Reduzir juros diante do atual quadro econômico, com a inflação se distanciando da convergência para o centro da meta, seria um contrassenso do Comitê de Política Monetária (Copom), avalia o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil) Jankiel Santos. "Não é de agora que achamos que o Banco Central (BC) deveria parar de cortar juros e aguardar os efeitos dos estímulos que o governo já concedeu à economia", diz Santos.
Na terça-feira, começa a reunião de dois dias do Copom para definir o nível de juros de referência da economia brasileira (Selic) para os próximos 41 dias. É consenso no mercado que o colegiado vai derrubar pela sétima vez consecutiva a taxa de juros nominal do País. Segundo levantamento feito na semana passada pelo AE Projeções com 80 instituições, 67 esperam um corte de 0,50 ponto porcentual da atual Selic de 9% ao ano; 12 acreditam na manutenção do corte em 0,75 ponto e apenas uma casa aposta em 0,25 ponto porcentual.
"Acho que o BC deve parar de cortar juros porque há todos os estímulos já concedidos e a inflação corrente, vista pela perspectiva dos núcleos (do IPCA), não dá mostras de acomodação" observa Santos.
No tocante à atividade, o economista do Besi recorre às medidas de Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria, que têm se mantido relativamente estáveis e próximas ao pico. Segundo dados da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação divulgados nesta segunda-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Nuci de maio ficou em 84%, ante 83,9% em abril, e atingiu o maior nível desde julho de 2011, quando o indicador era de 84,1%. "É um indicador muito forte para um País que, para alguns, passa por um forte processo de desindustrialização", analisa Santos.
Em relatório divulgado no fim de semana, assinado em parceria com seu colega Flávio Serrano, Santos chama a atenção para o fato de que "o que todos desejam saber é se os diretores do BC vão realmente levar em conta todos os incentivos já concedidos e também que já cortaram 3,5 pontos porcentuais da Selic (desde agosto de 2011) para decidirem por um movimento mais brando do que o 0,75 ponto porcentual implementado nas duas últimas reuniões".
"Nossa visão é de que reduzirão a Selic em 0,50 ponto porcentual", escreveram os dois economistas, ponderando, no entanto, que não consideram esta a decisão mais correta, dado que tanto as condições atuais quanto as expectativas de mercado sobre o ambiente inflacionário continuam não apontando um quadro reconfortante e a atividade econômica está longe de ser catastrófica.