Sufocada pela concorrência predatória dos importados, a indústria têxtil e de vestuário está desenvolvendo pedido de regime de tributação diferenciado para o governo federal, além de salvaguarda para o setor de confecções, segundo informações do presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz. Beneficiada por medidas de desoneração da folha de pagamentos e aumento da margem de preferência – o governo poderá pagar até 20% mais nas licitações para a compra de produtos dos setores de confecções, calçados e artefatos –, a indústria continua amargando resultados ruins.
No primeiro semestre do ano, as importações no setor têxtil subiram 9,9% em relação ao mesmo período de 2011 (de US$ 3 bilhões para US$ 3,2 bilhões), enquanto as exportações desabaram 13,5%, fechando em US$ 611 milhões. No vestuário o cenário é ainda mais preocupante, com importações crescendo 39% e exportações em retração de 17%, totalizando US$ 71 milhões, contra US$ 84,6 milhões nos primeiros seis meses do ano passado. Somente em junho, a queda foi de 43% em relação a junho de 2011. “Temos discutido tópicos com o governo federal e os contatos têm sido produtivos”, observa Diniz.
A retração na produção verificada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 7,5% na indústria têxtil e de 12,8% na de vestuário, somente no primeiro semestre. Segundo Michel Aburachid presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG), até maio deste ano o faturamento do setor já era 6% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. “O importado hoje já chega a representar 35% do mercado de vestuário.”
Para Diniz, a implantação de salvaguarda para a indústria da confecção trará um grande alento ao mercado. “Se provarmos que está havendo danos para a indústria local, pode ser limitada a quantidade destes produtos que entram no Brasil durante dois a cinco anos”, explica “Protegendo a indústria do vestuário, a têxtil será automaticamente beneficiada”, acrescenta.
Redução Os efeitos já estão sendo sentidos no mercado de trabalho. Na última terça-feira, a Companhia Industrial Cataguases, na Zona da Mata mineira, reduziu em 10% o quadro de funcionários, com a demissão de 153 pessoas. “A necessidade de cortar despesas, baixar estoque e ajustar a produção em função da retração no mercado e da concorrência de produtos importados motivou a decisão”, explica o diretor presidente da empresa, José Inácio Peixoto Neto.
Adelmo Pércope Gonçalves, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem no Estado de Minas Gerais, reconhece que o setor de camisaria, hoje o principal mercado da Cataguases, está entre os mais afetados pela concorrência. “Esse é um dos segmentos mais atingidos na linha de algodão. Sintéticos também sofrem bastante”, acrescenta. No primeiro semestre do ano, o saldo de vagas no setor é de 663 postos de trabalho, contra 2.060 no mesmo período de 2011, queda de quase 70%.
Queda de produção e emprego
Brasília - Dados sobre a indústria brasileira, divulgados ontem, mostram que o setor deve ter fechado o segundo trimestre com indicadores de produção e emprego abaixo dos verificados nos três primeiros meses do ano. O uso da capacidade do setor caiu pelo quarto mês consecutivo em maio e chegou ao menor nível desde setembro de 2009 (80,7%), de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Além de produzir abaixo da capacidade, a indústria registrou queda no nível de emprego e nas horas trabalhadas, em relação ao mesmo período de 2011, pelo segundo mês seguido. O indicador de horas é o que aponta maior queda, pois muitos empresários optam por férias coletivas e turnos menores para não demitir, diz a CNI. Entre os indicadores industriais, apenas o faturamento mostra recuperação em relação ao ano passado. Isso ocorre porque os incentivos ao consumo contribuíram para elevar as vendas. A produção, no entanto, não reage, pois os estoques continuam elevados.
Em relação a abril, todos os indicadores recuaram, exceto o emprego, que ficou estável. Os dados confirmam os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta semana, que indicaram maior retração da indústria.