O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano não surpreendeu o mercado, segundo o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) Armando Castelar. De acordo com dados divulgados hoje (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao trimestre anterior, totalizando R$ 1,03 trilhão.
“Já esperávamos um resultado muito próximo a esse, por isso não surpreendeu. O que nos causou um pouco de surpresa, no entanto, foram os dados relativos ao crescimento da indústria, principalmente a de transformação”, disse.
A indústria teve expansão de 1,7% em relação ao último trimestre de 2011 e, entre os setores da economia, apresentou o maior crescimento. O setor de serviços cresceu 0,6% e a agropecuária teve queda de 7,3%.
A indústria de transformação, que tem maior peso entre os setores industriais, apresentou alta de 1,9% em relação ao trimestre anterior e, segundo Armando Castelar, pode ter sido influenciada por efeitos sazonais.
“Nos três trimestres anteriores, a indústria de transformação acumulava uma queda muito grande, de 4,3%, então é difícil interpretar esse crescimento no primeiro trimestre. Prefiro olhar o resultado contra o mesmo trimestre do ano anterior [para compreender melhor o comportamento do setor], e aí se vê uma queda relevante de 2,6%”, acrescentou.
Ele destacou que o fraco desempenho do setor automotivo foi o principal responsável pela queda na indústria de transformação na comparação com o primeiro trimestre de 2011, contrapondo-se aos resultados “relativamente bons” observados em eletrodomésticos da linha branca, como geladeira, fogão, freezer, e de linha marrom, que inclui aparelhos de TV, som e eletroeletrônicos.
Em relação aos investimentos, que tiveram queda de 1,8% na comparação com o último trimestre de 2011 e de 2,1% em relação ao primeiro trimestre daquele ano, o resultado pode ser explicado em parte pela entrada em vigor de uma nova regulação em janeiro deste ano, exigindo a fabricação de caminhões com motores menos poluentes.
“Como isso encarece o veículo e traz alguns problemas no uso do combustível, muita gente antecipou as compras de caminhões e preferiu adquiri-los no ano passado”, avaliou.
O pesquisador enfatizou que se trata de um fator pontual que não explica o resultado como um todo, “mas tem peso”.
“De resto, as empresas estão mesmo reduzindo seus investimentos. A indústria não está bem, a utilização de capacidade ainda está em um patamar alto, mas vem caindo, então as empresas não precisam investir para produzir e seguram o investimento”, acrescentou.