Quando o assunto é escolher entre investir em educação ou na aparência, o brasileiro prefere se sentir bem diante do espelho. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovou que a escolaridade ocupa apenas 3% do orçamento, enquanto os desembolsos com vestuário totalizam 5,5%. Essa opção é ainda mais visível na Classe C, que representa 54% da população e 49% do consumo de roupas no país. “A nova classe média, sem dúvida, prefere gastar com roupa do que comprar um livro. Mais de 23% de tudo que entra vai para esse fim. Quem ganha R$ 1,5 mil mensais, usa pelo menos R$ 350 com moda e beleza”, disse Cristina Marinho, especialista em Marketing da Moda e Comportamento do Consumidor.
A tendência é que esse percentual aumente, porque a Classe C vê a moda como um passaporte para a inclusão social, uma forma de ser aceita. Não se trata de consumo leviano, mas do reflexo da melhoria da qualidade de vida. Pesquisa da N. Marinho Marketing apontou que, nesse grupo, a maioria são mulheres com nível superior completo, acesso à internet, que se inspiram no que usam as celebridades e as protagonistas de novelas. Não estão preocupadas com marca. Querem roupa de qualidade, elegante, com bom acabamento, sem gastar muito. Os homens, esses sim, gostam de ostentar etiqueta famosa, de griffe estrangeira. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, a comparação entre vestuário e estudo não sobrevive fora do contexto histórico e social.
“Roupa não é supérfluo. A Classe C entrou para o mercado de trabalho, 83% têm carteira assinada e precisam ampliar o guarda-roupa”, opinou Meirelles. Ele ressalta um “certo preconceito” em relação à nova classe. É criticada porque compra roupa. Se não compra e usa modelo inadequado, esses mesmos que a criticam não lhe darão emprego ou a taxarão de brega. Da mesma forma, descarta o discurso de que essa fatia da sociedade não poupa para a educação dos filhos e que, sem o preparo das Classes A e B, puxa a qualidade do ensino para baixo. “A Classe C ainda carece de gêneros de primeira necessidade. Metade da população brasileira não tem máquina de lavar. Vai para o tanque depois de um cansativo dia de trabalho”, destacou.
O casal formado por Adenilson de Jesus Moura, auxiliar de produção em Belo Horizonte, e a cuidadora de idosos Zilneide Ferreira não consegue fugir dos gastos com vestuário. As despesas pesam no orçamento, mas são decisivas na inserção social. Segundo eles, investir em roupas é uma decisão que vai além da vaidade. “A gente precisa estar bem vestido para trabalhar”, afrima Adenilson, ressaltando que o custo do vestuário em sua família é pelo menos três vezes superior aos gastos com educação, mesmo considerando que pagam mensalidade de R$ 100 para o filho de cinco anos estudar em uma escola infantil particular. Zilneide, que também é mãe de dois adolescentes, com idades entre 16 e 17 anos, conta que os jovens não estão mais frequentando a escola. Com isso, a fatura com roupas supera gastos com livros ou materiais educativos, hoje quase inexistentes. “Adolescentes gostam de marcas cara, uma saída para comprar roupas não fica por menos de R$ 200”, compara.
Segundo Renato Meirelles, os gastos ainda pequenos da população com educação estão relacionados também à dinâmica do sistema. Ele aponta que, quando ocorre qualquer universalização, o primeiro movimento é de queda de qualidade. Na educação, porém, o fator determinante não é o despreparo, mas a quantidade reduzida de bons professores. “O Brasil não se preparou. Ouço gente dizer que o pai teve educação melhor. Pode ser. Mas há 30 anos só 40% da população tinha o ensino médio”, argumenta. Meirelles contesta as ironias lançadas contra o programa governamental Ciência sem Fronteiras (bolsas de estudo para pesquisa no exterior). “Precisamos escolher onde queremos chegar. É melhor mais doutores sabendo pouco menos, com perspectiva de avanço, ou uns poucos detendo o saber?”, questionou.
Qualificação pode vir a distância
A nova classe média brasileira investe na aparência, mas também está cada vez mais ligada na educação. Ela ainda conta, em grande escala, com a escola pública – que alivia o orçamento doméstico –, mas investe também em tecnologias que melhoram a qualidade do ensino. A classe ascendente também tem movimentado negócios em educação específicos para atender a demanda de quem tem orçamento apertado, mas começa a perceber a importância da qualificação. Segundo Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, um dos mais brilhante sinais que apontam para um futuro promissor da classe média é que os filhos são mais bem educados que os pais.
