Sem surpresa ou grande ousadia, o Comitê de Política Monetária (Copom) acompanhou as expectativas do mercado ao cortar em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia. Fixada em 8% ao ano, a Selic alcançou o menor patamar desde o início da série histórica do Banco Central, iniciada em1986, antes em 8,5%. O desempenho da indústria em maio – com produção em queda de 3,4% no acumulado do ano –, associado à perda de ritmo do varejo no mesmo mês, quando as vendas recuaram 0,8%, além de inflação controlada em trajetória de convergência para o centro da meta de 4,5% ao ano, criaram o cenário ideal para que a equipe colegiada procedesse com a oitava redução consecutiva da Selic, iniciada em agosto do ano passado.
A decisão foi unânime. Ao final da reunião, o Banco Central deixou clara a influência da situação inflacionária na revisão da taxa. “O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária.”
Segundo projeções do banco Bradesco, considerados os indicadores de atividade da economia citados, o IBC-BR (estimativa mensal do PIB divulgada pelo Banco Central) registrará queda de 0,9% no mês de maio. Caso o resultado, que será divulgado hoje, se confirme, a projeção de 0,5% de expansão do Produto Interno Bruto no segundo semestre deverá ser revisada para baixo. Para Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, a retração da Selic não deve reverter este cenário. “As medidas são todas positivas, mas não impedirão uma queda da produção industrial em 2012 da ordem de 1,5%. Os cortes serão transmitidos à atividade econômica tão logo a crise de confiança global se dissipe”, avalia.
O sócio-diretor da Global Financial Advisor Miguel Daoud, não aposta em PIB superior a 1,5% este ano. “A questão do crescimento hoje não está atrelada tanto a juros, mas sim aos custos de produção e às deficiências estruturais do país, que são muitas”, avalia o especialista que ainda acrescenta: “Temos que investir, mas infelizmente, neste momento, não há estímulos diante dos altos custos”, pondera.
As incertezas no cenário internacional, principalmente em relação ao crescimento da economia chinesa, também minam uma retomada mais efetiva da indústria. “O mundo vive uma sobreoferta de produtos manufaturados com a crise de demanda nas economias maduras”, avalia Octavio de Barros. Para o setor, a redução dos juros só deve ter efeito em pelo menos seis meses.
Os efeitos reais mais tangíveis da queda da Selic, segundo avaliação do especialista do Bradesco está na mudança do cenário da taxa de câmbio, agora mais depreciada diante da fuga de capitais. “Reduz ainda endividamento das famílias e empresas e também as distorções históricas de Selic e TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), o que abre novas perspectivas para o papel do BNDES a médio prazo”, analisa Barros.
Barreira Apesar da falta de dinamismo da economia, mesmo diante dos esforços do governo, a continuidade da queda da Selic esbarra em uma dificuldade. “Um processo rápido de redução pode aumentar a concentração bancária já que as instituições terão que aumentar o seu esforço de captação. Os pequenos e médios não aguentam”, observa o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal Celso Grisi ao citar, como exemplo, a recente joint-venture entre BMG e Itaú. “Como essa, virão outras”, acrescenta Grisi.
Ganhos e taxas caem
Nos rendimentos da poupança, as consequências do corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros serão instantâneas. Pelas novas regras, a rentabilidade da tradicional caderneta será de 70% da Selic. Com a taxa em 8% ao ano, o retorno será de 0,46% ao mês. Até ontem, a variação era de 0,48%. Se o Banco Central decidir manter os juros básicos nesse nível até julho de 2013, por exemplo, o rendimento total do período será de 5,60%. A projeção do mercado, porém, é de que a Selic caia mais 0,50 ponto percentual na próxima reunião em agosto, para 7,5% ao ano, o que, caso se confirme, irá reduzir o ganho da poupança para 0,43% mensal e 5,25% anual.
Ganhos na ponta do consumo, também são sentidos, porém, com mais lentidão. Assim que a decisão do Copom foi anunciada, o Banco do Brasil reduziu os custos para linha de crédito de uma faixa de 2,23% a 3,82% ao mês, para intervalo de 2,21% a 3,79%. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média dos financiamentos cairá menos de 1 ponto percentual no ano, passando de 105,32% (com a Selic em 8,5%) para os atuais 104,39%. A sutileza na redução não deve ser o único impeditivo para elevar a demanda por crédito e consequentemente as compras. “Apesar do impacto para os juros de consumo, as pessoas já compraram o que podiam. As famílias estão muito endividadas”, pondera o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Samy Dana.
Esta é a principal justificativa para que a retração dos juros na ponta seja mais morosa e não alcance a mesma dimensão dos cortes feitos pelo Copom. Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), explica que a Selic é só um dos elementos que pesam sobre o custo do dinheiro.
A inadimplência, os depósitos compulsórios (percentual que os bancos são obrigados a guardar no Banco Central) e custos administrativos, também têm grande peso na formação das taxas. “É preciso ver o custo de funding de cada instituição. As taxas vão depender de quanto o banco paga para captar recursos”, avalia. “Para reduzir o custo dos financiamentos no Brasil verdadeiramente, é preciso primeiro criar um mercado de captação de longo prazo. O que existe é muito incipiente”, acrescenta.
