O grupo britânico Diageo, fabricante do whisky Johnnie Walker, da vodka Smirnoff e de outras bebidas alcoólicas premium, anunciou ontem a compra da unidade de destilados da Ypióca, que está há 165 anos no mercado. A negociação, que durou aproximadamente um ano, foi encerrada em US$ 469 milhões – quase R$ 900 milhões. Segundo a empresa britânica, a expectativa é concluir a transação em um mês e o objetivo é que com a nova aquisição o grupo aumente sua presença nos mercados emergentes. Com o negócio, a Diageo visa também ampliar a participação da Ypióca no mercado brasileiro, atualmente em 8%. Hoje, a cachaça registra 70% de suas vendas no Ceará e a intenção da empresa é buscar a expansão tanto para o Nordeste quanto para o resto do Brasil, além de fortalecer as marcas da Diageo no Nordeste. “O objetivo é que o nosso grupo se beneficie da malha de consumidores da Ypióca no Nordeste, assim como a Ypióca se beneficie da malha de consumidores da Diageo”, explicou o presidente da Diageo para o Brasil, Uruguai e Paraguai, Otto Von Sothen.
A estimativa de faturamento da empresa após a nova aquisição não foi divulgada pelo grupo, que também optou por não adiantar quais são os números esperados para este ano. Sothen revelou apenas que a expectativa é de que o faturamento continue crescendo na mesma proporção do que foi alcançado no último ano. “Posso dizer apenas que em 2011 tivemos um crescimento global de 23% e que continuamos com metas agressivas para este ano, sempre com dois dígitos para todas as categorias”, antecipa. O presidente adiantou ainda que, para a categoria de cachaças, a intenção da empresa não é descontinuar os trabalhos já desenvolvidos pela unidade de destilados, mas sim fazer com que o negócio cresça, ampliando o seu público.
É esperado que o grupo trabalhe também voltado para as demandas da classe média brasileira, que aparece cada vez mais no consumo das bebidas alcoólicas mais caras. “Vamos conservar o nosso portfólio extra premium, mas a nossa estratégia tem que ser adaptada a uma nova realidade, já que além da classe A – uma das nossas principais clientes –, a classe média também tem apresentado consumo crescente dos nossos produtos” explica. Para comercializar tanto os antigos produtos do grupo quanto a cachaça Ypióca, a empresa vai se beneficiar dos 250 mil pontos de venda da Ypióca, além de agregar 150 mil pontos de venda da própria Diageo, que já vendem as marcas Johnnie Walker e Smirnoff.
Família
O atual presidente e sócio-controlador da Ypióca, Everardo Telles, permanece no conselho consultivo da empresa durante a transição durante os próximos dias, mas sem função executiva. O bisneto do fundador, Dario Telles de Menezes, fica com outros sete ramos de atuação. Permanecem no grupo Ypióca, gerido por Telles, marcas de água mineral, um complexo turístico, indústrias de fabricação de embalagens, papel higiênico, produção de cana-de-açúcar, produção de feijão, leite e criação de suínos.
A compra engloba a unidade de Paraipaba, no Ceará, a fábrica de envasamento em Messejana, em Fortaleza, e os centros de distribuição de Messejana e o de Guarulhos, em São Paulo. As fábricas do Ceará Mirim, no Rio Grande do Norte, Pindoretama, Acarape e Jaguaruana, no Ceará, continuam com a família Telles, mas com contrato de produção de cachaça com exclusividade para a Diageo. (Com agências)
Divulgação também favorece artesanais
Para quem produz a cachaça em Minas Gerais, a venda da Ypióca é o resultado de um mercado que está em ascensão e que tem amadurecido. O estado, porém, aponta um movimento diferente do registrado pelos produtores industriais, já que por aqui a atividade é basicamente artesanal. “Cerca de 80% do mercado é ocupado pelas cachaças industriais, que têm grande mérito ao levarem a bebida para o exterior. Foram as indústrias que fizeram com que o mercado evoluísse”, lembra a gerente de marketing e comercial da cachaça Vale Verde, Nayara Corrêa.
Ela reforça ainda que as diferenças entre as bebidas industriais e artesanais devem ser consideradas, mas que as características da bebida artesanal não afastam o possível interesse de grandes empresas. “Pelo contrário, alguns alambiques que tenham o processo bem definido para ampliar os modelos de produção poderão ser sondados porque, à medida em que o mercado vai sendo educado, ele pede produtos de qualidade, que sejam fabricados de maneira mais exclusiva, como os nossos, que são premium”, lembra.
Enquanto empresas como a Diageo optam por investir na indústria da cachaça, alguns alambiques mineiros já experimentam a ampliação de seus negócios por meio da oferta de exportações. Segundo Nayara, o Alambique Vale Verde, é frequentemente sondado por empresas interessadas na exportação do produto para Europa, América do Norte e África. “Temos o interesse em exportar, mas há um ano e meio estamos desenvolvendo uma série de pesquisas para verificar os locais onde a bebida poderá ser comercializada inicialmente”, lembra a gerente.
A Copa do Mundo de 2014, e as Olímpiadas, em 2016, devem impulsionar ainda mais a comercialização e exportação da cachaça. “Assim como aconteceu com a tequila na Copa do México, deverá acontecer com a nossa cachaça, que é a bebida típica do Brasil”, finaliza Nayara. (CM)