Desde que as vendas das sacolas compostáveis foram proibidas em Belo Horizonte pelo Procon estadual, as caixas de papelão roubam a cena nos supermercados, em muitos casos sendo alvo de disputa. As embalagens de papelão se tornaram alternativa sem custo adotada principalmente pelas redes do varejo que não oferecem sacolas retornáveis ou ecológicas gratuitamente ao consumidor. O problema é que as caixas de papelão estão longe de ser a solução ideal ao transporte de alimentos. O produto pode esconder graves riscos à saúde humana.
“Tenho visto consumidores utilizarem caixas para transportar alimentos. A medida usada como proteção ambiental acaba expondo as pessoas a outros riscos. É evidente que embalagens que transportam material de limpeza não devem ser usadas para levar alimentos”, esclarece Carlos Starling, médico infectologista, membro da Sociedade Mineira de Infectologia. Segundo o especialista, conforme o local onde ficam armazenadas, as caixas estão sujeitas a contaminações por urina de rato, perigosa por armazenar a bactéria leptospira, causadora da leptospirose, doença grave que pode causar infecções e insuficiência renal.
O uso das caixas de papelão foi acirrado desde o dia 1º, quando as vendas de sacolas compostáveis foram proibidas pelo Ministério Público (MP) estadual. O MP investiga formação de cartel e fraudes envolvendo o produto. Concorridas, as caixas de papelão de vários modelos, tamanhos e origens ficam à disposição dos clientes perto dos caixas, no chão ou em qualquer outro canto dos supermercados da capital. São disponibilizadas caixas de biscoitos, café, cremes de cabelo, frutas, água sanitária, sabão em pó, detergentes. Segundo funcionários dos supermercados, a saída tem sido grande. “Basta colocar uma pilha de caixas e, em uma hora, não tem mais nada. Independentemente do que a caixa guardava antes, sai o que tiver disponível”, diz um repositor.
Sem eficiência
O fato ainda não incomoda, mas já preocupa o professor Paulo Nogueira, que diante da falta de oferta acaba escolhendo qualquer uma das caixas disponíveis para carregar as compras e voltar para a casa. Paulo é favorável a retirada das sacolinhas plásticas do mercado como medida protetiva ao meio ambiente, mas avalia que as caixas não são eficazes. “O que importa são os interesses econômicos. O consumidor sempre se vira com o que tem e, nesse caso, estamos nos virando com as caixas”, acrescenta. “Hoje ganhei uma sacola, mas ela não é suficiente para suprir a demanda de todos os consumidores. Precisamos de uma decisão mais acertada para dar fim ao sufoco que é ir ao supermercado e depois equilibrar em caixas de papelão”, critica.
Fiscal da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte, Leando Vasconcelos explica que as caixas de papelão são embalagens secundárias. Por isso, todos os produtos carregados ali devem ser muito bem embalados, especialmente alimentos como os hortifruti. Segundo ele, para evitar riscos à saúde os produtos não devem ser carregados diretamente em contato com a caixa. É preciso haver uma primeira embalagem.
Nos supermercados, os clientes têm optado pelo uso das caixas de papelão como alternativa para o transporte das compras. “Prefiro as caixas de papelão a pagar de novo por uma sacola que já tem o preço embutido nas mercadorias. Também não vou pagar por uma sacola retornável”, afirma a artista plástica Andréa Gregório. Para ela, os riscos apresentados pelas caixas de papelão, que permanecem por longos períodos em depósitos e estão sujeitas a exposição de roedores e de outros fatores externos, são preocupantes. “Para pararmos de usá-las, os supermercados têm de nos dar outras alternativas. O valor das embalagens já estão embutidos nos preços das mercadorias, que nunca caem e só aumentam, mas nós nunca desfrutamos deste benefício”, diz.
Solução nem sempre viável
Faltam ainda as medidas esperadas pelo Ministério Público (MP) estadual: embalagens ecologicamente corretas e gratuitas, como alternativa para quem não tem ou não levou a sacola ecológica ao supermercado. Mas, diante da insatisfação de consumidores, várias redes do varejo já trazem algum tipo de proposta para incentivar o uso da embalagem retornável . O supermercado Epa BH e lojas populares como Abadia estão distribuindo gratuitamente as sacolas compostáveis do estoque. Outras redes como o Carrefour criaram sacolas de polietileno, um pouco mais resistentes que o plástico convencional, vendida por R$ 0,49. Entretanto, o plástico utilizado, de durabilidade aparente menor que os produtos recentemente ofertados no mercado, é alvo de críticas por parte dos consumidores.
Segundo o gerente do supermercado Abadia, João Meira, a cada R$ 20, o cliente ganha uma sacola biodegradável; de R$ 20 a R$ 50 são três ou mais; e nas compras acima de R$ 50, oferece uma embalagem retornável. A prática se repete no Supermercados BH. O EPA também está distribuindo o produto e o Super Nosso lançou campanha para as retornáveis.
Em nota, o Carrefour informou que para dar opção aos seus clientes oferece uma sacola reutilizável em suas lojas. “O que inclui a sacola de R$ 0,49, uma alternativa de baixo custo. Esta embalagem é confeccionada em polietileno de baixa densidade com capacidade para 8 quilos”, diz o texto. (MC/CM)