A presidente Dilma Rousseff anuncia hoje para os 27 governadores brasileiros uma nova linha de crédito superior R$ 10 bilhões oferecida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para financiar investimentos nos estados. A iniciativa tem o objetivo de sacudir a economia brasileira, que ainda não reagiu às medidas de estímulo anunciadas pelo governo federal para combater os efeitos da crise europeia no país. Na avaliação do mercado, porém, o dinheiro será bem vindo, mas insuficiente para reverter a desaceleração do investimento privado no Brasil. A Formação Bruta de Capital Fixo no país – indicador que mede a capacidade de produção e a confiança dos empresários no fututo – caiu 1,83% nos três primeiros meses de 2012 em comparação com o quarto trimestre de 2011.
Em Minas, o dinheiro já teria destino certo. “As obras prioritárias para o estado estão enumeradas na Agenda de Minas e o governo federal anunciou verbas para três delas nesta semana”, lembra o presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) Lincoln Gonçalves Fernandes. A lista também inclui, entre outras, a ampliação da capacidade instalada da Refinaria Gabriel Passos (Regap), de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), duplicação efetiva da BR 040 entre Santos Dumont e Juiz de Fora (Zona da Mata), reestruturação da Ferrovia Patrocínio Sete Lagoas e inclusão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves entre os aeroportos estratégicos para receberem investimentos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no modelo de parceria público-privada.
Para o economista Eduardo Gianetti, professor titular do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a medida é uma alternativa à fórmula esgotada de incentivo ao consumo adotada pelo governo. “Esses números muito baixos de crescimento agora mostram que vamos ter que encontrar outro caminho. E certamente passa por melhorar o nosso investimento”, observa. André Perfeito, da Gradual Investimentos, afirma que o mercado espera mais do governo. “Um corte mais agressivo dos juros, com a Selic (taxa básica de juros do país) caindo para 6% até o fim do ano, por exemplo”. Perfeito lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) do país no primeiro trimestre foi uma decepção e que o consumo das famílias está sendo envenenado pela inadimplência.
Entre os principais beneficiados pelo anúncio, o setor de construção pesada comemora a notícia e reconhece que o aumento da dinâmica da economia passa pelas obras de infraestrutura. “Isso é histórico. Nosso setor é um dos que mais emprega no país, garantindo renda ao trabalhador que vai retornar com o dinheiro para a economia”, observa o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG) Alberto Salum.
Fórmula Para especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, não há dúvida que a fórmula é indispensável em qualquer política de estímulo à economia e deverá ter reflexos na geração de emprego e renda, ainda que pequenos. A crítica recai sobre a forma como o empurrão está sendo dado à geração de riquezas no país. Para Lincoln Gonçalves, associado aos incentivos, a dívida dos estados deveria ser negociada. “Isso tem que ser feito simultaneamente”, observa.
O diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal Celso Grisi, reconhece que alavancar investimentos garante impactos sobre a produção de riquezas do país, mas pondera sobre a efetividade da medida. “Melhor saída seria incentivar investimentos por meio de parcerias público-privadas ou por licitação, concorrências públicas e até concessões”, avalia. “Sabemos da dificuldade do governo em tirar as obras do papel e, em ano eleitoral, não me agrada essa medida. Claro que dará um certo fôlego para o PIB, mas é ruim”, avalia.
Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicou detalhes do Programa Estadual de Financiamento (PEF), a linha especial de investimento aos governos estaduais. “Estamos tomando várias medidas chamadas anticíclicas para estimular a economia. Nós queremos que os estados participem mais do esforço no investimento governamental. Então, eles terão uma linha de crédito de fácil acesso para financiar o que eles acharem prioridade, como programas de mobilidade urbana e saneamento”. O ministro alertou que não se trata de um plano de refinanciamento e lembrou que está sendo feito também o Programa de Ajuste Fiscal dos Estados (PAF).