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Estado de Minas

Indústria se prepara para disputar demanda de US$ 400 bilhões das petroleiras


postado em 12/07/2012 06:00 / atualizado em 12/07/2012 07:51

A produção de compressores para bombas de abastecimento de Gás Natural Veicular (GNV) marca uma espécie de nova era na fábrica da mineira Junqueira Compressores e Máquinas Ltda, instalada no Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Com investimentos iniciais de R$ 20 milhões, a empresa decidiu se antecipar à forte demanda de equipamentos e serviços anunciada no Brasil pela indústria de petróleo e gás. Em associação com a distribuidora Alternativa, do grupo também mineiro Redep Combustíveis, a Junqueira pôs em marcha outro projeto, uma planta industrial de liquefação de gás. É só o começo dos planos do sócio-proprietário José Maria Meireles Junqueira para aproveitar o mercado que o setor promete abrir, com aportes estimados em US$ 400 bilhões no país até 2020.

“O futuro depende das oportunidades que teremos na Petrobras e outras petroleiras, mas já estamos nos antecipando com novas tecnologias e produtos”, afirma Meireles Junqueira. Pequenas empresas se movimentam para seguir os passos de grandes companhias já envolvidas na onda de inovação que a indústria de óleo e gás tem puxado para atrair fornecedores de peças, equipamentos e serviços. Segundo levantamento da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) – fórum de cooperação entre as companhias de processamento e transporte, organismos governamentais e agências de fomento –, mais de 70 petroleiras estão atuando no mercado brasileiro, algumas delas em parceria com a Petrobras.

Os grandes fornecedores que se lançaram nesse mercado, a exemplo das siderúrgicas Usiminas, Aperam South America e a Goradar, especializada em serviços onshore (em terra) e offshore (em mar) de levantamentos geofísicos, uniram capacidade técnica, investimento em tecnologia e escala de produção ou de fornecimento de serviços, observa Caio Múcio Barbosa Pimenta, superintendente regional da Onip. “Teremos 20 anos de intensa demanda de equipamentos para atender aos investimentos do setor e depois disso uma longa fase de serviços de manutenção”, afirma.

A Usiminas quer brigar sozinha no mercado de aços para a exploração da camada do pré-sal por meio da chamada tecnologia CLC, de resfriamento acelerado de chapas, adquirida da sócia japonesa Nippon Steel. O novo processo gera aços de alta resistência mecânica e composição química mais favorável à soldabilidade, permitindo ganhos de tempo e produtividade na sua aplicação, destaca o vice-presidente de Tecnologia da siderúrgica, Rômel Erwin de Souza. Batizada de série Sincron, a primeira leva de produtos da companhia para a indústria de óleo e gás foi lançada no ano passado.

Os aços destinados à camada do pré-sal estão em desenvolvimento no Centro de Pesquisa da Usiminas na etapa final de testes em escala industrial para que a empresa parta para a homologação. “A Usiminas trabalha para se capacitar à condição de fornecedor de classe mundial. Em termos de América saímos na frente”, diz Rômel Erwin. Ainda dentro do programa de investimentos em tecnologia, a companhia instalou um gaseificador a vácuo na aciaria de Ipatinga, no Vale do Aço mineiro.

Mais rentabilidade Caminho semelhante foi traçado pela Aperam South America (antiga Acesita), que, desde 2009, quando a indústria siderúrgica enfrentou forte baixa do consumo em razão da crise financeira internacional, investe na produção de aços inoxidáveis especiais para equipamentos de exploração marinha. O diretor comercial da companhia, Frederico Ayres Lima, diz que a tecnologia desenvolvida resultou de um trabalho conjunto de pesquisadores brasileiros e franceses para atender a grupos multinacionais clientes da área de óleo e gás que vieram para o Brasil. A homologação dos aços duplex para tubos flexíveis dedicados à exploração marinha obtiveram homologação este ano. “Estamos na etapa de consolidação do produto. Nosso grande desafio é conquistar mais mercados”, afirma.

O consumo dos aços duplex, fabricados na Europa, era praticamente inexistente no país há cinco anos e nos próximos três anos deverá representar cerca de 5% da produção da Aperam, no entanto, cria um nicho de maior rentabilidade e absorção tecnológica para a empresa. O centro de pesquisas da siderúrgica recebeu R$ 22,7 milhões em 2010 e 2011, em contratos de tecnologia e equipamentos para laboratórios. Os pesquisadores desenvolveram seis composições químicas, usando matérias-primas especiais.

Área ganha prioridade

Programas de capacitação de fornecedores e de profissionais para a indústria de óleo e gás estão sendo desenvolvidos em diversos estados e o governo federal criou linhas de empréstimos específicas para apoiar a formação de uma cadeia de produção nacional. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, tornou a área prioritária com financiamentos em todos os estágios das empresas, da incubadora ao empreendimento maduro. Foram também criados os chamados fundos setoriais, que beneficiam as empresas por meio do conhecimento de cientistas e da infraestrutura dos centros de pesquisa.

Buscar a informação, avaliando os cenários de demanda do setor de óleo e gás, e investir no desenvolvimento da competência para atuar no fornecimento e bens e serviços são passos essenciais, alerta o engenheiro José Henrique Diniz, coordenador de Criatividade e Inovação do Ietec - Instituto de Educação Tecnológica, com sede em Belo Horizonte. “Tudo indica que o país vai experimentar um grande desenvolvimento do setor, mas inovação é algo suado, que envolve recursos e pressupõe resultados, sejam econômico-financeiros, sejam do ponto de vista do meio ambiente”, afirma.

Entrevista


Celso Magalhães, Presidente de Novos Negócios da Georadar

Qual é o valor da inovação para os novos fornecedores da indústria de óleo e gás?
Estou no setor de petróleo há 30 anos. Nossa empresa, hoje grupo Georadar, já atuava em obras de engenharia e de mineração de uma forma geral e ingressou no segmento de óleo e gás em 2003. A inovação, para nós, é tão importante que costumo dizer que quando entramos em algum projeto somos sempre uma solução à procura de um problema. A inovação ou a busca por inovação deve ser, antes de tudo, uma postura. Se não temos sucesso, devemos inovar para mudar; se fazemos sucesso, devemos inovar para continuarmos os mesmos.


As empresas no Brasil estão preparadas para atender a demanda no setor?
Sim, mas falta ainda ganharmos escala, isto é, a possibilidade de fazer bem e muito. Precisamos fornecer não só com qualidade, mas, face à demanda de nossas operadoras, é imprescindível fornecer com quantidade em curto prazo. Nosso petróleo, embora abundante, não é fácil. Nossas águas são profundas, nossa infraestrutura (estaleiros, portos, estradas etc.) é escassa; nosso crédito, embora tenha melhorado, ainda é restrito e o desafio de nossas operadoras é grande.

Se a empresa conseguir se cadastrar a fornecer à Petrobras, estará credenciada para brigar no mercado internacional?
Em parte. Sem dúvida, os critérios de qualidade e segurança da Petrobras estão entre os melhores do mundo, mas estão ligados ao nosso ambiente e a nossa cultura, assim como a nossa estrutura trabalhista e fiscal. No caso internacional e para empresas internacionais, são necessárias, às vezes, uma grande readequação e, frequentemente, mudanças significativas. Quem se prepara para atender o mercado brasileiro precisa vencer tantos entraves que fazem as grandes barreiras internacionais parecerem apenas pequenos desvios. É preciso entender que a inovação não só carece de uma postura do empresário, mas também e, fundamentalmente, de um ambiente político e institucional adequado.


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