Foi diante da intervenção do governo federal no início do ano – quando o Palácio do Planalto mandou os bancos públicos baixarem as taxas para pressionar a concorrência privada a fazer o mesmo – que os consumidores finalmente puderam ver resultados mais imediatos e com maior impacto no bolso. Segundo cálculos de Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac, enquanto a Selic caiu 4,5 pontos percentuais de julho de 2011 até ontem, os juros ao consumidor reduziram 14 pontos. (PT com Victor Martins)
A decisão foi unânime. Ao final da reunião, o Banco Central deixou clara a influência da situação inflacionária na revisão da taxa. “O Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária.”
Segundo projeções do banco Bradesco, considerados os indicadores de atividade da economia citados, o IBC-BR (estimativa mensal do PIB divulgada pelo Banco Central) registrará queda de 0,9% no mês de maio. Caso o resultado, que será divulgado hoje, se confirme, a projeção de 0,5% de expansão do Produto Interno Bruto no segundo semestre deverá ser revisada para baixo. Para Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, a retração da Selic não deve reverter este cenário. “As medidas são todas positivas, mas não impedirão uma queda da produção industrial em 2012 da ordem de 1,5%. Os cortes serão transmitidos à atividade econômica tão logo a crise de confiança global se dissipe”, avalia.
O sócio-diretor da Global Financial Advisor Miguel Daoud, não aposta em PIB superior a 1,5% este ano. “A questão do crescimento hoje não está atrelada tanto a juros, mas sim aos custos de produção e às deficiências estruturais do país, que são muitas”, avalia o especialista que ainda acrescenta: “Temos que investir, mas infelizmente, neste momento, não há estímulos diante dos altos custos”, pondera.
As incertezas no cenário internacional, principalmente em relação ao crescimento da economia chinesa, também minam uma retomada mais efetiva da indústria. “O mundo vive uma sobreoferta de produtos manufaturados com a crise de demanda nas economias maduras”, avalia Octavio de Barros. Para o setor, a redução dos juros só deve ter efeito em pelo menos seis meses.
Os efeitos reais mais tangíveis da queda da Selic, segundo avaliação do especialista do Bradesco está na mudança do cenário da taxa de câmbio, agora mais depreciada diante da fuga de capitais. “Reduz ainda endividamento das famílias e empresas e também as distorções históricas de Selic e TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), o que abre novas perspectivas para o papel do BNDES a médio prazo”, analisa Barros.
Barreira Apesar da falta de dinamismo da economia, mesmo diante dos esforços do governo, a continuidade da queda da Selic esbarra em uma dificuldade. “Um processo rápido de redução pode aumentar a concentração bancária já que as instituições terão que aumentar o seu esforço de captação. Os pequenos e médios não aguentam”, observa o diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal Celso Grisi ao citar, como exemplo, a recente joint-venture entre BMG e Itaú. “Como essa, virão outras”, acrescenta Grisi.
Ganhos e taxas caem
Nos rendimentos da poupança, as consequências do corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros serão instantâneas. Pelas novas regras, a rentabilidade da tradicional caderneta será de 70% da Selic. Com a taxa em 8% ao ano, o retorno será de 0,46% ao mês. Até ontem, a variação era de 0,48%. Se o Banco Central decidir manter os juros básicos nesse nível até julho de 2013, por exemplo, o rendimento total do período será de 5,60%. A projeção do mercado, porém, é de que a Selic caia mais 0,50 ponto percentual na próxima reunião em agosto, para 7,5% ao ano, o que, caso se confirme, irá reduzir o ganho da poupança para 0,43% mensal e 5,25% anual.
Ganhos na ponta do consumo, também são sentidos, porém, com mais lentidão. Assim que a decisão do Copom foi anunciada, o Banco do Brasil reduziu os custos para linha de crédito de uma faixa de 2,23% a 3,82% ao mês, para intervalo de 2,21% a 3,79%. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média dos financiamentos cairá menos de 1 ponto percentual no ano, passando de 105,32% (com a Selic em 8,5%) para os atuais 104,39%. A sutileza na redução não deve ser o único impeditivo para elevar a demanda por crédito e consequentemente as compras. “Apesar do impacto para os juros de consumo, as pessoas já compraram o que podiam. As famílias estão muito endividadas”, pondera o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), Samy Dana.
Esta é a principal justificativa para que a retração dos juros na ponta seja mais morosa e não alcance a mesma dimensão dos cortes feitos pelo Copom. Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), explica que a Selic é só um dos elementos que pesam sobre o custo do dinheiro.
A inadimplência, os depósitos compulsórios (percentual que os bancos são obrigados a guardar no Banco Central) e custos administrativos, também têm grande peso na formação das taxas. “É preciso ver o custo de funding de cada instituição. As taxas vão depender de quanto o banco paga para captar recursos”, avalia. “Para reduzir o custo dos financiamentos no Brasil verdadeiramente, é preciso primeiro criar um mercado de captação de longo prazo. O que existe é muito incipiente”, acrescenta.
Foi diante da intervenção do governo federal no início do ano – quando o Palácio do Planalto mandou os bancos públicos baixarem as taxas para pressionar a concorrência privada a fazer o mesmo – que os consumidores finalmente puderam ver resultados mais imediatos e com maior impacto no bolso. Segundo cálculos de Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac, enquanto a Selic caiu 4,5 pontos percentuais de julho de 2011 até ontem, os juros ao consumidor reduziram 14 pontos. (PT com Victor Martins)