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Estado de Minas

Indústria sucroalcooleira atrai paraibanos e maranhenses para Minas Gerais

Movimento fez de Delta e Fronteira, no Triângulo Mineiro, as cidades com mais forasteiros em todo o estado


postado em 10/06/2012 07:34 / atualizado em 10/06/2012 09:39

O povoado de Suzana, em Brumadinho, preserva o bucolismo de outras épocas e é refúgio para quem deseja deixar o tumulto da cidade grande(foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
O povoado de Suzana, em Brumadinho, preserva o bucolismo de outras épocas e é refúgio para quem deseja deixar o tumulto da cidade grande (foto: Euler Júnior/EM/DA Press)
Há quase duas décadas, Pinheiro, como prefere ser chamado José Lacerda de Figueiredo, largava as enxadas da lavoura de milho e feijão no sertão da Paraíba para percorrer quase 3 mil quilômetros rumo ao Triângulo Mineiro. Seguindo os passos de conterrâneos que aos poucos descobriam a possibilidade de um sustento melhor na indústria da cana-de-açúcar, ele aproveitava para escapar da seca “braba” que todo ano assolava a região do Piancó por mais de seis meses e muitas vezes deixava a sua família sem água mesmo estando quase que à beira do rio. Com três filhos pequenos no “lombo” e a mulher a tiracolo, num pau de arara Pinheiro migrava para Fronteira em busca de uma vida nova.

No mapa, o município está encravado na Região Sudeste, quase na linha que divide Minas e São Paulo. Quem passa por ali, no entanto, se sente mais no sertão nordestino. E não é só pelo calor arretado, que se assemelha e muito ao do Polígono da Seca, onde está localizada a pequena Conceição, de onde o forasteiro, sua família e milhares de outros parentes e amigos saíram com destino a Minas. Fronteira é a cidade mineira com maior número de moradores que não nasceram no estado. Ao lado de Delta, também na região do Triângulo, são as duas únicas em que mais da metade da população vem de fora de Minas Gerais, segundo dados do censo demográfico elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (veja quadro). O estudo mostra que Minas tem 33 municípios com mais da metade de sua população composta por indivíduos naturais de outras cidades.

Nos dois casos, a principal atração é a indústria sucroalcooleira. Ainda na década de 1940, se instalava na região a primeira usina de cana, mas somente mais de três décadas depois se iniciou o boom da produção, com o Programa Nacional de Álcool. Nordestinos chegaram dispostos a encarar o trabalho degradante em troco de salários que beiravam o mínimo. O próprio Pinheiro veio para Minas exercer o ofício que aprendeu ainda criança. Mas, passados dois anos, abandonou a lavoura, comprou um barracão e passou a alugar para os nordestinos que chegavam à cidade. Na outra parte do terreno, montou um bar, com sinuca, que acabou se tornando a diversão preferida dos forasteiros nos raros momentos de folga.

A prosperidade do pequeno comércio logo garantiu a compra de outros quatro barracos e até de um carro zero quilômetro e o sucesso atraiu a parentada toda. Hoje são mais de 100 com sobrenome Figueiredo, fora os outros tantos amigos de Conceição do Piancó, que, se somadas às demais famílias, “invadiram” Fronteira. Dos quase 15 mil moradores, mais de 8 mil são nordestinos, que, na maioria das vezes, se questionados se pretendem um dia voltar, são sucintos em responder: “Voltar para fazer o que lá?“, resume Pinheiro, rodeado da mãe e do pai e de sete dos nove irmãos que, da Paraíba, só mantêm o sotaque.

Enquanto em Fronteira a maior parte dos visitantes vem da Paraíba, em Delta, distante aproximadamente 200 quilômetros, a maior parte dos forasteiros são maranhenses de São João Batista. “Mineiro mesmo se acha pouco”, diz o usineiro Domigos Santos Costa, de 44, que está há três anos na cidade com a esposa, Maria Ribamar, e a filha, Kaila. Apesar dos dias melhores em Minas, ele é obrigado a repensar sua permanência. A indústria da cana está em baixa e a mulher não consegue emprego. Além disso, a saudade é grande. “A vontade é voltar. Mas lá só tem para a comida mesmo. Então, para não andar pelado a gente vem para cá”, afirma Domingos.

Condomínios mudam o perfil do trabalho

Se a cana-de-açúcar foi o principal atrativo para os forasteiros nordestinos em meados das décadas de 1980 e 1990, na última década outro fator arrastou candidatos a emprego a Fronteira, no Triângulo Mineiro. Com a usina de açúcar desativada e a mecanização das lavouras, boa parte dos moradores da cidade foram absorvidos pelos condomínios de luxo construídos às margens do Rio Grande. Os moradores vêm, em sua maioria, de Uberlândia, Uberaba e Ribeirão Preto (SP), e é preciso contratar jardineiros, pedreiros, caseiros e até funcionários para cuidar de lanchas e jet skis.

Com salários melhores e empregos menos desgastantes, a população da cidade cresceu a taxas de 4,52% ao ano de 2000 até 2010 – das maiores do estado –, passando de 9.024 para 14.041 habitantes e atraindo inclusive os vizinhos paulistas. São 13 loteamentos que totalizam quase 2 mil imóveis. Sábados, domingos e feriados, chega a haver congestionamento nas ruas da cidades. O adolescente Lucas Nunes Garcia, de 16 anos, veio com o pai e dois irmãos de Bebedouro (SP) há quatro anos. Juntos, eles fazem de tudo em seis casas de condomínio, de cortar a grama a preparar a lancha. “Aqui tem mais emprego e ainda dá para estudar”, diz Lucas.

Antes, com o encerramento da safra, a cidade ficava deserta. Nos últimos anos, a estabilidade fez com que os nordestinos criassem raízes no Triângulo. “O Nordeste é migratório. O pai vai, o tio vai e o primo… Mas hoje ele não é mais temporal. Às vezes, não faz fortuna, mas cria condições melhores que as de lá”, afirma o prefeito de Fronteira, Sérgio Campos (PSDB).

Enquanto isso, em Delta, a rotatividade ainda é alta. Eles vêm e vão a cada safra. O lavrador Domigo Costa Vieira, de 31, se fixou na cidade, mas deixou três filhos com a avó para seguir os passos do irmão, Luiz. “Se o Poderoso ajudar, consigo trazer os meninos.”


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