A chefe de governo Angela Merkel advertiu contra um excesso de expectativas sobre a capacidade da Alemanha, primeira potência econômica europeia, para frear a crise que corrói a Eurozona e que nesta quinta-feira voltou a ser constatada com as altas taxas que Espanha e Itália precisam oferecer para financiar suas dívidas.
"A força da Alemanha não é ilimitada", declarou Merkel em um discurso perante o Bundestag (câmara baixa do Parlamento), dedicado à cúpula do G20 de potências industrializadas e emergentes prevista para a próxima semana em Los Cabos (México).
Nesta reunião, a crise da dívida será "o tema central e, mais uma vez, todos os olhos estarão fixados na Alemanha", admitiu Merkel, criticada por propor ajustes fiscais como remédio para a crise e por dar as costas a medidas como a emissão de eurobônus ou de garantias comuns aos depósitos bancários na Eurozona.
"Sim, a Alemanha é forte, é o motor da economia e o polo de estabilidade na Europa e quer colocar esta força e esta estabilidade a serviço da Europa, mas todos os pacotes (de ajuda) cairão no vazio se a força da Alemanha for superestimada", insistiu.
Apesar de tudo, Merkel reiterou o compromisso europeu da Alemanha e sua vontade de contribuir com os esforços para reativar o crescimento. Concretamente, defendeu "um maior papel do Banco Central Europeu (BCE) na vigilância dos bancos e a necessidade de reforçar a união política, a única capaz, aos seus olhos, de impulsionar o crescimento sobre uma base sólida e honesta".
Merkel fez estas declarações antes de uma reunião em Roma entre o chefe de governo italiano, Mario Monti, e o novo presidente francês, François Hollande, partidários de dar um maior impulso ao crescimento para matizar a austeridade, que, segundo críticas cada vez mais insistentes, está afundando o continente em uma espiral recessiva.
Esta reunião, que foge à regra dos tradicionais encontros franco-alemães antes de reuniões importantes, preparará o encontro que, na próxima semana, terá a presença de Merkel e do chefe do governo Espanhol, Mariano Rajoy, antes da cúpula de 28 e 29 de junho em Bruxelas.
A Eurozona tenta há meses desativar uma crise mediante uma porta corta-fogos que até agora se revelou inútil e que mantém os mercados em suspense, gerando instabilidade social e incertezas políticas.
A última destas medidas foi a aprovação, no sábado, de um pacote de até 100 bilhões de euros para resgatar o setor bancário espanhol, afetado por créditos incobráveis desde a explosão em 2008 da bolha imobiliária.
Mas as expectativas geradas por este compromisso duraram pouco tempo, já que as taxas de juros da dívida espanhola a dez anos bateram nesta quinta-feira pelo segundo dia consecutivo seu máximo histórico desde a criação da Eurozona, a 6,865%, um nível considerado insustentável, antes de cair levemente.
Na quarta-feira, a agência de classificação financeira Moody's baixou a nota da dívida a longo prazo da Espanha em três graus, a "Baa3", pouco acima da categoria especulativa.
A Itália, por sua vez, precisou oferecer rendimentos em forte alta para captar nesta quinta-feira 4,5 bilhões de euros com emissões a médio e longo prazo.
Os mercados também mostram-se precavidos ante os resultados das eleições legislativas do próximo domingo na Grécia, obrigada a voltar às urnas, em meio a rumores sobre uma possível saída deste país da Eurozona em caso de vitória de partidos que se opõem aos ajustes.