A crise da Eurozona voltou a crescer nesta terça-feira após a advertência da agência de classificação Moody's a três países com a nota máxima, entre eles a Alemanha, que podem ter suas notas rebaixadas, enquanto a Espanha se aproxima cada vez mais do resgate.
A surpreendente decisão de colocar a Alemanha, motor econômico europeu e maior credor, em perspectiva negativa, aconteceu poucas horas antes de os ministros de Economia de Grécia e Espanha, os dois países no olho do furacão, viajarem a Berlim.
A Moody's colocou nesta segunda-feira as economias de Alemanha, Holanda e Luxemburgo sob vigilância negativa, o que é o primeiro passo para um possível rebaixamento da nota de avaliação de crédito.
A agência disse que os países estavam em risco por causa dos problemas mais amplos da zona do euro, incluindo a possibilidade de saída da Grécia.
Em um comunicado, a agência menciona essa probabilidade e o impacto que uma eventual saída grega teria nos Estados que integram a zona.
"Mesmo se esse acontecimento for evitado, existe uma probabilidade cada vez mais forte de que uma ajuda a outros Estados da zona do euro, em particular a Espanha e Itália, será necessária", acrescentou a Moody's. A agência indica ainda que esse "fardo" deveria pesar mais sobre os Estados considerados mais solventes da zona do euro, entre eles, os três afetados pela mudança na perspectiva da dívida.
A notícia repercutiu nos juros pagos pela Espanha para financiar sua dívida, que voltou a marcar um novo recorde, a 7,61% - muito acima dos 7% que obrigou a países como Grécia, Irlanda e Portugal a recorrer a um resgate -, mas as bolsas europeias apresentavam ligeira recuperação depois que algumas estatísticas sobre a China deixaram em segundo plano a bomba da Moody's.
O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, manifestou nesta terça-feira seu firme compromisso com a estabilidade da Eurozona após a decisão da agência Moody's.
"O Eurogrupo - formado pelos ministros das Finanças dos 17 países da Eurozona - reafirma seu firme compromisso de garantir a estabilidade da Eurozona em seu conjunto", disse Junker, que também é primeiro-ministro de Luxemburgo.
Já o Ministério de Economia alemão foi mais enfático e afirmou que os riscos da Eurozona mencionados pela Moody's não são novos. "A análise da Moody's menciona principalmente os riscos de curto prazo e não faz nenhuma alusão a uma visão da estabilização de longo prazo", disse o Ministério em nota.
Ainda segundo o Ministério, Berlim continuará mantendo seu "estatuto de refúgio" e seguirá atuando como "âncora estabilizadora da zona do euro".
Outro sinal de que a resistência da Alemanha às turbulências da Eurozona caiu é o índice de confiança dos empresários, que está em seu nível mais baixo em três anos, o que tem feito com que os analistas cogitem uma queda do crescimento.
Ao mesmo tempo, os esforços da Espanha para evitar o resgate se intensificam em meio ao aumento dos temores do mercado, que não dão trégua. Nesta terça-feira, o mercado está atendo à região autônoma da Catalunha, que cogitou pedir ajuda ao governo central, como fez Valência.
Com isso, a Bolsa de Madri apresentava queda de mais de 3% no meio da sessão, perdendo o patamar psicológico dos 6.000 pontos.
Apesar disso, a Espanha conseguiu nesta terça-feira emitir bônus a 3 e 6 meses por 3,05 bilhões de euros, mas para isso precisou voltar a oferecer juros em alta, diante do receio dos mercados sobre a solvência deste país da Eurozona.
A captação a três meses saltou de 2,362% para 2,434% e a de seis meses de 3,237% a 3,691% em relação às últimas emissões similares, de 26 de junho, quando as colocações a curto prazo experimentaram fortes altas.
A operação desta terça-feira se situou dentro dos objetivos do Tesouro, de captar de 2 a 3 bilhões. E a demanda foi consistente, alcançando os 9 bilhões.
O ministro espanhol de economia, Luis de Guindos, se reúne nesta terça-feira em Berlim com o ministro de Finanças alemão, Wolfgang Schauble, tendo como tema das conversações o possível resgate do país caso o Banco Central Europeu não passe a comprar dívida espanhola no mercado secundário, como feito no verão passado.
Segundo o jornal espanhol "El Economista" desta terça-feira, a Espanha pode pedir ajuda frente a um vencimento da dívida de 28 bilhões de euros em outubro.