O fim do mundo foi adiado mais uma vez. A direita levou a melhor na Grécia e inicia nesta segunda-feira as negociações para formar um governo de coalizão, o que estanca o risco de iminente ruptura da zona do euro. Os mercados financeiros até que tentaram receber um refrigério, mas os investidores seguem prudentes em tomar risco, ainda de olho em Espanha e Itália. Seja como for, a Bovespa inicia a semana com o intuito de zerar as perdas no ano e tentando tirar proveito de uma Selic abaixo de 8% já no próximo semestre. O vencimento de opções sobre ações nesta segunda-feira, porém, pode distorcer o comportamento do pregão. As 10h30, o Ibovespa caía 0,73%, aos 55.695,30 pontos.
Com quase 100% das urnas apuradas, o Nova Democracia recebeu o apoio de cerca de 30% dos eleitores, detendo 129 cadeiras do Parlamento da Grécia, de um total de 300. O radical de esquerda Syriza ficou em segundo lugar, com 27% e 71 cadeiras, enquanto o socialista Pasok apareceu com pouco mais de 12% dos votos e 33 assentos.
O partido de centro-direita inicia nesta segunda-feira as negociações para a formação de um governo de coalizão, do qual o Syriza não deve fazer parte. O líder do Nova Democracia, Antonis Samaras, já declarou que irá tentar mudar os termos do programa de resgate financeiro grego, situação que os demais países da zona do euro devem acatar, em prol do crescimento econômico na região.
"Os mercados respiram aliviados, mas certamente não será a redenção dos problemas", comenta, em relatório, o sócio da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, para quem a Grécia deve seguir dominando o noticiário internacional. Por volta de 10h05, a Bolsa de Atenas subia cerca de 4%. Mas os mercados europeus diminuíram a empolgação vista no começo do dia e apenas a Bolsa de Frankfurt exibia ganhos - moderados - de +0,10%, enquanto Paris e Londres caíam 0,78% e 0,05%, respectivamente.
Já em Madri e na Itália, as bolsas recuavam 2,60% e 2,67%, nesta ordem, com o yield dos bônus espanhóis de 10 anos superando a marca de 7% e contaminando o juro do papel italiano de mesmo vencimento igualmente para níveis considerados insustentáveis. O futuro do S&P 500, por sua vez, recuava 0,54%, à espera do encontro de política monetária do Federal Reserve, que termina na quarta-feira.
Portanto, a equipe de Global Research do HSBC adverte, em relatório, que ainda não é o momento para ficar "muito animado". "O panorama está longe de ser claro e os investidores em ativos de risco continuam enfrentando uma paisagem repleta de minas terrestres", comenta.
Os profissionais citados dizem ainda duvidar se a cavalaria está realmente a caminho, como ventilou-se na semana passada sobre uma ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo, e lembram que o encontro de cúpula do G-20, em Los Cabos (México), entre hoje e amanhã, deve ter como tema central o fortalecimento do euro e a recuperação da economia global.
Enquanto isso, o mercado financeiro doméstico também aposta em estímulos adicionais por parte do BC brasileiro. Segundo a pesquisa Focus, o ciclo de cortes de juros deve durar um ano, com a Selic encerrando 2012 em 7,5%, taxa que deve ser alcançada em agosto. Esse afrouxamento, porém, será acompanhado de uma economia mais fraca, com a projeção para o PIB agora reduzida a 2,30% neste ano.
Assim, permanecem as dúvidas sobre quando a renda variável nacional irá tirar proveito de uma taxa básica de juros mais baixa, o que, em tese, favorece a migração oriunda da renda fixa. Ainda que aos poucos, os investidores devem buscar rendimentos mais atraentes, contanto que o ambiente global fique mais propício ao risco. Para isso, é importante que a Bolsa supere a faixa de 56,7 mil pontos, inicialmente, praticamente zerando as perdas acumuladas em 2012.
É válido lembrar que nesta segunda-feira é dia de vencimento de opções sobre ações. O exercício, porém, não deve demonstrar grande "entusiasmo", segundo operadores, já que muitas séries, sobretudo em Petrobras, "viraram pó". Mesmo assim, sempre há espaço para a volatilidade.