Revisada de 3% para 2,5%, a perspectiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2012 divulgada ontem figura entre as mais otimistas, segundo analistas de mercado. Por aqui, era questão de tempo até que as previsões de expansão da economia rompessem a barreira dos 2% na avaliação de especialistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central (BC). No último boletim, divulgado ontem, os cerca de 100 economistas que participam da apuração reduziram para 1,9% o crescimento estimado para o país este ano, contra 2,01% há uma semana. Este é o 10º corte consecutivo na projeção.
Cada vez mais em linha com as estimativas dos economistas, o PIB ainda pode sofrer novas revisões que o aproximem de 1,5%, já cogitado por parcela do mercado. Para o analista da consultoria Tendências Rafael Bacciotti, a manutenção do patamar de 1,9%, compartilhado pela empresa, dependerá do comportamento do PIB no segundo trimestre. “Para que não seja revisado, o resultado deverá ser de 0,5% de abril a junho e de 1,3% para cada um dos próximos dois trimestres”, calcula Bacciotti. “Só assim para que a variação fique mais próxima de 2%. Caso contrário, virá ainda mais baixa”, acrescenta.
Para o professor de economia do Insper e presidente da consultoria BMI, Daniel Motta, a grande motivação para os números mais modestos está na queda do PIB chinês, anunciada na última semana. “Que também puxa o nosso para baixo, já que significa retração das nossas exportações para lá e dos investimentos estrangeiros por aqui. Fundos com foco em países emergentes ficam mais conservadores”, explica.
A discrepância entre os índices informados pelo FMI e Banco Central, pode estar tanto atrelada à metodologia adotada como aos dados considerados. “Os agentes internos têm focado muito em números do varejo, produção industrial e exportações, enquanto o FMI pode estar focado em dados mais antigos da economia”, pondera o professor do laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA) José Roberto Savóia. A expectativa é de que as diferenças sejam reduzidas ao longo deste trimestre. “Será quando vamos identificar os impactos das primeiras medidas adotadas pelo governo de redução das taxas de juros, além dos pacotes de incentivo à economia”, observa.
Pode ser, inclusive, que o FMI esteja mais otimistas quanto a esses efeitos, enquanto muitos analistas consideram a política de fomento ao consumo interno como tábua de sustentação do PIB, já esgotada. “O mercado vem sinalizando que não podemos contar com grandes mudanças diante do interesse cada vez menor das pessoas, já endividadas, em comprometer ainda mais a renda”, diz Savóia.
Na lanterna
O modelo econômico calçado no consumo doméstico coloca o Brasil na última posição de crescimento do PIB entre os emergentes, liderados por China e seguidos por Índia, Rússia e África do Sul, os chamados Brics. Segundo estimativas do FMI, o dragão asiático deverá crescer 8% este ano, percentual que também é considerado otimistas diante do posicionamento do próprio governo chinês, que já admite expansão próxima a 7,5%. Com avanço também revisado, a Índia deve fechar 2012 com PIB 6,1% maior (veja quadro). Na contramão, Rússia e África do Sul tiveram o crescimento estimado para cima, passando de 3,3% para 4,0% e de 2,5% para 2,6% respectivamente.
“O governo se baseou em duas vias de crescimento. Uma de estímulo muito forte ao consumo, via programas sociais e facilitação do crédito”, avalia Motta, do Insper. “Outra é de pautar as exportações em commodities. Ambas sem muita possibilidade de resultados, já que os preços das commodities não deve subir mais este ano, enquanto o alto endividamento barra novas compras”, analisa ao tentar justificar a distância entre o Brasil e seus parceiros emergentes.
O baixo volume de investimentos se mostra o principal gargalo nacional. “Aqui, os investimentos respondem por menos de 20% do PIB, enquanto na China estão acima de 35%”, pondera Motta. O resultado é um crescimento de 5,6% das economias emergentes. Na outra ponta, as consideradas economias avançadas, que incluem Estados Unidos, Japão e países da Zona do Euro, avançam 1,4% no ano, segundo o relatório Panorama Econômico Mundial, do FMI. Na média mundial, a autoridade internacional manteve as estimativas delineadas no último relatório, em abril, quando previu PIB de 3,5% para este ano.
Indicador despencou 2,43% em MG
Enquanto o Brasil registrou queda de 0,02% do PIB em maio – na comparação com abril –, segundo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (BC), o IBC-Br, Minas Gerais fechou o quinto mês do ano com PIB dilapidado em 2,43%, afetado, sobretudo, pela menor produção de carros na Fiat e pela diminuição do ritmo da Usiminas. Outro estado estremamente dependente do desempenho da indústria, São Paulo amargou retração de 0,66% no mesmo período.
Alguma reação, no entanto, tem sido esboçada no Centro-Oeste e no Nordeste, regiões que mantiveram as forças e cresceram, respectivamente, 1,20% e 0,33% em maio. Puxadas por um aumento da massa salarial, do consumo de serviços e bens duráveis, e por uma ligeira recuperação do agronegócio, as cidades nessas regiões têm impedido que a fraqueza da indústria derrube totalmente o crescimento do país.
A pujança do Centro-Oeste pode ser medida ainda pelo consumo de energia. A demanda total foi de 2,03% e a da indústria, mesmo afligida pela crise, avançou 8,78%. No Nordeste, os dados são mais amenos, mas igualmente positivos, avanço de 2,93% no total e crescimento de 2,47% para o setor produtivo, segundo dados da Eletrobras. No Sudeste, por sua vez, a indústria usou 3,09% menos eletricidade entre abril e maio. O gasto total, somando o residencial, comercial, industrial e outros, encolheu 5,18%.
O economista-chefe da gestora de recursos Sul América Investimentos, Newton Rosa, pondera que na região central do país e no Nordeste o crescimento da renda e a melhora das condições na agricultura afetaram positivamente o PIB. “Com a alta do preço da soja e do milho, produtores dessas regiões obtiveram aumento de renda, isso dá sustentação para a renda no interior do país”, argumenta. Nos cálculos dele, o PIB brasileiro, diante desse quadro de desaceleração, deve terminar o ano em 1,5%. Para Mauro Schneider, economista-chefe do banco Banif, o crescimento do PIB no ano fica, no máximo, em 1,7%.