O Brasil está menos competitivo no cenário internacional. O país caiu duas posições no ranking da Fundação Dom Cabral (FDC) em 2011 e oito degraus nos últimos dois anos: passou do 38º lugar em 2009 para o 46º no ano passado, segundo a última edição do Índice de Competitividade Mundial 2012 (World Competitiveness Yearbook – WCY), divulgado pelo International Institute for Management Development (IMD). A pesquisa avalia as condições de competitividade de 59 países a partir da análise de dados estatísticos nacionais e internacionais e com pesquisa de opinião envolvendo 4,2 mil executivos.
O ranking apontou Hong Kong, Estados Unidos e Suíça como as economias mais competitivas do mundo. O Brasil passou da 44º posição para a 46º, segundo a pesquisa. “A queda de posição em 2011 foi consequência do ano anterior. O Brasil vem perdendo em produtividade. O país não consegue gerar riqueza para sustentar o crescimento. Com isso, pode ter que diminuir o ritmo de expansão nos próximos anos”, afirma Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral e responsável pela coleta e análise dos dados da pesquisa relacionados ao Brasil.
Apesar de os EUA ocuparem o segundo lugar no ranking e terem perdido posição para Hong Kong, a nação permanece no centro da competitividade mundial, em função do seu poder econômico, do dinamismo de suas empresas, da sua capacidade de inovação e do relacionamento da economia com todas as demais nações avançadas ou emergentes. “Os Estados Unidos ainda são o centro do mundo, do ponto de vista de tecnologia, novos produtos e multinacionais. Os movimentos que acontecem lá não são isolados. Quando há uma crise, o resto do mundo é abalado”, explica Arruda. O relatório de 2012 foi influenciado pela recessão mundial e mostra que o mundo está cada vez mais dependente dos EUA para sair da crise.
O modelo de sucesso dos países que ganharam posições no ranking, como Suíça, Noruega e Alemanha, está baseado no crescimento do comércio internacional, na participação de pequenas e médias empresas, na sustentação da indústria e na disciplina fiscal. Já os que perderam competitividade mostram recuo na participação no comércio internacional, redução da presença da indústria na economia, e descontrole fiscal.
O índice de competitividade é resultado da combinação de mais de 300 variáveis agrupadas em quatro fatores: performance econômica, eficiência de governo, eficiência dos negócios e infraestrutura. Na performance econômica, o Brasil perdeu 17 posições de 2011 para 2012, passando do 30º lugar para o 47º lugar.
PIB
No caso brasileiro a variável crítica para a perda desse fator está relacionada ao recuo apresentado no crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), que teve crescimento tímido entre os anos de 2010 e 2011: variou de R$ 2,1 trilhões para R$ 2,47 trilhões. Apesar de todo o aquecimento da economia e da expansão da renda, o levantamento avaliou que a economia do país não está crescendo em ritmo adequado. Dentro do desempenho econômico, o Brasil perdeu 15 posições na economia doméstica, que leva em conta a variação do PIB e o poder de compra das famílias. Mas ganhou cinco posições no quesito emprego, no qual ocupa o sexto lugar no ranking mundial, saindo da 11º posição, onde estava em 2011.
“É um país que está com disponibilidade de mão de obra e baixa taxa de desemprego, mas em vagas com menor qualificação”, analisa Arruda. É o caso, por exemplo, dos trabalhadores da construção civil. Só para se ter ideia, há hoje cerca de 150 mil trabalhadores da construção civil na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte e Região (Sticbh). O déficit de trabalhadores para o setor na mesma região é de 20 mil vagas.
Metodologia levanta polêmica
O levantamento da Fundação Dom Cabral (FDC) tem controvérsias. Na avaliação de Cleyton Campanhola, diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi), o índice tem limitações metodológicas, como natureza muito conjuntural, sem refletir o histórico e tendências econômicas. “Esse é o ponto crítico. Algumas variáveis são tomadas em entrevistas, onde há alto grau grande de subjetividade”, afirma Campanhola.
Ele cita, por exemplo, a distribuição de renda, que melhorou e não aparece na pesquisa. “Na indústria brasileira, realmente tivemos aumento de estoque de janeiro a março deste ano. Mas isso é esperado para o primeiro trimestre. O nível de emprego hoje é estrutural. Temos quase situação de pleno emprego”, aponta Campanhola.
A pesquisa da FDC faz avaliação distinta entre emprego e mercado de trabalho. Quando o assunto é o último item, o Brasil perdeu oito posições no ranking internacional. Passou do nono para o 17º lugar. Esse item avalia a disponibilidade de profissionais mais qualificados, como engenheiros e técnicos em áreas avançadas. “É esperado que, quando o país gera emprego, a renda também cresça. Mas isso não está acontecendo, pois os postos de trabalho estão sendo abertos para vagas de menor valor agregado”, explica o professor Arruda. Na parte de infraestrutura, o Brasil avançou seis posições, passando do 51º para o 45º lugar. “O pouco que já foi feito no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já traz efeito positivo nesse índice”, diz.
Das sete economias latino-americanas incluídas no relatório, seis perderam pontos no índice de competitividade em 2012. Só o México ganhou posição relativa e passou da 38º em 2010 para 37º em 2011. A Venezuela se manteve na última colocação, posição que ocupa desde 2003. Assim como os países latino-americanos, todos os denominados Brics (grupo dos países em desenvolvimento, incluindo África do Sul) tiveram perdas significativas em seus índices de competitividade. Apesar disso, a Rússia e África do Sul tiveram ganhos de uma e duas posições, respectivamente.
Corrida
Em Minas Gerais, a indústria perdeu competitividade na maioria das atividades nos últimos anos, avalia Lincoln Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). É o caso, por exemplo, das indústrias têxteis, eletroeletrônicas e de alimentos. “Estamos em processo de recuperação da competitividade, com muito investimento em inovação, educação e mão de obra qualificada. Mas é preciso lembrar que o efeito disso não é imediato. Levaremos algum tempo para colher os frutos”, avalia Fernandes. (GC)
SAIBA MAIS
Hong Kong, na China, é uma das duas regiões administrativas especiais do país–a outra é Macau –, uma espécie de cidade-Estado independente, com autonomia econômica e empresarial. Por isso é avaliada separadamente no ranking de competitividade, já que possui sistema econômico diferenciado do chinês. A cidade era colônia britânica até 1997, quando a China retomou a soberania sobre o território, e tem uma economia capitalista, caracterizada pelo baixo nível de impostos e pelo livre comércio, o que atrai investimentos de todo o mundo e faz da bolsa de valores local uma das mais sofisticadas do planeta.