Sem confirmação de percentual ou data, o reajuste de preços da gasolina e do diesel pela Petrobras é uma questão de tempo. Segundo a presidente da estatal Graça Foster, a medida é necessária diante dos planos de investimento da empresa para os próximos cinco anos. “Estamos estudando o percentual. Interessa à Petrobras que o consumidor brasileiro continue tendo condições de consumir volumes crescentes para que a gente tenha melhores resultados”, avaliou. Inicialmente sem previsões de mudança para este ano, o preço do combustível passou a ser discutido com mais afinco à medida que a inflação apresentou sinais de que convergiria para o centro da meta de 4,5% estipulada pelo governo.
Responsável por 4% da formação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação composto por cerca de 300 itens, a gasolina tem fortes impactos na cadeia de suprimentos e transporte brasileira. Se aplicada a taxa de reajuste de 10%, como ventilado pelo mercado, o IPCA sofreria contribuição de 0,4 ponto percentual apenas da gasolina. O valor representa mais de duas vezes o resultado do IPCA-15 – prévia da inflação oficial – divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fechou junho em 0,18%.
“Em Belo Horizonte o peso seria ainda maior, já que, aqui a gasolina responde por 4,72% do IPCA”, calcula o analista do IBGE em Minas Gerais Antônio Braz. Isso significa que, na capital mineira – atualmente com a terceira maior inflação acumulada no ano entre as 11 capitais pesquisadas – os reflexos da alta chegariam a quase 0,5 ponto percentual. Mas a elevação de custos não pararia por aí. Caso o diesel sofra o mesmo reajuste, os impactos serão sentidos imediatamente pelo setor de logística e transporte.
“Qualquer aumento vai refletir no custo. Atualmente, o combustível responde por um terço do custo do frete, portanto, uma alta de 10% pode refletir em ajuste de 3% a 3,5% em média nos valores praticados pelas transportadoras”, calcula o presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg) Vander Francisco Costa. A categoria ainda está em período de data-base, com expectativa de elevação dos salários na casa dos 7%. “Nesse caso, a folha representa de 10% a 15% dos custos do frete, o que deve significar 0,7% de elevação dos valores cobrados. Se sair com a alta do diesel será bom para fazermos apenas uma negociação com as empresas”, avalia Vander.
Indiretamente, qualquer alta nos preços dos combustíveis terá reflexos em vários setores, sem que seja possível mensurar todos os desdobramentos na inflação. “O efeito multiplicador é muito grande. Todos os setores prestadores de serviços terão necessidade de fazer ajustes dos preços”, avalia o professor do Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) José Roberto Savóia. Pelas consequências que deve trazer ao mercado, Savóia avalia que este não é o momento para elevação de custos. “Precisaríamos esperar mais alguns sinais de que a inflação manterá o curso atual. Não apenas o belo resultado do IPCA-15 de junho, mas um cenário de continuidade para termos segurança de que realmente estamos em um processo de convergência para um patamar mais baixo”, avalia o especialista.
O ideal seria postergar para o último trimestre do ano qualquer alteração em um dos itens de maior relevância para os índices inflacionários. “Mas existem análises distintas que mostram que uma redução mais rápida da inflação em direção ao centro da meta poderia abreviar esse intervalo”, avalia Savóia.
Em análise
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que não há decisão no governo sobre a elevação do preço da gasolina. “A gente vai avaliando, e estudando, e fazendo cálculos possíveis (sobre o impacto) na inflação, mas fazemos isso há muito tempo”, garantiu.
A utilização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) como ferramenta de manobra para reduzir o impacto de um eventual aumento foi cogitada por Lobão, apesar de o ministro considerar que qualquer ação nesse sentido reduziria a possibilidade de o governo ter mais espaço no futuro para usar a Cide para regular os preços. “Esgota-se, com isso, a Cide”, ponderou.
O preço da gasolina não tem reajuste para os consumidores desde setembro de 2005, quando houve alta de 10%, integralmente repassada. Já o diesel foi reajustado para baixo (queda de 10,5%) em junho de 2009. Todas as alterações depois disso foram “amortecidas” pela Cide, o que representou uma renúncia fiscal do governo em favor da Petrobras para que o preço não contaminasse a inflação. Diante do longo tempo de estagnação, a presidente da Petrobras, Graça Foster, ainda argumentou que o reajuste seria importante para corrigir a defasagem do preço dos combustíveis em relação ao mercado internacional. (Com agências)