O líder do partido de direita Nova Democracia (ND), Antonio Samaras, vitorioso nas eleições legislativas de ontem na Grécia, propôs a formação de um “governo de união nacional” para sair da crise econômica e manter o país na Zona do Euro. Segundo ele, o país escolheu ficar no bloco da moeda única e “não tem um minuto a perder”. O líder da esquerda radical, Alexis Tsipras, admitiu a derrota e negou-se a participar de uma futura coalizão, prometendo manter seu partido, o Syriza, na dianteira da oposição. “Vamos representar a maioria do povo contra o acordo”, disse, em referência aos termos de rigor fiscal impostos pela União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) ao país.
O líder do socialista Pasok, Evangelos Venizelos, condicionou a participação no governo de consenso a uma presença ampla da esquerda. “Um governo de responsabilidade nacional supõe a participação de todas as forças da esquerda, incluindo os radicais do Syriza”, alertou. Segundo projeções oficiais baseadas em 70% das urnas apuradas, a ND obteve 29,5% dos votos, o que lhe garante 128 das 300 cadeiras no parlamento, contra 27,1% para a Syriza (72) e 12,3% para o Pasok (33). A Constituição grega dá 50 cadeiras extras ao partido vencedor das eleições. Com isso, ND e Pasok, que compunham o governo anterior e apoiam a ajuda externa condicionada, já têm eleitos suficientes para atingir a maioria.
As eleições foram polarizadas entre a promessa da ND de “sair da crise mas não do euro” e a esquerda radical, que exigia a renegociação do pacto de austeridade. Os vitoriosos garantiram ser o “fiador” da permanência da Grécia na Zona do Euro, mas admitem “renegociar” o memorando do plano de ajuste acertado com a chamada troika. Ontem mesmo, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, reagiu dizendo estar disposto a discutir os prazos necessários para a aplicação das reformas na Grécia. “Posso imaginar, sem problemas, uma negociação sobre novos prazos”, afirmou.
Divisão Os eleitores gregos foram às urnas divididos entre a revolta com os cortes orçamentários que o governo passado assumiu para obter ajuda internacional e o medo dos desdobramentos de não honrar o mesmo acordo. A expectativa em torno da segunda votação legislativa deste ano, após o pleito de 6 de maio não ter levado à formação de novo governo, já tinha piorado a crise europeia e forçado nova eleição.
O resultado das eleições gregas está na pauta do encontro de cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias, que começa hoje e vai até amanhã em Los Cabos, no México. A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem para a reunião e deverá defender que o caminho da retomada econômica global não passa por cortes de gastos, mas sim por distribuição de renda e estímulos ao crescimento.
A cúpula terá três sessões de trabalho, cujos temas centrais serão crise econômica e fortalecimento do sistema financeiro, mas também passarão por comércio internacional, economia verde, infraestrutura, segurança alimentar e geração de empregos. Além de participar das sessões, Dilma terá uma série de encontros bilaterais com chefes de Estado e de governo. Hoje ela se reúne com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Europeus prometem apoio
O segundo pacote de resgate da Grécia da Zona do Euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) é a base para o crescimento econômico da Grécia e para a criação de empregos, disseram dois oficiais da União Europeia depois dos resultados preliminares da eleição na Grécia. “O segundo programa de ajuste econômico entre a Grécia e o grupo europeu é a base na qual se construirão o crescimento, a prosperidade e os empregos para o povo grego”, disseram em nota conjunta o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, e o presidente da Comissão Europeia, Herman Van Rompuy. “Continuamos prontos para ajudar a Grécia a atingir esses objetivos”, afirmaram, antes do início do encontro das 20 maiores economias, o G20, no México.
“O povo grego falou. Esperamos que os resultados eleitorais permitam formar um governo rapidamente”, assinalaram Van Rompuy e Barroso. “Seguiremos apoiando a Grécia como membro da família da União Europeia e da Zona do Euro”, acrescentaram.
A Alemanha está disposta a discutir os prazos necessários para a aplicação das reformas na Grécia, declarou o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle. “Não deve haver mudança substancial nos compromissos” assumidos pela Grécia com seu programa de reformas, mas “posso imaginar, sem problemas, uma negociação sobre novos prazos”, disse.
Para justificar esta flexibilidade, o ministro destacou que a Grécia viveu “uma paralisia política nas últimas semanas devido às eleições”. “Os cidadãos comuns não podem ser punidos, especialmente porque já suportaram cortes drásticos.” “Estamos dispostos a assumir a solidariedade na Europa, mas não podemos aceitar a anulação dos compromissos assumidos”, disse Westerwelle, o primeiro dirigente europeu a se posicionar depois das eleições gregas.
Até o momento, Berlim se manteve inflexível sobre o programa de reformas negociado por Atenas com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca do socorro financeiro, tanto em relação ao conteúdo quanto aos prazos decretados.