Nem os solos de Jimi Hendrix, nem os riffs de Eric Clapton são os acordes entonados por Juninho Afram, guitarrista do Oficina G3, que se repetem insistentemente nos quatro cantos do Brasil. A banda de música gospel e as outras milhares que se multiplicam em cada esquina, principalmente nos palcos das igrejas evangélicas, são apontadas como fator responsável pela comercialização de mais de dois terços dos instrumentos musicais no Brasil. Ou seja, dos quase R$ 2 bilhões que o setor prevê faturar este ano (o equivalente a 1% do mercado mundial), mais de R$ 1,3 bilhão virá da venda de guitarras, microfones, baterias e outros itens necessários para a formação de bandas em igrejas, o que significa crescimento de 10% da indústria. Hoje e amanhã, fabricantes e fornecedores do setor estão de olho nessa clientela e apresentam seus produtos durante a feira Music Show, no Minas Centro, em Belo Horizonte.
A música gospel, na visão dos empresários do setor de música, pode ter até mais poder de atração de novos fiéis que a própria palavra, além de se ter a cultura de contar com educadores musicais em grupos de jovens. Assim, praticamente toda igreja cria sua própria banda e, por consequência, seus integrantes também adquirem instrumentos para treinar em casa. Cálculos do setor consideram necessário investir aproximadamente R$ 8 mil para a criação de uma banda com bateria, duas guitarras, contrabaixo, teclado, dois microfones e os amplificadores necessários para conectar aos instrumentos. A soma mostra que com o valor gasto seria possível formar mais de 160 mil grupos de música evangélica. “O discurso tradicional somente não vai atrair. Não basta só a palavra. Com a música, se conquista o jovem, o que torna o mercado fortíssimo”, afirma Daniel Neves, organizador da Music Show.
No evento, 25 expositores oferecerão mais de 150 marcas para lojistas do comércio especializado. De instrumentos musicais a aparelhos de som e trios elétricos, os mais avançados equipamentos serão apresentados por fornecedores para serem comercializados em lojas de todo o estado. A expectativa é fechar negócios que, juntos, somam mais de R$ 4 milhões. As vendas são restritas a lojas do ramo e escolas, ficando impedidos os negócios no comércio varejista, mas interessados no segmento podem visitar a feira.
Além de fornecedores de instrumentos, a mostra terá ainda negócios na área de áudio e iluminação, palestras e apresentação de luthiers e workshops com profissionais do ramo. O músico, da escola ProMusic, Adriano Campagnani é um dos sete que vão ministrar os workshops.
Um novo mercado promete prosperidade para o setor nos próximos anos. A obrigatoriedade do ensino de música em escolas públicas deve fazer com que se forme novo público consumidor. O proprietário da Sonica – Instrumento do Som, Robson Oliveira, afirma que atualmente as vendas para templos religiosos e seus seguidores representa mais de 60% do seu faturamento, mas, a partir do ano que vem, a expectativa é que haja modificação. Ele acredita a receita da loja deve aumentar entre 35% e 50% e, com isso, as escolas passariam a ser as principais clientes.