A afirmação do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, de que a autoridade monetária está pronta para fazer o que for preciso para preservar o euro e a notícia de que a Grécia chegou a um acordo para cortar gastos devem garantir uma recuperação da Bovespa nesta quinta-feira após quatro quedas consecutivas, em linha com o otimismo no exterior. Dados de auxílio-desemprego e encomendas de bens duráveis nos EUA reforçam o impulso. Porém, o desempenho local depende da repercussão da queda de 48% no lucro da Vale no segundo trimestre, em relação há um ano antes. Por volta das 10h10, o Ibovespa subia 1,23%, aos 53.255,22 pontos.
"O que sustenta o rali visto nesta manhã nas bolsas europeias e nos índices futuros de Nova York, sem sombra de dúvida, é a fala do Draghi", disse Marcelo Varejão, analista da Socopa Corretora. Mais cedo, o presidente do BCE disse que a instituição está pronta para fazer o que for preciso para preservar o euro e assegurou que a moeda única é "irreversível".
Já a Grécia chegou a um acordo com inspetores da Troica - União Europeia (UE), BCE e Fundo Monetário Internacional (FMI) - para cortar os gastos de Atenas em 11,5 bilhões de euros nos próximos dois anos, segundo um oficial do Ministério das Finanças. O acordo, se confirmado, aproxima o país mediterrâneo do segundo pacote de resgate, de 173 bilhões de euros.
As principais bolsas europeias, que operavam em queda até então, reagiram imediatamente, invertendo a direção. Às 10h12, a Bolsa de Paris subia 2,95% e a Bolsa de Frankfurt ganhava 1,76%. Madri avançava 3,91%. Em Nova York, os índices futuros do S&P 500 e do Nasdaq avançavam 1,26% e 1,22%, respectivamente, no mesmo horário, também beneficiados por Draghi e, ainda, dados dos EUA divulgados nesta manhã.
O número de trabalhadores que entraram com pedido de auxílio-desemprego no país na semana até 21 de julho caiu 35 mil, resultado melhor que a queda de 6 mil solicitações esperada. As encomendas de bens duráveis nos EUA, por sua vez, tiveram alta de 1,6% em junho, resultado acima do previsto. Ainda nos EUA, às 11 horas, saem as vendas pendentes de moradias no mês passado e, ao meio-dia, a unidade do Federal Reserve (Fed) de Kansas divulga o índice de atividade industrial regional de julho.
Internamente, a queda de 48% no lucro líquido da Vale no segundo trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado pode atrapalhar a recuperação da Bolsa. Os investidores estarão atentos aos comentários da diretoria da empresa, em teleconferências com analistas a partir das 10 horas e, com a imprensa, às 14h30.
"Temos uma dependência grande dos papéis da Vale e o mercado vai repercutir o balanço da companhia. Dependendo da avaliação, podemos destoar do exterior, subindo menos ou caindo mais", disse Varejão, da Socopa, referindo-se ao peso das ações da mineradora no índice à vista da Bolsa brasileira.
Um operador de renda variável, que falou sob a condição de não ser identificado, previa uma abertura em baixa dos papéis de Vale. "O primeiro impacto foi de decepção, tanto que (a ação) bateu o limite de baixa durante o after market, após a divulgação dos resultados." Às 10h15, as ações PNA caíam 0,51% e as ON, 0,67%.
O lucro líquido, R$ 5,314 bilhões, ficou 16% abaixo das projeções dos analistas do mercado ouvidos pela Agência Estado. A geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado (lucros antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de US$ 5,119 bilhões também veio abaixo da média das estimativas (US$ 6,34 bilhões). A queda do lucro foi atribuída ao menor preço do minério de ferro no mercado internacional e à desvalorização do real.
O mercado local também terá para repercutir o balanço do segundo trimestre do Santander, que registrou lucro líquido consolidado de R$ 1,459 bilhão no período pelo padrão contábil internacional (IFRS), o que representa uma queda de 15,3% ante o primeiro trimestre deste ano.