O governo sinalizou que não pretende estender, pelo menos por ora, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis para além da data prevista inicialmente: 31 de agosto. O recado foi dado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, após receber executivos de montadoras para uma conversa reservada, convocou a imprensa para expor suas impressões acerca do balanço que as empresas apresentaram sobre os resultados da medida, que ele classificou como "muito positivo".
Mantega antecipou que as vendas do setor devem ter alcançado em julho o maior resultado para este mês. "A previsão é de que tenham sido vendidos 360 mil veículos. Se isso ocorrer, vai ser o melhor julho da história", disse. O ministro incluiu na lista de boas notícias os projetos de investimentos das empresas no Brasil, que deverão somar R$ 22 bilhões até 2015, e a diminuição das importações. "Em junho, a redução foi de 30%. O mercado voltou a ser ocupado por fabricantes nacionais. Portanto os objetivos do governo foram atendidos", avaliou.
O tom otimista também contemplou o nível de emprego no setor, que as companhias se comprometeram a preservar em troca da redução do IPI. Mantega lembrou que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou a criação de 1,9 mil postos de trabalho, em junho. "Portanto, a promessa de manter empregos foi cumprida", afirmou.
Confrontado sobre os números de julho, que apontam para saldo negativo nas contratações do setor automotivo, o ministro desconversou: "Os dados de julho e agosto não estão fechados, então não dá para trabalhar com especulações", alegou. "Existe um turn over (rotatividade de funcionários). Existem demissões, mas o saldo é positivo", disse.
POLÊMICA Pela primeira vez, Mantega falou sobre a polêmica decisão da General Motors (GM) de demitir 1,5 empregados da fábrica de São José dos Campos, em São Paulo, uma das suas oito unidades no Brasil. "Há problemas localizados, nas não cabe ao governo entrar nesse detalhe", disse.
A notícia enfureceu a presidente Dilma Rousseff, que, de Londres, na Inglaterra, exigiu na última sexta-feira que as montadoras cumpram o compromisso de não demitir. "Os setores que receberem incentivos têm que saber que nós fazemos isso por um único motivo, que é garantir o emprego e a renda do brasileiro", disse ela.
Ontem, ao lado de Mantega, o vice-presidente da GM, Luiz Moan, renovou a promessa. "Nós reafirmamos hoje (ontem) com o ministro a manutenção do nível de emprego no Brasil. O caso de São José dos Campos é pontual, de realocação de investimentos produtivos. É apenas uma das oito fábricas que temos no Brasil", disse. Segundo Moan, desde o início de 2008 a GM apresenta um saldo líquido de 1.848 contratações e o número deverá chegar a 2.063 até dezembro.
FMI elogia o país, mas faz ressalvas
Depois de aconselhar recentemente o governo brasileiro a não estimular excessivamente o consumo para evitar o retorno da inflação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) começa a se render às qualidades da economia e do sistema financeiro brasileiro. Em relatório divulgado ontem, teceu elogios ao país e à forma como o Banco Central e o Ministério da Fazenda responderam aos efeitos da crise, porém não abriu mão das críticas e ainda fez um alerta: disse que o mercado precisa ficar atento para não ser “vítima do próprio sucesso”. A entidade também chamou a atenção para o elevado endividamento das famílias e para o alto preço dos imóveis no país, que em algumas regiões encareceram a um ritmo superior a 30% ao ano.
Segundo o documento, o sistema financeiro do Brasil é estável e robusto, mas a expansão acelerada do crédito nos últimos anos pode gerar riscos. O FMI lembrou ainda que, até o início dos anos 2000, os empréstimos e financiamentos no país representavam cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país) e, de lá para cá, esse percentual subiu para 50%. “A expansão acelerada do crédito nos últimos anos apoiou o crescimento da economia interna e o aumento da inclusão financeira, mas essa expansão também pode gerar vulnerabilidades”, disse Dimitri Demekas, chefe da missão de avaliação do FMI, à agências internacionais.
A entidade multilateral destacou ainda que o Brasil sofre com juros elevados e prazos muito curtos e recomendou reformas no sistema financeiro para que o país possa desenvolver fontes de financiamentos de longo prazo. O FMI alertou ainda para o baixo nível de poupança interna do país e para a dificuldade do governo em lidar com ingresso de capitais especulativos. “As taxas de juros são bem acima daquelas observadas em países comparáveis ao Brasil, a maioria dos instrumentos de dívida são indexados a uma taxa de juros diária e os investimentos nacionais estão concentrados em instrumentos de curto prazo”, criticou a entidade.