Brasília – Preocupada com o fraco crescimento do país em 2012, a presidente Dilma Rousseff mandou avisar: não vai participar de campanha política até que garanta um desempenho mais forte para a economia. Os indicadores apresentados pela equipe econômica à presidente, sobretudo as análises do Banco Central impressas no último Relatório Trimestral de Inflação, causaram ao Palácio do Planalto a sensação de que os esforços do governo têm sido em vão e que, até o momento, serviram apenas para não piorar o quadro do comércio e da indústria. O mercado, ainda mais pessimista, revisou pela oitava semana seguida a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país), derrubou de 2,18% para 2,05% – uma clara mensagem de que não acredita nas medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda.
A presidente, em conversas com integrantes da base aliada, tem dito que sua prioridade é o crescimento do país e que por isso não deve entrar na campanha. A missão de pisar nos palanques foi transferida ao vice-presidente, Michel Temer, que deve viajar bastante nos próximos meses, mas apenas para as cidades consideradas estratégicas. Os partidos da base, no entanto, garantem não terem se frustrado com a notícia. “Isso não preocupa, é um comportamento correto e responsável da presidente, ainda mais em meio a essa crise internacional”, disse Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara. “Talvez no segundo turno tenhamos a presidente na campanha, será outro momento da economia e também das eleições, com menor número de cidades em disputa. Além disso, são 14 partidos na base, não dá para a presidente atender a todos”, avaliou o deputado.
Dilma está assombrada com a dificuldade de reação da economia brasileira mesmo após todos os estímulos dados ao país e também com a reclamação do empresariado, tanto que tem convocado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sempre que possível. Ela está preocupada ainda com os impactos do fraco desempenho econômico sobre sua popularidade, Dilma tem a percepção de que uma economia ruim pode transformar em vilão qualquer presidente e, por isso, contratou um instituto para avaliar esse desempenho com maior constância. Analistas e empresários tem se queixado de que as medidas do governo são pontuais, de curto prazo e que atendem apenas a setores que falam mais alto e tem lobby organizado. Reclamam ainda que o consumidor está altamente endividado e sem espaço para novas prestações, o que tem travado as vendas.
Competitividade “As medidas impediram apenas que o pior se estabeleça”, disse Newton Rosa, economsita-chefe da Sul América Investimentos. “A indústria precisa recuperar a competitividade que perdeu frente aos importados, mas isso não se faz apenas com desvalorização do câmbio”, observou. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a decisão do governo de acelerar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a prorrogação do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) reduzido para produtos de linha branca e móveis também não surtirão efeito. “Não será suficiente para reanimar as expectativas de crescimento econômico. O mercado aposta, inclusive, que o BC terá de desacelerar o ritmo de queda de juros”, argumentou.
Consumidor está menos confiante
Brasília – Depois de uma onda de otimismo em maio, a confiança do consumidor brasileiro caiu 1,7% em junho na comparação com o mês anterior, de acordo com a pesquisa Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec), divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice recuou de 114,6 para 112,6 de um mês para o outro, voltando ao mesmo patamar verificado nos meses de abril deste ano e do ano passado. Na avaliação da CNI, a queda deve ser atribuída, principalmente, a uma preocupação maior com o desemprego e com uma situação financeira mais desfavorável. Estes são dois dos seis componentes do Inec.
Para o economista da entidade, Marcelo Azevedo, a diminuição do indicador em junho não é motivo de preocupação, já que continua em um patamar elevado e segue no mesmo nível dos últimos 12 meses. “Mas demonstra claramente que o aumento de abril para maio, de 113 para 114,6, foi incomum, um ponto fora da curva”, comparou. Conforme pesquisa divulgada à imprensa, o indicador que mede a expectativa em relação à manutenção do emprego teve uma queda de 7,8% de maio, quando estava em 135,2, para 124,6 em junho. “Foi forte esse aumento em relação ao medo do desemprego, chamando a atenção. Apesar disso, o indicador continua na média dos últimos 12 meses”, disse Azevedo.
O índice que mede a situação financeira dos brasileiros retomou a trajetória de queda, que havia sido interrompida em maio. O indicador recuou 3%, de 114,4 para 111. Esta foi a quarta queda no ano, o que levou o indicador a registrar o menor patamar desde setembro de 2009. “A avaliação do consumidor em relação a sua própria situação financeira está bastante negativa.” A preocupação do brasileiro com os preços da economia também voltou a aumentar, conforme o levantamento da CNI. O índice que mede a expectativa de inflação recuou 1,5%, de 144,2 para 112,5. Como quanto maior o indicador, melhor a percepção do consumidor em relação a um assunto, a diminuição da expectativa em relação à inflação significa que há uma preocupação maior sobre uma possível disparada dos preços.
De qualquer forma, Azevedo salientou que a piora deste segmento não é preocupante, pois foi a primeira queda em seis meses depois de cinco altas seguidas e segue em um patamar elevado. O endividamento dos consumidores também ainda não é motivo de alarme, conforme a pesquisa Inec, já que o indicador relativo de endividamento melhorou no mês, subindo 0,2%, de 105,1 para 105,3. “Ainda que o indicador esteja baixo, está na mesma faixa em que se encontrava há um ano”, trouxe o comunicado à imprensa. Em relação às compras de maior valor, o indicador teve queda de 0,2%, de 112,1 para 111,9. O Inec foi realizado entre os dias 16 e 19 de junho pelo Ibope Inteligência a partir de 2.002 entrevistas em 141 municípios.