Em uma semana, o Banco BMG derrubou as apostas de que seria vendido para o BTG ou o Bradesco e fechou uma parceria inédita com o Banco Itaú se valendo de um dos seus maiores trunfos: a liderança na concessão de crédito consignado. Vice-presidente executivo do BMG, Márcio Alaor de Araújo comemora a parceria que vai resultar na criação de um novo banco, o Itaú BMG Consignado, que atuará exclusivamente na concessão de crédito com desconto em folha de pagamento e permitirá ao BMG se manter operando como é hoje.
Com a associação, o banco mineiro terá uma linha mensal de R$ 300 milhões do Itaú para operar por três anos. Em 90 dias, quando o novo banco começar a operar, outros R$ 300 milhões mensais serão disponibilizados para a joint venture e nesse caso será por cinco anos. “É um novo segmento que se abre para o BMG nessa joint venture. O banco passa a financiar também os funcionários de empresas privadas e isso aí é um mercado gigante”, afirma Márcio Alaor em entrevista ao Estado de Minas.
O BMG estava negociando com outros bancos. Por que a opção de se associar ao Itaú?
Até a semana passada as negociações com Bradesco e BTG envolviam a compra total, do controle. Mas no sábado passado nós recebemos um telefonema do Roberto Setubal (presidente executivo do Itaú Unibanco) com uma outra opção para o BMG, que não muda nada no banco atual e nos dá uma perspectiva boa de futuro. O Itaú também nos deu uma opção interessante porque a partir da parceria ele vai dar dinheiro, funding para o BMG, que passa a ter uma linha de crédito mensal de R$ 300 milhões até a constituição da joint venture – que vai demorar em torno de 90 dias. A partir do momento que a joint-venture começar a operar, ele vai nos dar funding até R$ 3,5 bilhões, durante cinco anos, ou seja, R$ 300 milhões por mês.
A diferença é que agora vai ser aportado no BMG e no futuro próximo na joint-venture?
Não, é melhor do que isso. Na verdade eu vou ter funding tanto no BMG, que é essa linha mensal de R$ 300 milhões por três anos, quanto na joint venture. E o BMG continua operando normalmente, com 30% da carteira de consignado e a carteira de recebíveis. Então esse é o BMG atual e que vai continuar.
Incluindo as operações que foram adquiridas recentemente, como o Banco Schahin?
Tudo fica no BMG e não muda nada. Agora, o que está nos motivando muito é a joint-venture, que vai se chamar Itaú BMG Consignados. É um banco exclusivamente de consignados. O BMG vai ser sócio de 30%, o acionista do BMG vai colocar R$ 300 milhões de recursos próprios para o capital desse banco e o Itaú vai aportar R$ 700 milhões. É um banco que nasce com um patrimônio de R$ 1 bilhão, que é muito bom. E esse banco a gente tem como alavancar até 11 vezes. E obviamente que esse banco vai crescer muito, porque 70% da produção do BMG hoje de consignado vai toda para esse novo banco e com uma condição muito boa, porque o Itaú vai passar para essa joint venture um custo de captação que é o mesmo que suas agências tem. Para dar uma referência, uma agência Itaú hoje deve ter um custo de captação em torno de 105%, enquanto o BMG tem um custo de 130%, porque o dinheiro estava bem escasso. Então, só isso já nos dá uma margem muito boa para crescer, para desenvolver e beneficiar o cliente.
Um parte da carteira de consignado do BMG passa para a joint venture?
O BMG tem hoje uma carteira de R$ 29 bilhões. Isso é BMG. A partir da constituição da joint venture, o que eu produzir mensalmente – o BMG hoje faz em torno de R$ 600 milhões e nós já chegamos a fazer um R$ 1 bilhão – é do Itaú BMG Consignados. Essa é a nossa meta no novo banco. A gente quer fazer R$ 1 bilhão por mês nesse novo banco e a gente sabe que tem condição para isso, nós temos uma rede de aproximadamente 700 correspondentes e todos permanecem no BMG e serão também cadastrados no Itaú BMG.
