O setor público, o comércio, a prestação de serviços e a construção civil garantiram a preservação do nível de empregos no país, mesmo em tempos de desaceleração do crescimento econômico por causa da indústria. Em abril, a taxa de desemprego caiu para 6% no Brasil, ante 6,2% em março, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado do mês passado é o melhor para abril desde 2002, início da série histórica. O levantamento inclui seis regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador). Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a taxa de desocupação em abril foi estimada em 5%, a segunda menor do país, atrás apenas de Porto Alegre (4,7%).
Na capital mineira, em abril de 2012 frente igual período do ano passado, os setores que puxaram a criação de empregos para baixo foram a indústria extrativa e de transformação, produção e distribuição de eletricidade, gás e água e serviços domésticos, que, juntos, perderam 32 mil vagas. Mesmo sendo apenas uma parte do resultado, pelo menos no caso da indústria de transformação, a situação já provoca preocupação. De acordo com o João Alves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e Bicas, na Teksid, fabricante de peças fundidas para caminhões pesados, foram demitidas 100 pessoas no período.
Lincoln Golçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), explica, no entanto, que há outras indústrias demitindo, embora de forma pulverizada. “Isso é pior do que se fosse em um setor só. Indica que a indústria nacional perdeu fôlego”. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a taxa geral de desocupação em abril foi menor do que a de março, que ficou em 5,1%. De acordo com Antônio Braz, analista do IBGE em Minas, o desempenho negativo do emprego na indústria tem a ver com a situação macroeconômica do país. “Está havendo uma mudança em termos de composição da atividade. A indústria está perdendo peso e o comércio vem ganhando”, diz.
Contratações
Na comparação com março de 2012, houve crescimento do emprego nas atividades do comércio, reparação de veículos e de objetos pessoais, intermediação financeira e atividades imobiliárias. Fábio Attie, franqueado das lojas O Boticário na Região Norte de BH, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia, acaba de abrir as portas de uma nova unidade no shopping Estação BH, em Venda Nova. Para isso, contratou cinco pessoas em abril e pensa em contratar mais duas. Além disso, foram mais oito contratações diretas de vendedoras que levam os produtos O Boticário de porta em porta. “Os salários das consultoras ficam, em média, em R$ 1.300 e o das gerentes em R$ 2.500, dependendo do resultado das vendas”, diz.
Na RMBH, o rendimento real dos ocupados foi de R$ 1.687,70 em abril, um crescimento de 10,5% frente a igual mês de 2011 e de 0,5% ante março deste ano. Para o Brasil, o valor foi de R$ 1.719,50, um aumento de 6,2% em comparação com abril de 2011 e queda de 1,2% em relação a março de 2012. A queda no desemprego apurada no mês passado no país, porém, não significa que o mercado de trabalho voltou a contratar. Cimar Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, explica que, embora tenha havido queda de 75 mil pessoas na desocupação, esse número não varia estatisticamente. "O mercado está parado, significa que deixou de dispensar trabalhadores." Segundo o gerente do IBGE, o crescimento de 63 mil pessoas na população ocupada, um aumento de 0,3% ante março, não é significativo em razão da margem de erro da amostra.
Microempresa emprega 70%
As micro e pequenas empresas (MPE) geraram aproximadamente 70,2% dos postos de trabalho com carteira assinada no mês de abril de 2012. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). “As micro e pequenas empresas têm mantido a média de gerar sete a cada 10 empregos formais no Brasil, o que é uma demonstração da força desse segmento na economia brasileira”, destacou o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, em nota distribuída ontem.
De acordo com o Sebrae, 54,4% das vagas nas micro e pequenas empresas foram em empreendimentos com até quatro empregados, quanto os que têm entre 20 e 99 funcionários responderam por 8,9% dos postos de trabalho abertos no mês passado. Na faixa intermediária (de cinco a 19 empregados), estão 6,9% das vagas formais.
De acordo com os números do Caged, em abril de 2012 houve geração de 216.974 vagas celetistas. O valor equivale a uma expansão de 0,57% na quantidade de assalariados, em relação ao mês anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, 1,73 milhão de postos de trabalho foram criados, com um crescimento de 4,64% do contingente.
Ainda segundo o cadastro do Ministério do Trabalho, em abril deste ano houve expansão em todos os oito setores de atividade econômica. Os que mais contribuíram para o desempenho positivo foram Serviços, Construção Civil e Comércio, nessa ordem. O setor de Serviços contratou 82.875 trabalhadores e o da Construção Civil, 40.606 pessoas.
O Caged mostra ainda que São Paulo liderou a abertura de vagas nas micro e pequenas empresas, seguido por Minas Gerais e Paraná. Pelo recorte geográfico, registrou-se crescimento em quatro das cinco regiões brasileiras. A exceção ficou com o Nordeste, que apresentou uma queda de aproximadamente 0,08% nas carteiras assinadas por questões sazonais ligadas às atividades sucroalcooleiras.