A zona do euro aprovou a recapitalização direta dos bancos espanhóis em troca de um rigoroso controle sobre o setor financeiro, conforme anunciado após a reunião na qual a Alemanha cedeu ante a pressão de Espanha e Itália para encontrar soluções imediatas à crise da dívida.
"Foi uma reunião muito difícil, muito dura (...) mas obtivemos resultados, disse o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, durante coletiva de imprensa ao encerrar na sexta-feira de madrugada (local) a reunião dos dirigentes europeus iniciada na quinta-feira. "Tomamos decisões inimagináveis um mês atrás", disse por sua vez o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Barroso.
O presidente espanhol, Mariano Rajoy, negou que haja condições macroeconômicas no plano de ajuda para a recapitalização dos bancos em dificuldades que negociam com a zona do euro. "Estamos negociando o memorando com o FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira)", disse Rajoy durante coletiva de imprensa realizada após o término da reunião europeia de Bruxelas, "porque é o que acordou o Eurogrupo quando deu o 'OK' ao pedido da Espanha".
As bolsas europeias encerraram a sexta-feira com fortes altas, lideradas por Madri e Milão, e os juros pagos pela emissão da dívida de Espanha e Itália recuaram significativamente, reagindo com euforia aos anúncios feitos após a esperada reunião europeia.
Milão terminou com alta de 6,59%, enquanto que Madri subiu 5,66%. Paris obteve alta de 4,75%, Frankfurt (+4,33%) e Londres apresentou alta mais moderada, de 1,42%. A Bolsa de Atenas subiu 5,68%. Nos mercados da dívida, as taxas de juros pagas pelos títulos da dívida de Espanha e Itália a dez anos - que chegaram a superar os 7% nas últimas emissões - recuaram respectivamente 6,461% e 5,888%.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que permaneceu "fiel" a seus princípios ao pedir condições em troca das medidas cruciais para ajudar esses países, que nos últimos meses têm sido fortemente castigados pelos mercados, pagando taxas exorbitantes para financiar-se.
A injeção de capital diretamente aos bancos espanhóis, que possui um teto de 100 bilhões de euros, será feita através do fundo de resgate europeu, sem passar pelo Estado, mas com a condição de que "o BCE passe a ser o supervisor único do setor bancário na Eurozona", como queria a Alemanha.
"Creio que obteremos algo importante, mas ao mesmo tempo nos manteremos fieis aos nossos princípios: nenhuma ajuda será dada sem condições e sem contrapartidas", disse a chanceler alemã. Uma vez que esta supervisão reforçada entre em vigor, possivelmente antes do final do ano, segundo estimou a UE, a ajuda deixará de contabilizar como dívida pública.
Esta é uma grande notícia para a Espanha, um país que tem se comprometido com Bruxelas a reduzir seu déficit público a 5,3% do PIB este ano, frente aos 8,9% de 2011, em meio a uma grave recessão e um desemprego que afeta quase 25% da população.
A Espanha deverá cumprir com "uma condição adequada", conforme afirmou o Eurogrupo, que não deu mais detalhes sobre o resgate bancário, cujas condições (montante exato, prazos de devolução, períodos de carência, taxas de juros) devem ser definidos na próxima reunião de 9 de julho.
A Espanha pediu oficialmente esta semana ajuda à zona do euro para sanear e injetar capital em seus bancos, fragilizados após o estouro da bolha imobiliária de 2008. O resgate da Espanha será feito primeiramente através do fundo temporário, o FEEF, e depois através do MEE, que entrará em vigor em julho, e que neste caso não terá sua condição de credor preferencial, o que é uma notícia muito positiva para os investidores privados, que temem ficar desprotegidos em caso de moratória.
"São soluções muito positivas", avaliou o presidente italiano, Mario Monti. A Itália e a Espanha fizeram nesta sexta-feira uma frente comum para editar seu aval ao pacto de crescimento da União Europeia (UE) por 120 bilhões de euros, através da aprovação de medidas urgentes para sair da crise da dívida.
Quanto à Itália especificamente, o Eurogrupo disse estar "aberto" a que os países que cumprem as reformas impostas por Bruxelas possam recorrer aos fundos de resgate europeus para "acalmar os mercados". Isso implica que o fundo de resgate da UE terá mais flexibilidade para comprar dívida de Espanha ou Itália nos mercados secundários.