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Estado de Minas

Salários na indústria mineira sobem muito acima da produtividade

Nos últimos 10 anos, a folha de pagamento das fábricas mineiras teve avanço de 57,2% e o ganho de eficiência na produção cresceu 17,8%. Mão de obra e tecnologia travam o setor


postado em 28/05/2012 06:44 / atualizado em 28/05/2012 08:54

Com maior exigência de qualificação profissional, indústria metalmecânica é mais eficiente do que a de confecções, um dos setores da economia brasileira que mais precisam avançar para garantir competitividade(foto: (Jair Amaral/EM/D.A Press ))
Com maior exigência de qualificação profissional, indústria metalmecânica é mais eficiente do que a de confecções, um dos setores da economia brasileira que mais precisam avançar para garantir competitividade (foto: (Jair Amaral/EM/D.A Press ))
Atrás da tão almejada eficiência das economias desenvolvidas, a indústria mineira ganhou produtividade na última década, mas a um fôlego bem mais modesto que o avanço dos salários dos trabalhadores. A folha de pagamento do setor, que hoje virou alvo das medidas do governo federal para reanimar a economia, cresceu três vezes mais do que os ganhos das fábricas medidos pela produção física por empregado nos últimos 12 meses até março, comparados a 2002. O descompasso serve de alerta para a necessidade de mais investimentos nos principais fatores de sucesso no Primeiro Mundo: a qualificação da mão de obra, o aumento da escolaridade e a incorporação de tecnologia nos processos produtivos.

Enquanto a folha real (descontada a inflação) dos salários da indústria mineira aumentou 57,2% na última década até março, a produtividade cresceu 17,8%, conforme estudo feito pelo analista Antônio Braz de Oliveira e Silva, do escritório regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na indústria de transformação, os números foram ainda mais tímidos, uma expansão 14,8%, frente à elevação de 55,4% dos salários. A rigor, não se trata de um fenômeno nas empresas de Minas.

A indústria brasileira está 20,6% mais eficiente relação ao começo da década (2002), ao passo em que a folha de salários ficou 28% mais cara. No cenário atual de queda da produção industrial e de escassez de mão de obra qualificada, é pouco provável que esses movimentos mudem de trajetória. “Não há nenhuma indicação de que a valorização dos salários vai arrefecer. Num ambiente de produção industrial estagnada e emprego ainda crescente, para aumentar a produtividade as indústrias terão de adotar inovação e tecnologia”, diz Antônio Braz.

O levantamento dos indicadores foi feito com base nos dados da produção física da indústria dividida pela população ocupada na atividade, usando estatísticas regularmente publicadas pelo IBGE, assim como a evolução da folha de pagamento. O tema da produtividade não só é importante para a indústria, mas interessa ao país, tendo em vista que ela reflete a capacidade de toda a economia competir no mercado internacional, destaca Guilherme Veloso Leão, gerente de estudos econômicos da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “Se o trabalhador produz mais valor num bem ou serviço, isso significa geração de renda, empregos e de tributos, aumentando a condição do país de investir. São reflexos essenciais no crescimento econômico”, afirma.

A busca de eficiência preocupa mais em Minas, porque além dos níveis menores da produtividade, em comparação ao desempenho da média nacional, as taxas de crescimento estão longe de acompanhar a performance das economias desenvolvidas. Analisando dados de uma série de fontes de pesquisa, a Fiemg verificou que a produtividade da indústria brasileira evoluiu a taxas de 2,2%, em média, ao ano, de 2002 a 2011. Em Minas, a variação foi de 1,45% anual, quando a indústria coreana apresentou variação de 7,8% anuais e as empresas norte-americanas do setor experimentaram um crescimento de 5,75% ao ano, também na média, no mesmo período.

