O Brasil não pode mais contar com a indústria para puxar o crescimento e impulsionar os investimentos em 2012. Além da estagnação do setor, uma crise de confiança se instalou entre os empresários e, segundo estudos divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), eles estão cada vez mais descrentes em uma retomada no curto prazo. O nível de confiança medido por essas instituições caiu ao menor patamar do ano e, diante de um consumo mais fraco das famílias, as fábricas passaram a enfrentar ainda dificuldades para escoar estoques: as empresas se viram obrigadas a reduzir o ritmo de produção e a capacidade ociosa bateu em 16,3% em junho, um percentual inferior à média dos últimos cinco anos.
Com esses números, o banco de investimentos Credit Suisse reduziu a estimativa de expansão do país de 2% para 1,5% — revisão que irritou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “É uma piada. Vai ser muito mais que isso”, afirmou. O banco, porém, justifica o pessimismo com cálculos que mostram uma desaceleração no ritmo de investimentos, de 4,7% em 2011 para 0,3% em 2012. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, tentou minimizar. “Acho que a visão que os europeus têm é necessariamente negativa por ser influenciada pelo clima de lá. A situação do mercado financeiro na Europa é muito ruim”, disse. “Não acompanho esse pessimismo do Credit Suisse. Acho que vamos crescer mais que isso”, emendou.
Estagnada desde o terceiro trimestre do ano passado, a indústria não conseguiu esboçar reação mesmo após medidas de desoneração, de incentivo ao crédito e de o dólar ter alcançado a casa dos R$ 2, nível considerado ideal pelos empresários para exportar e também para evitar a concorrência dos importados. O governo tem tentado atender todos os loobies dos industriais e distribuiu benefícios na esperança de evitar que o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) ganhasse formas de “pibinho”, mas, para analistas, é praticamente impossível um resultado próximo, pelo menos, de 3%. As previsões foram todas revisadas no mercado para baixo nas últimas semanas e a aposta principal é de que, no máximo, o Brasil alcance 2,3%. Os mais pessimistas falam até em uma expansão de 1,2% no ano, e parte desse resultado ruim é atribuído ao setor produtivo.
Frustração
“O cenário para a indústria é de estagnação. Há entre os empresários um sentimento de frustração, de que as coisas não estão melhorando”, observou Marcelo de Ávila, economista da CNI. Pelos dados da entidade, a queda de confiança foi maior entre as empresas de grande porte, houve uma redução de 2,6 pontos no indicador entre maio e junho. Nas de médio porte, o recuo foi de 1,6 ponto, e nas pequenas, de 0,6. De 28 segmentos pesquisados pela CNI, 21 apresentaram retração no otimismo. Pelos números da FGV, as expectativas também foram afetadas, caíram ao menor nível do ano, o que indica ainda que as previsões de investimento devem ficar apenas no papel. Com o aumento da capacidade ociosa da indústria e a perspectiva de um ritmo menor de consumo, os empresários não veem motivo para expandir.