O Brasil está diversificando sua pauta de exportações. Produtos considerados exóticos e muitas vezes de pouco valor para os brasileiros estão levando o país a abrir portas fora de suas fronteiras. Pés de galinha, óleo de babaçu, peixes ornamentais, fios de cabelo, fogos de artifício e até baralhos e escovas de dente figuram na variada lista de itens vendidos ao exterior. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) levantados a pedido da reportagem mostram que, somente no ano passado, a venda de miúdos de frango — como pés, coração, moela — para o exterior movimentou US$ 4,4 bilhões, um aumento de 25,7% ante 2010.
Nos primeiros quatro meses deste ano, o valor chegou a US$ 1,4 bilhão. O principal mercado consumidor é o Japão, seguido de Hong Kong, China, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Cingapura e África do Sul. "Os países orientais compram muitos produtos que, aqui no Brasil, não são considerados apetitosos. As garras de frango, por exemplo, são utilizadas em cardápios nobres", afirma Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
Jean Cury, coordenador geral de acordos bilaterais e regionais do Ministério da Agricultura, explica que na China, o pé de frango, além de fazer parte do cardápio, tem alto valor por ser rico em colágeno. Não à toa, o governo brasileiro está atento ao mercado potencial e quer aumentar as exportações. "O produto pode ser usado para a fabricação de cápsulas de medicamentos", diz Cury.
Além das miudezas, destacam-se as barbatanas de tubarão, que, pela primeira vez, estão saindo do país. Nos quatro primeiros meses deste ano foram exportados 8,2 mil quilos do produto, por US$ 386 mil. Desse total, 7,4 mil quilos foram para Hong Kong e 795 quilos para o Japão. No Oriente, elas são utilizadas em um prato tradicional, a sopa de barbatanas de tubarão.
Na avaliação de Ivan Ramalho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), a descoberta de um mercado tão diversificado é uma boa notícia para as companhias brasileiras em meio a um cenário de crise econômica mundial. "O avanço das exportações mostra que nossas empresas são competitivas e têm condições de se defender lá fora ", ressalta.
A venda de óleos de babaçu é um bom exemplo de conquista de mercado. Em 2011, foram exportados 44,8 mil quilos do produto, usado na fabricação de sabonete e cosméticos. O faturamento foi de US$ 221,2 mil, quatro vezes mais do que o de 2009. Entre janeiro e abril deste ano, as vendas chegaram a US$ 89 mil, principalmente para os Estados Unidos, a Itália, a Nova Zelândia e o México.
Outras curiosidades são as vendas de fio dental, cabelo e escovas de dentes, com exportações no ano passado de US$ 13,1 milhões, US$ 98,4 mil e US$ 11,4 milhões, respectivamente. A tapioca também figura na lista de exportações. Entre janeiro e abril deste ano, foram nada menos que 310,6 mil quilos enviados para fora, que movimentaram US$ 383,5 mil. Em todo o ano passado, foram 1,2 milhão de quilos, ao preço de US$ 1,4 milhão. Os principais compradores são Estados Unidos, México, Reino Unido e Portugal.