O nome de Leonardo Porciúncula Gomes Pereira para a Presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais, causou um rebuliço e suscitou opiniões inflamadas contra e a favor da indicação, feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Surpreendeu o comunicado do próprio ministro Mantega, com a indicação formal, em substituição a Maria Helena Santana, que deixou o cargo em 14 de julho. Além de a lista dos nomes até então cogitados não ter feito sequer uma menção a ele, Pereira, atual vice-presidente de finanças e diretor de relações com investidores da empresa aérea Gol, respondeu um processo justamente na autarquia que, agora, vai presidir.
Chama a atenção o fato de o executivo ter se tornado o preferido da ex-presidente da CVM e do principal integrante da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff apenas 15 dias após pagar R$ 200 mil de multa por não ter publicado Fato Relevante em 28 de julho do ano passado, em razão da revisão das projeções do exercício de 2011da companhia aérea, de acordo com documento da CVM. Fontes do Ministério da Fazenda minimizaram as contestações. Disseram que ele não está mais sendo processado e que foi uma questão puramente burocrática, já resolvida.
Técnicos do Ministério, entretanto, ficaram constrangidos com a escolha de Mantega e de Maria Helena. Analistas de mercado disseram que não pega bem convidar um executivo que foi recentemente processado pelo órgão regulador do mercado, contou um analista. Porém, embora Pereira não seja especialista na área jurídica, como sua antecessora, “é conhecido e tem respaldo no ambiente financeiro“, contou um desses analistas.
Com a BM&F Bovespa se preparando para a concorrência de uma nova bolsa, com os programas de relacionamento, e pela necessidade de regulamentação mais adequada, era preciso uma pessoa com trânsito grande em corretoras, distribuidoras, gestoras, fundos de investimento e no Congresso. Enfim, “alguém que tivesse o apoio político de um ministro forte como Mantega”, avaliou um técnico do ministério. Um outro economista, que também prefere não se identificar, destacou que a indicação de Pereira para a CVM foi um ato “no mínimo complicado” do governo.
Costas largas
Se o Senado fechar os olhos, é possível que o novo presidente da CVM não suporte a cobrança da sociedade. Analistas lembram o caso do ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota. Ele pediu demissão do cargo, pouco mais de um ano depois de assumir a função, por suspeita, divulgada por veículo de grande circulação de que estaria sendo investigado por sonegação fiscal, evasão de divisas e omissão fiscal.
“Não aguentou e pediu para sair. Leonardo Pereira vai precisar mais que costas quentes, precisará de costas largas. O currículo dele, por exemplo, só tem atuação interessante: trabalhou em um Citi (Citibank) problemático, na Globopar partida e na Net vendida. A Gol também já não é a mesma do passado”, ironizou um economista, referindo-se à indicação do ministro Mantega, que contrariou as expectativas de que fosse mantido o diretor da CVM, Otavio Yazbek, presidente interino.