O diretor executivo do Brasil e de mais oito países no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira, disse nesta terça-feira que a criação de um fundo conjunto dos países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) poderá estimular reformas no sistema financeiro internacional. “Se isso vier a se concretizar, significa criar um caminho próprio para esses cinco países, o que coloca o sistema sob pressão para refletir melhor a realidade do mundo contemporâneo”.
Nogueira participou de seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) sobre a agenda internacional do Brics promovido pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.
Para o diretor, no entanto, essa medida não significa uma ameaça aos mecanismos de financiamento atuais, como o Banco Mundial e o FMI. “Não me preocupa nada o esvaziamento dessas entidades, porque são burocracias muito sólidas. O que essas iniciativas do Brics podem ajudar é mover essas instituições no sentido de uma transformação”.
Ele citou como exemplo da necessidade de mudança a eleição para presidente e diretor-geral das instituições. “Na sucessão recente do presidente do Banco Mundial viu-se isso. Prevaleceu a regra absurdamente anacrônica de que o cargo de presidente do banco é reservado a um norte-americano, assim como o de diretor-geral do FMI a um europeu”.
Durante o seminário, o diretor do FMI falou ainda sobre as expectativas do fundo sobre a economia brasileira. Ele estima que os próximos 18 meses serão de recuperação para o Brasil, devendo crescer a uma taxa de 4% a 4,5%. “Esse cenário é plausível porque o governo adotou diversas medidas de estímulo, cujo efeito deve se fazer sentir, sobretudo, no terceiro, quarto trimestres de 2012”.
Nogueira acredita que essas projeções somente seriam alteradas com um cenário “catastrófico na zona do euro”, como o aprofundamento da recessão ou com a saída de algum país. Na avaliação do diretor, outra situação externa que poderia interferir na estimativa de crescimento no Brasil é um crescimento inferior da China e Índia.
“A China tem crescido 10% ao ano, a Índia em torno de 8%. Muito abaixo disso o cenário se modifica. Sobretudo no caso da China, porque o Brasil tem relações comerciais bastante intensas”.