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Estado de Minas

Varejo cresce, mas ritmo já é outro

Dados da Serasa Experian mostram que, cautelosas com o endividamento, famílias estão desacelerando o consumo


postado em 05/07/2012 06:00 / atualizado em 05/07/2012 06:49

Setor de eletroeletrônicos é um dos mais afetados pela mudança na intenção de consumo (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press - 19/4/12)
Setor de eletroeletrônicos é um dos mais afetados pela mudança na intenção de consumo (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press - 19/4/12)

 

Ainda que em ritmo mais gradual que a indústria, o movimento no varejo também dá sinais de desaceleração. Segundo o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, as vendas em junho recuaram 0,2% em relação a abril, já efetuados os ajustes sazonais. Com o desempenho do último mês, o primeiro semestre do ano fechou com alta de 7,6% na atividade varejista. O resultado é o menor dos últimos três anos se considerada a expansão de 9,6% nos primeiros seis meses de 2011 e de 10,7% no mesmo intervalo de 2010. “Inadimplência e endividamento ajudaram a justificar os números”, afirma o economista da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida.

Com boa parte da renda da população comprometida com a quitação de dívidas, o especialista não acredita em uma retomada mais pujante das compras antes do último trimestre do ano. “De julho a setembro, os consumidores devem priorizar a renegociação das dívidas para que possam quitar débitos com juros mais baixos”, pondera Carlos. Apesar da disposição em liberar a renda para consumo, a inadimplência deve fechar o ano ainda em alta. Segundo a Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra no Varejo realizada pelo Programa de Administração do Varejo (Provar), da FIA (Fundação Instituto de Administração), o endividamento este mês deve chegar a 8,1%, seguido de 8,2% em agosto e 8,3% em setembro, podendo atingir 8,6% em dezembro.

Entre os seis setores analisados pela Serasa, apenas dois tiveram desempenho positivo, enquanto supermercados e alimentos e bebidas, ficaram no zero a zero. Beneficiados pelas medidas de isenção tributária do governo, móveis e material de construção impediram esfriamento mais abrupto do varejo. Ainda que figure com alta de 7,7% somente neste ano, o comércio de materiais de construção, pelo menos em Minas Gerais, não vai tão bem quanto os dados fazem crer.

Segundo o presidente da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac-MG), Rui Fidélis de Campos Júnior, há na verdade um cenário de queda. “No primeiro semestre, houve retração de 3,5% ante o mesmo período do ano passado. Somente em junho a queda foi de 9% em relação a maio”, observa. Para o empresário, o alto endividamento, associado à falta de confiança do consumidor na economia e a dificuldade das medidas de crédito chegarem na ponta, justificam o momento. “O Fimac FGTS lançado pelo governo ainda não aconteceu”, lamenta.

Futuro nebuloso

Este trimestre também não deve dar alento ao comércio. Segundo a Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra no Varejo, o índice de consumidores que pretendem adquirir algum bem durável nos próximos três meses registrou queda de 4,2 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre, passando de 58% para 53,8%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o índice foi de 72,4%, a retração é ainda mais expressiva, de 18,6 pontos percentuais.

O setor de eletroeletrônicos está entre os principais afetados pela contenção de gastos da população. Se no segundo trimestre a intenção de adquirir bens no ramo chegava a 7,2%, agora é de 3%, redução de 58,3%. Informática (-26,8%), linha branca (-13,7%) e cine e foto (-16,7%), também estão entre os segmentos que devem amargar retração nas vendas por conta da cautela do consumidor. As estimativas levaram a uma revisão do cenário de crescimento do varejo para este ano. “Acreditamos que a expansão será de 5,4%, contra a alta de 12% no ano passado”, avalia Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Conselho do Provar/Ibevar.

Desafio é ter sustentabilidade

Para o setor varejista, o consumidor mais esclarecido e com acesso a mais informações sobre o verdadeiro poder de compra da moeda, desde o surgimento do real, também contribuiu para o crescimento das empresas. “Antes, a inflação era um grande inimigo do consumidor, assim como do lojista, já que era um obstáculo às compras”, lembra o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva. A oferta de linhas de crédito por financeiras, bancos e pelos próprios lojistas completou o ciclo de incremento ao consumo, segundo ele. “Antes, como tudo era muito inconstante, este consumidor ficava refém da economia. Hoje, ele pode administrar melhor o seu dinheiro e aplicá-lo não só em bens de consumo duráveis mais sofisticados e de alta tecnologia, assim como no lazer”, reforça o vice-presidente.


Para o especialista em varejo e diretor de planejamento da B1 Comunicação e Marketing, Bira Miranda, nesse momento de euforia em que o novo consumidor tenta recuperar o tempo perdido e passa a comprar mais volta o risco de alta da inflação, combinado à baixa das taxas de juros. E com isso, o próprio consumidor poderá sair prejudicado mais à frente. O momento, segundo ele, exige da população um comportamento preventivo com relação à gestão de sua renda. “O interessante é ele nunca comprometer mais de 70% dos ganhos com gastos fixos e sempre reservar 30% da renda”, diz.


Cautela


De acordo com Miranda, a ponderação com os gastos é necessária porque o consumidor fica exposto às mudanças na política monetária, entre declínios e elevação de juros, um dos principais instrumentos usados pelo governo para frear o consumo e o aumento dos preços. “É importante que o consumidor, antes de comprar, racionalize aquele gasto porque, sempre que houver picos de consumo como o que vemo hoje, vem a inflação e os juros voltam a subir para frear o processo de crescimento”, explica.


Para que nos próximos anos o consumo e o varejo continuem crescendo de forma sustentável serão necessárias reformas tributárias, trabalhistas e políticas, para reduzir alta carga fiscal, o alto custo dos contratos de trabalho e gastos públicos elevados. “Sem elas, o comércio perde competitividade”, afirma o vice-presidente da CDL. “Nenhum empresário quer deixar de pagar impostos, mas quer que eles sejam mais justos. Assim poderemos concorrer com os países que oferecem produtos com preços menores e essas reformas chegariam ao consumidor”, completa.

 


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