Frankfurt – A Grécia pode até chorar por mais facilidades na tentativa de sair da forte crise que atinge o país, mas o Banco Central Europeu (BCE) não deve abrir a guarda. O BCE informou que está aberto a discutir alguns pontos do programa de austeridade imposto pelos credores internacionais à Grécia, mas não há espaço para mudar as metas centrais do plano, afirmou Jörg Asmussen, integrante do Conselho Executivo do BCE. Em entrevista ao jornal grego Kathimerini, ele disse que, “se o primeiro-ministro Antonis Samaras quer mudar o mix de medidas referentes a gastos e a receitas, isso certamente pode ser discutido, mas, no que diz respeito aos resultados e objetivos do programa para tornar a Grécia mais competitiva e chegar a uma situação de sustentabilidade da dívida, não vejo espaço para mudanças”.
Durante a última semana, informou-se que o novo governo de coalizão da Grécia estava trabalhando na proposta de pedir aos demais países da Zona do Euro por um período adicional de dois anos para que o país atinja a meta de déficit fiscal que consta dos acordos para a concessão de ajuda financeira. A aceitação desse pedido tornaria necessário um novo pacote de assistência financeira à Grécia.
Asmussen, que deve discursar em Atenas amanhã, durante uma conferência sobre economia, advertiu na entrevista que, se a Grécia mudar sua meta fiscal para ganhar mesmo que seja um ano, o país precisará de novos recursos da União Europeia, do BCE e do Fundo Monetário Internacional (FMI). De qualquer forma, disse o dirigente do BCE, antes de iniciar qualquer discussão é necessário que os credores multilaterais façam uma avaliação sobre as condições fiscais do país. “Parece que durante as campanhas eleitorais – e houve duas em sequência – as reformas foram interrompidas e que o programa está fora dos trilhos”, disse Asmussen. Ele exortou a Grécia a trabalhar duro para restaurar sua competitividade e reparar as finanças públicas. Para ele, o governo grego precisa reduzir os déficits fiscais previstos para 2013 e 2014, reformar suas leis trabalhistas e avançar em medidas para recapitalizar seus bancos.
Asmussen também disse que, olhando em perspectiva, pode ser que a Grécia não estivesse bem preparada para entrar na Zona do Euro e que o BCE e os outros países da união monetária tenham subestimado a deterioração rápida da situação, mas ressalvou: “Minha preferência, e nossa preferência, é de que a Grécia fique na Zona do Euro”. Ele afirmou também que as decisões do encontro de cúpula europeu realizado na quinta e na sexta-feira em Bruxelas, na Bélgica, não afetam em nada a situação da Grécia. “Não devem existir ilusões de que o resultado reduzirá de alguma maneira as necessidades de ajuste da Grécia”, disse Asmussen.
Novo desafio
O BCE encontra dificuldades internas para lidar com seu novo papel de supervisor de bancos na região, depois que líderes dos países do bloco decidiram nesta semana que um supervisor único deve avaliar as instituições financeiras das 17 nações da Zona do Euro – destacou ontem o jornal alemão Frankfurter Allegmeine Zeitung.
Um grupo dentro do banco central liderado pelo vice-presidente do BCE, Vitor Constâncio, defende o papel de supervisor bancário, segundo o jornal. Mas outros membros do conselho de governança enxergam riscos na adoção de tais funções. O BCE não tem capacidade e requisitos legais para tal papel, dizem os críticos, conforme a reportagem. O dever de garantir a estabilidade dos preços pode entrar em conflito com o papel de supervisor bancário, acrescentaram.