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Estado de Minas

Aéreas investem para vender caças

A americana Boeing, a sueca Saab e a francesa Dassault intensificam ações na reta final da disputa por contrato


postado em 21/05/2012 07:08 / atualizado em 21/05/2012 08:04

Washington (EUA) – A pouco mais de um mês do fim do prazo previsto para que a presidente Dilma Rousseff escolha de qual companhia comprará 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), numa negociação estimada em R$ 10 bilhões, as três finalistas na concorrência brasileira – a sueca Saab, a norte-americana Boeing e a francesa Dassault – estão apostando alto para ganhar o lucrativo contrato. A Boeing, que concorre com o avião Super Hornet, desembolsou US$ 5 milhões desde 2009 na campanha para emplacar o seu caça.

O Super Hornet está na disputa com o Gripen, da Saab, e o Rafale, da Dassault. Nos esforços para estreitar as relações entre os governos norte-americano e brasileiro, a Boeing não só está estruturando um escritório em São Paulo como também anunciou que, ainda este ano, instalará um centro de pesquisa e tecnologia aeroespacial no país.

Linha de montagem do Super Hornet, da fabricante norte-americana, que já desembolsou US$ 5 milhões na campanha para vencer a concorrência(foto: Cristiane Bonfanti)
Linha de montagem do Super Hornet, da fabricante norte-americana, que já desembolsou US$ 5 milhões na campanha para vencer a concorrência (foto: Cristiane Bonfanti)

Em outubro, a companhia norte-americana anunciou um acordo de cooperação com a Empresa Brasileira Aeronáutica (Embraer) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver um programa de biocombustíveis para o setor de aviação. Embora a presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, embaixadora americana no país de 2002 a 2004, negue que os investimentos tenham qualquer relação com as negociações do projeto F-X2, para a compra dos caças, a companhia dá sinais claros de que quer ganhar espaço no Brasil, que tem apresentado economia sólida no cenário mundial.

Segundo Dana Dacharoeden, gerente da campanha F-X2 da Boeing, as ações organizadas desde 2009 envolveram não apenas os estudos para conhecer os anseios da presidente Dilma como também o envio de especialistas ao Brasil para conversar sobre detalhes do Super Hornet. “Também recebemos uma série de visitas de militares brasileiros para fazer testes”, observou. Ele ressaltou, ainda, que, diante do destaque que o país tem conquistado na economia mundial, a empresa avalia constantemente que outros projetos podem ser implementados. Apesar do esforço, Dachroeden tem consciência de que a decisão é muito mais complicada. “A Dilma vai escolher.”

Sem acordo
As negociações para a compra dos 36 caças se arrastam desde o governo Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a declarar apoio à francesa Dassault em 2008, mas não fechou negócio. Agora, o ponto mais sensível para a presidente Dilma tem sido a transferência de tecnologia. O Palácio do Planalto quer ter acesso aos métodos e materiais de produção e ao conhecimento integral para executar todos os passos que permitam montar um caça no Brasil.

As concorrentes, cada uma do seu jeito, têm tentado amenizar os questionamentos de que a transferência de tecnologia será limitada e não irrestrita, como estabelece o F-X2. Os Estados Unidos ficaram com a pecha de não cumprirem a sua palavra, após terem suspendido, no início do ano, um contrato de US$ 356 milhões com a Embraer para a compra de 20 aviões de defesa Super Tucanos da fabricante brasileira. Entre os argumentos da Casa Branca para a impugnação do contrato estão o de que a preferência por um fornecedor estrangeiro impediria a criação de 1,4 mil empregos em 20 estados norte-americanos, mas a alegação não convenceu Dilma.

Em entrevista a jornalistas brasileiros, o governo norte-americano confirmou que não poderá ceder em um ponto considerado estratégico pela presidente. O principal secretário assistente do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Thomas Kelly, afirmou que, embora o Brasil tenha sido incluído no “grupo de elite” dos parceiros comerciais do país, ao lado de economias como Reino Unido e Japão, os Estados Unidos não repassarão o código-fonte — que dá acesso irrestrito às informações da aeronave — do caça F-18 Super Hornet caso a Boeing vença a licitação. “O Brasil está no nível de transferência de tecnologia mais alto que podemos oferecer. Mas não fornecemos os códigos-fontes a nenhum país do mundo”, disse.

* A repórter viajou a convite da Boeing

Aposta no mercado do país

Saint Louis e Seattle (EUA) – A crise financeira vivida nos países desenvolvidos mudou as prioridades das grandes corporações. Se antes os olhos das companhias de aviação brilhavam por países como Alemanha e Japão, agora essas empresas direcionam cada vez mais seus investimentos para as economias em desenvolvimento, especialmente para o Brasil. Elas querem tirar proveito, por exemplo, do crescimento do tráfego aéreo entre países da América do Sul, que avançará em média 7% ao ano até 2030.

De acordo com levantamento da Boeing, no caso dos voos entre a América do Norte e a do Sul, o crescimento será de 7,1%, e entre a América do Sul e a Europa, de 5,1% no mesmo período. Não à toa, a companhia norte-americana conta com a ajuda dos mercados emergentes para alcançar, até o fim de 2013, a meta de 30% do seu faturamento no setor de defesa fora dos Estados Unidos. Hoje, esse índice é de 24%. Há cinco anos, era de apenas 7%.

Segundo Dennis Muilenburg, presidente da área de defesa, espaço e segurança da Boeing, a estratégia busca minimizar o impacto da desaceleração da receita com as vendas para as Forças Armadas dos Estados Unidos, que têm reduzido o ritmo de aquisição de equipamentos. “Estamos acelerando os nossos negócios no mercado internacional. Isso reflete as mudanças na economia mundial”, disse.

A seu ver, uma eventual derrota da Boeing na disputa para vender os 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) poderia até prejudicar algumas parcerias da norte-americana com o Brasil. No entanto, ele observou que a companhia desenvolve projetos mais amplos no país. “Vemos o Brasil como um relacionamento de longa duração”, explicou.

Além dos Estados Unidos, a Suécia e a França estão investindo pesado não apenas para ganhar o contrato de R$ 10 bilhões para a venda dos caças, mas também para participar do que pode ser a maior fase de crescimento do setor de aviação nas últimas três décadas. A sueca Saab, que concorre no FX 2 com o caça Gripen NG, inaugurou, no ano passado, o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CIBS), em São Bernardo do Campo (SP). Em março deste ano, na tentativa de conquistar apoio, o presidente da empresa, Hakan Buskhe, acompanhou o presidente do Parlamento sueco, Per Westerberg, em visita ao Brasil. Na ocasião, ele garantiu que enviaria os códigos-fonte dos sistemas dos aviões e que o Brasil seria responsável por 40% do desenvolvimento das aeronaves e por 80% da fabricação das estruturas.

A Dassault, que entrou no páreo para vender para o Brasil os caças Rafale F3, tem adotado estratégia parecida. Além de prometer transferir tecnologia de forma irrestrita, ela iniciou trabalhos conjuntos com instituições de ensino, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para desenvolver pesquisas nos setores de educação e ciências espaciais. (CB)


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