O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, disse nesta terça-feira não haver perspectivas otimistas para a crise que atinge a comunidade europeia. De acordo com ele, a crise tende a se prolongar e a saída seria uma integração bancária. Ocorre que, no caso da Alemanha, só para citar um exemplo, disse o ministro, a constituição não permite ao país comprar títulos soberanos da comunidade europeia. "A Alemanha não vai ser uma parceira de um possível futuro banco central da comunidade", disse Pimentel durante palestra que abriu o 5º Congresso Brasileiro de Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), que termina nesta quarta-feira, em São Paulo.
Segundo ele, no entanto, as crises sempre geram um movimento de transformação. "Normalmente as crises começam com movimentos subterrâneos que, em algum momento, se transformam em crise. Mas elas geram um processo de transformação", ponderou. Ele citou quatro processos de transformação da economia mundial que vieram na esteira das crises econômicas iniciadas em 2008 nos Estados Unidos, que levou à quebra do Banco de Investimentos Lehman Brothers, e a atual crise iniciada na Zona do Euro.
A primeira alteração, de acordo com Pimentel, está ocorrendo no padrão de produção e riqueza pela indústria. "O que foi padrão no século 19 e avançou para o século 20 mudou", disse Pimentel. Ele tomou nas mãos e usou como ilustração de sua tese um aparelho celular iPhone. "Este aparelho não tem um componente produzido nos Estados Unidos. É tudo produzido na Ásia e o aparelho foi montado na China", disse o ministro reforçando que o iPhone é um exemplo de que não existe mais o conceito de uma indústria localizada em um único lugar.
Na avaliação de Pimentel, a mudança do paradigma industrial é resultado do papel transformador das crises. "Essa mudança afeta o tecido social no mundo inteiro", explicou. O segundo processo de transformação advindo da crise econômica mundial, de acordo com o ministro, é a mudança do padrão monetário. "No início do euro, quem poderia dizer que depois de 15 ou 20 anos ele entraria em uma crise que colocaria em risco a sua própria sobrevivência? Quem diria que os títulos soberanos brasileiros seriam avaliados como de menor risco do que os da França e Inglaterra, perdendo apenas para os títulos americanos?", questionou Pimentel a uma plateia de cerca de 400 pessoas.
Para ele, não chegaremos à metade do presente século com o dólar permanecendo como a moeda de troca mundial. "Esse processo de mudança do padrão monetário está subjacente ao processo agudo ao qual chamamos de crise", afirmou o ministro. Outra mudança em decorrência da crise internacional se dá no padrão do consumo. "Estamos vendo uma transformação profunda do mercado de consumo. As características das mudanças estão aí. Não sabemos dizer o que vem pela frente, mas hoje o mundo olha para aqueles mercados que relegamos. Olha-se para os emergentes Brasil, índia, china e África", afirmou o ministro Pimentel.
E não é para menos, disse ele. "Se o impacto no mundo de termos colocado, durante o governo Lula, 40 milhões de pessoas para dentro do mercado de consumo é grande, imagine a China que coloca de 70 milhões a 80 milhões pessoas no mercado de consumo todo ano", disse o ministro, para quem estas mudanças embaladas pelas crises de 2008 e a atual na Europa estão esculpindo um novo mundo. Daqui para frente, segundo Pimentel, as crises vão eleger um novo modelo de nações líderes no mundo. Essa é a quarta mudança observada pelo ministro do MDIC. As características do novo mundo serão, nas palavras de Pimentel, multipolar. Além disso, de acordo com ele, as nações líderes serão aquelas que tenham contingente populacional suficiente para firmar um mercado interno dinâmico, tenham recursos naturais e soberania sobre eles, além de recursos tecnológicos para transformar estas riquezas.
Neste aspecto, de acordo com o ministro, o Brasil é forte candidato a líder mundial. Possui um contingente populacional que sustenta o mercado interno, detém enormes reservas de recursos naturais e está, aos poucos, fazendo a lição de casa no que diz respeito a obtenção de recursos tecnológicos. "Neste quesito o Brasil está devendo a ele mesmo. Melhoramos muito, mas temos que melhorar mais. Nossa educação básica é muito ruim", disse o ministro, acrescentando que tudo isso precisa ser embalado por uma bela moldura democrática, o que coloca sob atenção o que poderá acontecer na China, onde o poder é centralizado. "Um país líder precisa de uma boa relação entre consumidores e fornecedores", disse o ministro.