Para sanear o Bankia, quarto maior banco da Espanha, e as problemáticas regiões autônomas, o governo irá ao mercado, afirmou nesta terça-feira uma porta-voz do Ministério da Economia. O anúncio significa que Madri estaria mais disposta a realizar uma emissão de obrigações do que injetar diretamente títulos da dívida pública, uma opção que foi seriamente considerada durante muito tempo.
Apesar das intenções do país, a Espanha segue na mira dos mercados nesta terça-feira, que continuam duvidando de sua capacidade em assumir sozinha seus compromissos financeiros, especialmente agora que o país precisa socorrer bancos e comunidades autônomas em plena recessão.
"Os temores mantêm a incerteza sobre a situação do setor bancário na Espanha", disse em Bruxelas Amadeu Altafaj, porta-voz da Comissão Europeia. "Portanto, todos os esforços no sentido esclarecer a situação do setor bancário espanhol e as reestruturações necessárias são em benefício da economia espanhola", afirmou.
Nesta terça-feira o Banco da Espanha anunciou que a economia, que entrou em recessão no primeiro trimestre deste ano com um retrocesso de 0,3% do PIB, seguirá caindo no segundo, confirmando uma tendência avançada pelo governo.
Em uma tentativa de amenizar a situação, o governo espanhol anunciou que aprovará na sexta-feira a "mutualização" das emissões da dívida das regiões em uma tentativa de "reduzir a pressão" sobre estas comunidades autônomas, que têm cada vez mais problemas para obter financiamento nos mercados, afirmou à AFP a mesma fonte do Ministério.
Segundo a fonte, a mutualização possui a garantia do Tesouro e terá a forma de "hispanobônus": "o objetivo é reduzir a pressão sobre as regiões, que é maior que a pressão sobre o Estado de maneira geral. Inclusive há regiões que não podem ir aos mercados para obter financiamento", disse.
As 17 regiões autônomas, que desfrutam de grande autonomia, têm sido uma fonte constante de preocupações nos mercados, apontadas como responsáveis por três quartos do desvio orçamentário da Espanha em 2011.
O país registrou um déficit público de 8,9% do PIB, ao invés dos 6% prometidos, e as regiões, que haviam se comprometido a alcançar 1,3%, registraram um déficit acumulado de 2,94%. Este anúncio chega em um momento de extrema tensão nos mercados para a Espanha, que terá que realizar o resgate público mais caro de sua história, injetando 23,5 bilhões de euros no Bankia, o quarto maior banco do país.
O setor bancário é outra fonte de preocupação para os investidores, fragilizado após o estouro da bolha imobiliária de 2008. A isto se somaram os dados provisórios de venda ao varejo no mês de abril na Espanha, que recuaram 9,8%, sua maior queda mensal desde 2003, o que confirma a fragilidade da economia.
Com isso, o Ibex 35 da Bolsa de Madri perdeu 2,34% para fechar aos 6.251,70 pontos, derrubada pelos bancos, em particular o Bankia, que perdeu 16,25%, para 1,139 euros. No mercado de obrigações, a taxa de risco espanhola (juros pagos para financiar-se a dez anos com relação à taxa alemã, de referência) alcançou novo recorde desde a criação da zona do euro, a 515,5 pontos.
A desconfiança do mercado se deve principalmente ao fato de que o governo será obrigado a atuar em várias frentes para ajudar seu setor bancário e os executivos regionais, ambos fortemente debilitados desde o estouro da bolha imobiliária em 2008.