Brasília – Apesar de esperado, foi um tombo e tanto. De uma única vez, o Banco Central derrubou a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em um ponto percentual, reduzindo a estimativa de crescimento da economia no ano de 3,5% para 2,5%. Culpa do fraco desempenho já observado no primeiro trimestre do ano, quando, além da indústria, que continua patinando, veio a agricultura com queda de 8,5%, disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo. Se confirmada, a variação é a menor para o PIB desde 2009, quando a economia se retraiu 0,2%, se rendendo à crise financeira de 2008. Apesar de mais realista, a estimativa ainda figura entre as mais otimistas do mercado, diante da previsão de 2,18% anunciada no relatório Focus na segunda-feira.
Embora tenha classificado a queda da atividade agrícola como pontual – “não esperamos que a seca verificada no primeiro trimestre se repita”, salientou Carlos Hamilton –, a agricultura foi o único setor que, na visão do BC, ficará com sinal negativo no ano. No relatório de Inflação Trimestral divulgado ontem, todos os itens desagregados do PIB foram revistos para baixo. No caso da agricultura a queda foi de quatro pontos percentuais, com o desempenho do setor passando de positivo em 2,5%, segundo o documento anterior, para uma retração de 1,5%.
Para a indústria, a estimativa de crescimento do BC é de 1,9%, o que representa uma queda de 1,8 ponto percentual em relação a projeção anterior, que era de 3,7%. A nova previsão do BC está até um pouco acima da estimativa divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que, assustada com a desaceleração do índice próprio que mede a atividade, também revisou para baixo seu prognóstico para o PIB, de 2,6% para 1,8%.
Além de reduzir as estimativas de expansão dos três ramos de atividade que compõem o PIB, o Banco Central ainda revisou para baixo a expectativa para o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um indicador que sinaliza o nível de investimentos do país, de 5% para 1%. Até mesmo o consumo das famílias, que vem sendo estimulado pelo governo para garantir a demanda, vai cair segundo o BC. O novo número é de 3,5% no lugar dos 4% previstos anteriormente. Só a precisão de consumo do governo foi mantida em 3,2%. Mesmo com todos os sinais negativos, o diretor do BC garantiu que a economia brasileira não está em crise. “Temos fragilidades assimétricas”, observou. Carlos Hamilton disse que o setor de serviços está bastante aquecido, mesmo com o BC reduzindo sua estimativa de crescimento deste setor de 3,3% para 2,8%.
Tombo maior Para o mercado, o tombo do PIB não deve parar por aí. Os economistas acreditam que o BC ainda vai derrubar a sua estimativa até o final do ano. “O nível do PIB está até elevado, o que talvez possa ser explicado pela data de corte do relatório, que foi 8 de junho”, afirmou José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “Como o Banco Central só divulga o relatório a cada três meses, fica defasado. Mas mesmo tendo feito essa revisão, diante de um cenário mais atual, os 2,5% ainda estão no teto das estimativas de mercado”, pondera o economista da Serasa Experian Luiz Rabi.
Rabi acredita mais nas avaliações próximas a 2% feitas pela média de mercado. Não é para menos. O Indicador Serasa Experian de Perspectiva da Atividade Econômica, que antecipa o comportamento da economia nos próximos seis meses, cresceu 0,2% em abril desde ano frente ao mês anterior. O resultado projeta o desempenho esperado para a economia no mês de setembro e, apesar de ser a maior variação dos últimos seis meses, ainda é muito fraco. “Este percentual confirma que dificilmente teremos notícias boas de desempenho econômico antes do último trimestre do ano”, avalia Rabi.
Diante do ceticismo quanto aos reais efeitos das medidas de estímulo adotadas pelo governo, o economista da FGV/IBS Antônio Carlos Porto Gonçalves não vislumbra resultados animadores. “Vai ter um efeito reduzido (os pacotes anunciados pelo governo). Sobretudo em relação aos estímulos para investimentos. Nenhum empresário vai investir sem ter certeza que vai vender, mesmo que o dinheiro esteja mais barato”, observa.
Meta de inflação mantida em 4,5%
Brasília – Assim como nos últimos seis anos e também em 2013, a meta de inflação fixada pelo governo para 2014 será de 4,5% com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, a perspectiva de recuperação vigorosa da economia brasileira e a incerteza quanto ao cenário internacional foram as principais motivações para que o Palácio do Planalto decidisse manter a meta de inflação para 2014 em 4,5%.
Segundo ele, o patamar permite absorver os choques internacionais e manter os resultados fiscais. Acrescentou que a redução da inflação no Brasil está relacionada ao cenário mundial mais benigno, como a diminuição dos preços das commodities. Relatório de inflação do Banco Central divulgado ontem, estima em 5,1% a inflação para o segundo trimestre de 2014.
Mas para 2012, a atividade mais fraca no Brasil e o cenário sem perspectiva da Europa contribuem para que a escalada dos preços seja contida. Mesmo assim, na revisão feita para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012, a inflação ficará pouco acima do centro da meta este ano, em 4,7% tanto no cenário de referência quanto no cenário de mercado. No relatório de inflação de março o IPCA este ano ficava dentro da meta – a estimativa era de 4,4% no cenário de referência e de 4,5% no cenário de mercado.
Segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, o que provocou o aumento foi o câmbio. Com o dólar se valorizando ante o real, produtos importados ficam mais caros e esse encarecimento é captado pelos índices de preços. Mas, segundo o relatório do BC, a política recente de reajuste dos preços dos combustíveis no Brasil colabora para evitar que um aumento do dólar ante o real seja repassado à inflação. Para o ano que vem, no entanto, a estimativa de inflação caiu de 5,2% para 5% no cenário de referência e de 5,3% para 4,9% no cenário de mercado. (PT e VC)