Mais que as diferenças no ritmo de expansão da produtividade, preocupa o fato de o Brasil ter sofrido um retrocesso, observado pela Fiemg. Considerando todo o mercado de trabalho no país, em 1970, o trabalhador brasileiro produzia 21% da geração de valor do trabalho dos norte-americanos, percentual que baixou para 18,6% em 2010. Na comparação com os trabalhadores coreanos, a proporção baixou de 117% no início da década de 70 para 31% em 2010. Guilherme Veloso, da Fiemg, pondera o fato de que as estatísticas levantadas nesses países incluem indicadores da economia informal, que inflam as taxas de produtividade. Isso não invalida, no entanto, a condição desfavorável não só da indústria de Minas e do Brasil, como da economia brasileira.

Cenário instável
Bombardeada pela concorrência internacional no mercado brasileiro e nas exportações, a indústria de máquinas e equipamentos enfrenta um desafio adicional para melhorar os níveis de produtividade, uma vez que o setor depende da disposição de investimentos de outros segmentos que são seus clientes. É o caso das indústrias da mineração, siderurgia e petroquímicas. As mineradoras têm mantido um ritmo razoável de exploração, assim como a produção de petróleo, diferentemente do cenário de instabilidade do consumo de aço, avalia Petrônio Machado Zica, sócio-proprietário do grupo Delp Engenharia e vice-presidente da Fiemg.

“A atualização tecnológica da indústria é cara, o que agrava a busca por produtividade. Os juros mais baixos para os investimentos no Brasil (medida recente estimulada pelo governo) animam, mas a demanda pelos nossos produtos ainda está fraca”, afirma o industrial. O setor trabalha em Minas com uma ociosidade de 25% a 30%. O balanço da produtividade indica as indústrias automotiva, de papel e celulose e a metalúrgica como as mais produtivas. As confecções estão entre os segmentos que mais necessitam correr atrás de índices maiores.

Falta de trabalhadores afeta competitividade
A escassez de mão de obra, que contribuiu com a elevação dos salários nas fábricas, dificulta o caminho da indústria em direção a taxas mais alentadas de eficiência na produção. Além de trabalhar na melhora da qualificação dos seus empregados, as empresas precisam oferecer incentivos para reter o pessoal, lembra Hélder Mendonça, presidente da Forno de Minas, fabricante de alimentos congelados, entre eles o pão de queijo exportado para países das Américas e da Europa. “Outra dificuldade é que a indústria brasileira recebe trabalhadores mal preparados diante do baixo investimento do país na escolaridade da população”, diz o industrial.

Da fábrica de Contagem, na Grande Belo Horizonte, Hélder Mendonça comanda uma política constante de treinamento, conjugada a incentivos para os trabalhadores fortalecerem a formação escolar. A empresa paga até 100% das despesas do trabalhador com educação, por meio de um programa de bolsa ensino, desde que ele cumpra metas de assiduidade e desempenho na escola. Benefícios como seguro de vida e Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) se destacam na estratégia de retenção da mão de obra, sobretudo a masculina, a mais escassa.

Antônio Braz Silva, do IBGE, chama a atenção para o reflexo da valorização do salário mínimo nos últimos anos sobre o crescimento dos salários no Brasil, efeito potencializado pelo crescimento econômico desde 2007, só interrompido pela queda de 2009 da soma da produção de bens e serviços, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB). “Os reajustes do salário mínimo acabaram se tornando piso para a correção salarial das categorias profissionais mais valorizadas”, afirma.

Os trabalhadores ganharam, embora uma parte da indústria esteja demitindo empregados com mais tempo de casa para contratar mão de obra barata, pondera João Alves de Almeida, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte. “Não vamos nos esquecer que a produtividade se mantém elevada. A escassez de mão de obra deverá continuar com o aquecimento da mineração e da construção civil, que atraem a mão de obra empregada na indústria”, afirma.

A elevação dos salários tende a permanecer, mas acomodada em níveis menores, na avaliação de Henrique Almeida, presidente interino do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Esse movimento deve caminhar em paralelo aos programas de qualificação de mão de obra, que, para o sindicalista, devem ser mais debatidos com os trabalhadores. “O Plano Brasil Maior (programa do governo Dilma Rousseff criado como incentivo à indústria brasileira) apoia investimentos em tecnologia, inovação e qualificação de mão de obra”, lembra o sindicalista.


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