Os mercados pressionaram a Espanha nesta sexta-feira, obrigando o país a financiar-se a taxas insustentáveis após a piora nas projeções econômicos e depois do pedido de ajuda da região de Valência.
A Comunidade Autônoma de Valência (leste) pediu nesta sexta-feira ajuda ao mecanismo criado pelo governo espanhol para socorrer os governos regionais e disse que o financiamento pode chegar a 18 bilhões de euros, conforme informou o Executivo regional em um comunicado.
Com isso, a taxa de risco (juros pagos para financiar-se a dez anos com relação aos da Alemanha, de referência) subiu imediatamente até superar os 610 pontos básicos e os juros dos bônus a dez anos ficaram acima de 7%, nível que os especialistas consideram insustentáveis.
O anúncio de pedido de ajuda de Valência foi a gota d'água, após o governo espanhol ter anunciado que a recessão vivida pelo país desde o primeiro trimestre seguirá em 2013 e que o desemprego acabará 2012 em níveis mais altos que o previsto.
A taxa de desemprego na Espanha, a mais elevada dos países industrializados, deve ficar em 24,6% em 2012, uma cifra ligeiramente superior aos 24,3% esperados inicialmente, anunciou nesta sexta-feira o governo.
Em 2013, o desemprego deve recuar ligeiramente, para 24,3% da população economicamente ativa, e depois cair a 23,3% em 2014, segundo novas previsões macroeconômicas apresentadas pelo Ministério da Fazenda.
"Não há emprego positivo, mas sim uma interrupção da diminuição do emprego em 2013", disse o ministro da Fazenda, Cristóbal Montoro, ao apresentar os dados ao Conselho de Ministros.
Ao final do primeiro trimestre de 2012, o número de desempregados ficou em 24,44% da população ativa, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
"Creio que as más notícias econômicas e financeiras que chegam da Espanha estão desanimando os investidores a comprar a dívida desse país", afirma o analista Raj Badiani, da IHS Global Insight. "A sensação é que o governo espanhol está ficando sem margem de manobra", completa.
Além dos dados ruins sobre emprego, a contração do PIB deve seguir em 2013, disse nesta sexta-feira Montoro, com um recuo de 0,5%, enquanto que o governo previa anteriormente uma ligeira reativação, com um crescimento de 0,2%.
Para 2012, o governo prevê agora uma pequena melhora, com uma contração da economia de 1,5% do PIB, contra 1,7% esperados, o que significa uma recessão levemente menor que o previsto, anunciou Montoro.
Também nesta sexta-feira, os ministros das Finanças da Eurozona aprovaram a ajuda de até 100 bilhões de euros para recapitalizar os bancos espanhóis, anunciaram fontes do Eurogrupo.
A última bateria de medidas de austeridade aprovadas na quinta-feira do Parlamento, que incluem o aumento do IVA, a supressão da pagamento extra de Natal aos funcionários públicos e a redução do auxílio-desemprego a partir do sexto mês, com a finalidade de economizar 65 bilhões de até o final de 2014, não serviram para tranquilizar os mercados.
"O pacote de ajuste implantado pelo governo deve concentrar-se 100% em uma redução do gasto e não em subir a arrecadação através de uma maior pressão fiscal, o que pode limitar o potencial de crescimento da economia", considera Daniel Pingarrón, analista da IG Markets.