Brasília – O crescente peso das dívidas levou o brasileiro a consumir menos e a se concentrar nos pagamentos de débitos, sobretudo atrasados, conforme revelam os níveis recordes de inadimplência. Essa postura contribuiu para o resultado fraco (0,8%) do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre em relação ao último de 2011, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo dados do Banco Central (BC), 22% da renda dos assalariados está comprometida com contas de outros meses. Com isso, milhões decidiram no começo do ano adiar planos de compras e financiamentos. O instituto de pesquisas Nielsen revela que pagar dívidas era a prioridade para 35% dos entrevistados no período de janeiro a março.
O consumo das famílias, que chegou a crescer 6% no primeiro trimestre de 2011 na comparação com o mês anterior, era um dos principais responsáveis pelo impulso da economia doméstica no começo do ano passado, que avançou 4,2% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2010. Pelo mesmo motivo, a desaceleração dos gastos familiares para 2,5% nos três primeiros meses deste ano em relação a igual período de 2011 limitou fortemente a expansão do PIB, que só cresceu 0,8% na mesma comparação. De toda forma, o consumo das famílias cravou sua 34ª alta seguida. Segundo o IBGE, isso se deve sobretudo aos salários dos trabalhadores, que subiram 6,5% na média.
Pagamento Ainda não surtiram efeito os estímulos do governo para incentivar o consumo, com mais crédito, taxas menores de juros e desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Isso porque muitas famílias estão endividadas e focadas em quitar dívidas. Célia prometeu não cair em armadilhas e afirmou estar controlando os gastos. Ela acredita que sua disposição para consumir já foi maior e o momento agora inspira cautela para não se envolver com dívidas pesadas. “Não podemos nos empolgar e comprar tudo o que vemos pela frente. Caso contrário, as dívidas nos enforcam”, ensinou.
Mesmo com alta acanhada se comparada a períodos anteriores, o consumo das famílias ainda foi o responsável por manter o PIB no azul no primeiro trimestre. “Influenciado pelo crescimento da massa salarial e da taxa de ocupação, e pelo crédito, que, apesar de ter desacelerado no primeiro trimestre, continua crescendo em ritmo menor”, disse Rebeca de La Rocque Palis, gerente do instituto.
Mal no ranking
Embora o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e evite falar em ranking, o melhor resultado do PIB no primeiro trimestre foi obtido pelo Chile, com alta de 1,4%. O Brasil ficou atrás também do México, com alta de 1,3%; do Japão, com crescimento de 1%; da Coreia do Sul, com avanço de 0,9%; e da Alemanha e dos Estados Unidos, ambos com alta de 0,5%. Com desempenho abaixo do brasileiro vieram França e União Europeia, ambos com estabilidade; Portugal, com queda de 0,1%; Holanda, com recuo de 0,2%; Espanha e Reino Unido, ambos com baixa de 0,3%; e Itália, cujo PIB recuou 0,8%. O comportamento da economia brasileira ficou próximo do dos países que enfrentam a crise europeia.