Começam a tomar forma os primeiros projetos do setor privado que prometem abrir no Norte de Minas Gerais uma nova fronteira da exploração de minerais no estado, mais de 300 anos depois da corrida às reservas do Quadrilátero Ferrífero, na Região Central. Dentro de cinco anos, devem chegar a R$ 8,6 bilhões os aportes em jazidas de minério de ferro e ouro encontradas em municípios do Norte mineiro, especialmente, Grão Mogol, Riacho dos Machados, Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Padre Carvalho e Serranópolis de Minas. Elas fazem parte de um grupo de duas dezenas de cidades, onde foi descoberta uma superjazida de minério de ferro estimada em 12 bilhões de toneladas, de acordo com o governo mineiro.
A Sul Americana de Metais (SAM), empresa do grupo Votorantim, deu início no mês passado ao licenciamento do Projeto Vale do Rio Pardo, para produzir 25 milhões de toneladas por ano de minério de ferro a partir de 2015 em Grão Mogol e Padre Carvalho. A Mineração Riacho dos Machados, do grupo canadense Carpathian Gold, concluiu a etapa inicial de licenças para iniciar em agosto as obras da reserva de ouro que adquiriu da Vale no município que dá nome à empresa, com volume estimado de 3 toneladas por ano em um ano e meio.
A Vale anunciou em junho do ano passado a intenção de extrair ferro em Serranópolis de Minas, Riacho dos Machados, Grão e Rio Pardo de Minas, com potencial para produzir 600 mil toneladas anuais. Em nota, a companhia informou, ontem, que está discutindo o projeto com técnicos do governo de Minas, “em virtude de ajustes necessários à condução do projeto”. Outro empreendimento anunciado em 2010 e ainda pendente de confirmação é a extração de ferro em Grão Mogol e Porteirinha pela antiga Mineração Minas Bahia, adquirida pela empresa do Cazaquistão ENRC, dona da Bahia Mineração (Bamin).
Além de grande projetos que ganharam viabilidade com a demanda de minérios aquecida da China e da Ásia, continuam as pesquisas em diversas municípios, prova do interesse da indústria, para o governo de Minas, segundo Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de Política Mineral e Energética. “Grão Mogol começa a acreditar no futuro da mineração”, afirma. A SAM elevou o investimento em R$ 1 bilhão, para R$ 4,2 bilhões até 2015. A cifra contempla um mineroduto para levar o minério ao porto de Ilhéus, na Bahia, uma usina orçada em R$ 2,7 bilhões, duas barragens e um sistema de irrigação para as comunidades locais.
A usina de beneficiamento do minério é a maior instalação industrial do projeto, necessária para elevar os baixos teores de ferro contido de 20% para 65%, tornando a matéria-prima um produto rentável no mercado internacional, observou o diretor executivo da SAM, Haroldo Fleischfresser. O interesse do grupo Votorantim nas reservas do Norte de Minas, no entanto, não para nesse empreendimento. “Estamos começando a pensar numa possível expansão. A região tem muito minério pobre, mas que é processável”, disse. A SAM se associou à empresa chinesa Honbridge Holdings, que já assegurou a compra de 20 milhões de toneladas por ano para atender siderúrgicas do gigante asiático.
Para municípios essencialmente agrícolas e uma das regiões mais carentes do estado, os projetos da mineração são encaradas como alternativa de geração de emprego e renda, na visão do governo estadual. “O Norte de Minas se tornou a bola da vez na atração de investimentos”, diz Gil Pereira, secretário de Desenvolvimento dos Vales do Jequtinhonha, Mucuri e Norte de Minas.