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Estado de Minas

PIB não mede nação, diz Dilma

Prévia do indicador recua 0,02% em maio, em novo sinal de que as medidas para aquecer a economia não incrementaram consumo e produção, mas presidente minimiza os números


postado em 13/07/2012 06:00 / atualizado em 13/07/2012 06:49

Diante da confirmação de que o Brasil não cresceu em maio na comparação com abril, a presidente Dilma Rousseff declarou em discurso, na IX Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, que um país não deve ser medido pelo seu Produto Interno Bruto (PIB). “Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crianças e seus adolescentes”, declarou. A verdade é que o Brasil nunca fez tanto por seu PIB. Somente no primeiro semestre, o governo já desembolsou R$ 102 bilhões com o anúncio de oito pacotes que incluíram desoneração fiscal e redução de custos na folha de pagamento de diversos setores produtivos. Todo o esforço com o claro objetivo de alavancar a retraída atividade econômica brasileira.

Mas nada parece surtir grandes efeitos. O Banco Central divulgou ontem que o indicador que serve de prévia para o crescimento do PIB recuou 0,02% de abril para maio, mostrando clara estagnação da economia. Apesar de fraco, o resultado poderia ser ainda pior se consideradas as expectativas do mercado, que giravam em torno de 0,5%. No ano, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) acumula crescimento de 0,4% e de 1,27% nos últimos 12 meses. O desempenho pode comprometer o resultado do segundo trimestre e impedir que 2012 registre uma taxa de expansão acima de 2%.

As expectativas agora se voltam para junho, mês que carrega a expectativa de ser o início da retomada e que, se apresentar um bom resultado, pode garantir uma expansão até 0,5% para o segundo trimestre do ano – números que, se confirmados, serão motivo de comemoração no Palácio do Planalto.

Conforme os dados de atividade são divulgados, especialistas alertam que fica mais evidente a fragilidade do país comparado a outras economias, que, mesmo em crise, vão crescer mais que o Brasil. Enquanto aqui o teto das projeções está em 2% para 2012 – com apostas cada vez próximas de 1,5% – , nos Estados Unidos, que enfrenta desemprego e sérios problemas de consumo, a expectativa é de uma expansão entre 2,2% e 2,7%. “Isso com uma inflação de 2% ao ano por lá”, observou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank. “Como um país que não cresce, como o Brasil, tem uma inflação acima de 4,5%?”, questionou.

Eduardo Velho, economista-chefe da corretora PlannerProsper, calcula que, se o país avançar 1% em junho e crescer a uma taxa média de 0,5% nos meses seguintes, ainda assim o PIB do ano chegaria apenas a 2%. “Um cenário, na nossa avaliação, que tem baixa possibilidade de ocorrer”, disse.

Amortecedor

Para Luiz Fernando Pires, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), as medidas anunciadas pelo governo impediram uma retração maior no ritmo de crescimento do país. “Sem elas, a retração seria mais acentuada, mas é pouco provável que estimularão grande dinamismo. Para isso, seriam necessárias medidas mais profundas”, observa.

Na avaliação de economistas, as medidas de estímulo também conseguiram zerar os elevados estoques da indústria, que desde o fim do ano passado seguia em marcha lenta devido à dificuldade na venda. “Os indicadores de junho já sugerem melhora, o que pode significar um PIB de 0,5% no segundo trimestre”, ponderou Fernanda Consorte, economista do Santander.

Resultados mais efetivos esbarram no alto comprometimento da renda das famílias e na falta de perspectivas positivas para a indústria. “Para que os empresários invistam, é preciso vislumbrar o retorno que terá sobre o capital. Se os ambientes interno e externo não favorecem, aumenta o receio”, avalia a professora de economia da FGV/IBS Virene Roxo Matesco.

Lá fora, incertezas quanto ao crescimento da China e contágio da crise europeia se encarregam de esfriar os ânimos por aqui. “O mercado lá fora está demandando menos das empresas nacionais e, por aqui, as famílias estão com a renda muito comprometida, o que cria um cenário de recuo nas expectativas das famílias e empresas”, avalia o gerente de economia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais Guilherme Leão.

De acordo com o BC, o endividamento das famílias alcançou o seu maior nível, com 43,3% da renda acumulada nos últimos 12 meses até maio comprometida com o pagamento de dívidas. Em números absolutos, os brasileiros devem R$ 81,7 bilhões, conta que tem impedido as famílias e empresas de aproveitar as reduções da Selic e os benefícios tributários para a aquisição de veículos e outros bens.

 

Recorde também de cheques sem fundos

 
Consumo menor, inadimplência e dívidas maiores. E mais cheques sem fundos devolvidos na praça. Esse é o cenário vivido pelo varejo nos últimos meses, apesar das estratégias do governo para estimular o consumo por meio do crédito mais fácil. No primeiro semestre deste ano foram devolvidos 2,07% dos cheques em todo o país, segundo o Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos. Foi o maior volume de devoluções para o acumulado de janeiro a junho desde 2009, quando foram retornados 2,30% dos cheques.

Do total de 458,17 milhões de cheques compensados, 9,48 milhões foram devolvidos no primeiro semestre deste ano. “A inadimplência com cheques vem subindo junto com o endividamento do consumidor”, analisa Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian. Na hora de receber o cheque pré-datado, diz, que é uma forma de crédito, o varejista costuma conferir apenas a carteira de identidade do consumidor, sem fazer análise cadastral mais profunda.

Se for considerada a relação entre os cheques compensados no primeiro semestre de 2012 e em igual período de 2011, há uma queda de 10%, e nos cheques sem fundos de 3,6%. Ou seja, o volume de cheques sem fundos despejados na praça caiu bem menos, o que prova que os cheques estão perdendo qualidade.

O levantamento de cheques sem fundos, segundo Almeida, segue a linha de queda das vendas no varejo e aumento na inadimplência do consumidor, divulgados nesta semana pela Serasa e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro semestre deste ano, a inadimplência teve alta de 19,1% em relação ao mesmo período de 2011, segundo a Serasa. É a maior alta desde o primeiro semestre de 2002. As vendas no comércio varejista registraram queda de 0,7% em maio, na comparação com abril, segundo o IBGE. É a maior retração desde novembro de 2008.

Queda

A partir do segundo semestre, a Serasa espera que a inadimplência do consumidor caia gradualmente e que o volume de cheques sem fundos também tenha redução. O aumento do consumo da classe C e a inserção das classes D e E no mercado de crédito ajudaram a elevar a taxa de inadimplência, na avaliação da Serasa. “São consumidores que não têm vivência no financiamento. Mas não dá para falar de bolha de consumo”, analisa Almeida.


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