Mas não vai haver uma concorrência interna?
Não, pelo seguinte, isso vai ser muito bem definido. O que acontece: nós temos uma carteira atual no BMG onde o cliente está sempre refinanciando. Ele pega um empréstimo de R$ 1 mil, ele paga 30% desse empréstimo e volta querendo mais dinheiro. Tudo que for refinanciamento nós vamos fazer no BMG e tudo que for contrato novo a gente faz no Itaú BMG. Então, não tem a menor dificuldade.
A tendência é que a carteira de consignados do BMG diminua ou se acomode a essa nova realidade?
É verdade. Isso vai acontecer sim. Mas só que a gente vai crescer outros ativos, nós vamos ter custos menores. Para você ter uma idéia, a partir do momento que nós anunciamos essa parceria, o nosso custo de captação já caiu drasticamente. uma concessão de crédito que estava em CDI mais 3% ou 3,5% caiu para CDI mais 2%. Então, caiu muito. O próprio depósito a prazo, que no mercado hoje, com crise lá fora e a crise interna estava difícil, nós já voltamos a captar. Os clientes voltaram a fazer aplicações em CDB.
Hoje qual é o giro com recebíveis no banco e qual a perspectiva de crescimento?
Essa carteira de recebíveis é uma carteira que a gente está muito animado com ela. O BMG chegou a ter, até dezembro do ano passado, R$ 2,5 bilhões e depois, com a crise, obviamente, houve uma segurada e não crescemos mais. Hoje ela está em torno de R$ 1,7 bilhão, mas é uma carteira que você consegue crescer muito rápido. Nos últimos meses do ano passado o banco estava produzindo em torno de R$ 500 milhões por mês nessa carteira de recebíveis. E nós vamos voltar a ativar essa carteira.
Hoje a produção dessa carteira está em quanto?
Hoje está em torno de R$ 150 milhões por mês. Então, nós vamos voltar a um patamar de R$ 500 milhões. E a grande vantagem dessa carteira é que ela é muito segura, porque a gente opera com empresas que já fecharam contratos com Petrobras, com a Prefeitura do Rio, a Prefeitura de Belo Horizonte e os clubes de futebol que têm contratos com a Globo e que antecipam recebíveis.
É possível voltar a esse patamar de R$ 500 milhões mesmo com a conjuntura de crise atual, mas restritiva?
Claro. É claro que nós vamos tomar todos os cuidados necessários. Hoje tem uma inadimplência alta em termos de mercado financeiro, mas como o nosso crédito é consignado, não tivemos nenhum problema de inadimplência. Ao contrário, nossa inadimplência caiu, ela reduziu, porque é o consignado. Porque que eu estou citando isso, porque o recebível que nós operamos é um recebível líquido e certo e que a empresa, que são grandes empresas, vão pagar para aquele fornecedor na data combinada. Então, é meio que um consignado.
Como o senhor vê a perspectiva de médio prazo. O que o governo está fazendo vai ser suficiente para que o país volte a crescer a taxas de 4%?
A gente entende que a política do governo está certa. A gente não tem nenhum receio de que o Brasil venha a ter algum problema. Não acredito nisso e vejo que, com essa parceria agora, o BMG tem 5 milhões de clientes no consignado, o Itaú pode agregar mais 3 milhões de clientes no consignado e a gente pode crescer muito mais porque o Itaú paga folha de pagamento de várias empresas. E esse é um segmento que se abre para o BMG nessa joint venture. Eu vou passar a operar também os funcionários de empresas privadas e isso aí é um mercado gigante.
Com a parceria, a agência de risco Fitch colocou o BMG sob avaliação. O que isso significa?
Isso é positivo. Eles querem entender o negócio direito, o que é muito bom para nós, porque num momento de mercado ruim ter um aumento de rating vai ser espetacular.