que ficou em segundo lugar na votação do início de maio, atrás do partido de direita Nova Democracia, quadruplicando o resultado na comparação com as eleições legislativas em 2009.
A campanha eleitoral, que deverá girar em torno da questão da permanência do país na zona do euro e no prosseguimento das medidas de austeridade, poderá se transformar em um duelo entre a Nova Democracia (ND) e o Syriza.
Na semana passada, o Syriza aparecia em primeiro lugar nas intenções de votos, mas uma nova pesquisa divulgada nesta sexta-feira pelo jornal conservador Eleftheros Typos e realizada pelo Intituto Marc aponta a direita em primeiro lugar, com 23,1% dos votos, contra 21% para o Syriza e 13,2% ao PASOK (socialistas).
Mas, mesmo antes da votação, os títulos gregos já não têm quase nenhum valor nos mercados mundiais.
A agência de classificação financeira Fitch reduziu na quinta-feira ainda mais a nota de longo prazo da dívida em moeda estrangeira, de "B-" para "CCC", citando um "risco elevado" de saída do país da zona do euro.
Em termos políticos, a instabilidade aumentou após o fracasso dos líderes dos partidos em formar um governo de coalizão depois da fragmentação do Parlamento nas eleições de maio.
A volta às urnas vai provocar mais atrasos no plano de ajuste das finanças do país e alguns investidores temem que a Grécia abandone completamente seus esforços e compromissos.
Já o processo de privatização, ditado pela UE e FMI, foi suspenso até as próximas eleições.
O FMI também anunciou na quinta-feira que suspenderia os contatos com Atenas até as legislativas, em consequência do estabelecimento na quinta-feira de um governo interino na Grécia, que só pode administrar os negócios diários, privando o Parlamento de legislar.
O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaeuble, pediu nesta sexta-feira que a Grécia "continue na Europa". Mas "isto pressupõe que o país faça o que for necessário para encontrar um desenvolvimento econômico mais saudável", advertiu.
Em relação ao nervosismo do mercado, ele considera que o "apaziguamento" levará de 12 a 24 meses para acontecer.
O presidente do Parlamento Europeu, o social-democrata alemão Martin Schulz, em visita a Atenas, afirmou nesta sexta-feira que uma saída da Grécia da Eurozona não seria "o fim de um desenvolvimento negativo, mas o início de algumas mudanças ainda mais negativas".
Durante um encontro com o presidente grego Karolos Papoulias, lamentou o fato de que "nós falamos da Grécia, mas nunca com os gregos".