Dos quatro filhos de Rosalina Amâncio, auxiliar de cozinha, três estão na escola pública. Apenas o mais novo, com 2 anos ainda não frequenta a escola. Rosalina e o marido, o caixa Flávio Correia, fazem parte da parcela da população brasileira que ascendeu à classe média. Observando o orçamento familiar, o casal diz que despesas como o vestuário têm peso maior para a família que a educação, uma vez que a escola particular só deve entrar na lista de despesas na medida em que os filhos cresceram e chegarem à faculdade. Uma compra de roupas para toda a família sai por aproximadamente R$ 700 e precisa ser feita duas vezes ao ano. Rosalina e Flávio consideram importante investir em educação e por isso compraram um computador para facilitar a pesquisa das crianças. Para eles, que têm uma família grande para os padrões atuais – a média brasileira é de 1,8 filho, segundo o IBGE –, os gastos com vestuário se destacam no orçamento. “Roupas e calçados são itens caros. Como a escola é pública, pesa mais que a educação.”
De olho na necessidade de famílias como a de Rosalina e Flávio, algumas instituições brasileiras de ensino superior criaram estratégias para a inserção da classe emergente no mercado de trabalho. A União Educacional de Brasília (Uneb) adotou a educação à distância. A idéia, segundo o diretor-executivo Marcelino Hermida, é usar tecnologias inovadoras em benefício do aluno, sem baixar a qualidade. “Quanto mais investimento em educação, maior a empregabilidade e o reconhecimento profissional.”
A tendência é que esse percentual aumente, porque a Classe C vê a moda como um passaporte para a inclusão social, uma forma de ser aceita. Não se trata de consumo leviano, mas do reflexo da melhoria da qualidade de vida. Pesquisa da N. Marinho Marketing apontou que, nesse grupo, a maioria são mulheres com nível superior completo, acesso à internet, que se inspiram no que usam as celebridades e as protagonistas de novelas. Não estão preocupadas com marca. Querem roupa de qualidade, elegante, com bom acabamento, sem gastar muito. Os homens, esses sim, gostam de ostentar etiqueta famosa, de griffe estrangeira. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, a comparação entre vestuário e estudo não sobrevive fora do contexto histórico e social.
“Roupa não é supérfluo. A Classe C entrou para o mercado de trabalho, 83% têm carteira assinada e precisam ampliar o guarda-roupa”, opinou Meirelles. Ele ressalta um “certo preconceito” em relação à nova classe. É criticada porque compra roupa. Se não compra e usa modelo inadequado, esses mesmos que a criticam não lhe darão emprego ou a taxarão de brega. Da mesma forma, descarta o discurso de que essa fatia da sociedade não poupa para a educação dos filhos e que, sem o preparo das Classes A e B, puxa a qualidade do ensino para baixo. “A Classe C ainda carece de gêneros de primeira necessidade. Metade da população brasileira não tem máquina de lavar. Vai para o tanque depois de um cansativo dia de trabalho”, destacou.
O casal formado por Adenilson de Jesus Moura, auxiliar de produção em Belo Horizonte, e a cuidadora de idosos Zilneide Ferreira não consegue fugir dos gastos com vestuário. As despesas pesam no orçamento, mas são decisivas na inserção social. Segundo eles, investir em roupas é uma decisão que vai além da vaidade. “A gente precisa estar bem vestido para trabalhar”, afrima Adenilson, ressaltando que o custo do vestuário em sua família é pelo menos três vezes superior aos gastos com educação, mesmo considerando que pagam mensalidade de R$ 100 para o filho de cinco anos estudar em uma escola infantil particular. Zilneide, que também é mãe de dois adolescentes, com idades entre 16 e 17 anos, conta que os jovens não estão mais frequentando a escola. Com isso, a fatura com roupas supera gastos com livros ou materiais educativos, hoje quase inexistentes. “Adolescentes gostam de marcas cara, uma saída para comprar roupas não fica por menos de R$ 200”, compara.
Segundo Renato Meirelles, os gastos ainda pequenos da população com educação estão relacionados também à dinâmica do sistema. Ele aponta que, quando ocorre qualquer universalização, o primeiro movimento é de queda de qualidade. Na educação, porém, o fator determinante não é o despreparo, mas a quantidade reduzida de bons professores. “O Brasil não se preparou. Ouço gente dizer que o pai teve educação melhor. Pode ser. Mas há 30 anos só 40% da população tinha o ensino médio”, argumenta. Meirelles contesta as ironias lançadas contra o programa governamental Ciência sem Fronteiras (bolsas de estudo para pesquisa no exterior). “Precisamos escolher onde queremos chegar. É melhor mais doutores sabendo pouco menos, com perspectiva de avanço, ou uns poucos detendo o saber?”, questionou.
Qualificação pode vir a distância
A nova classe média brasileira investe na aparência, mas também está cada vez mais ligada na educação. Ela ainda conta, em grande escala, com a escola pública – que alivia o orçamento doméstico –, mas investe também em tecnologias que melhoram a qualidade do ensino. A classe ascendente também tem movimentado negócios em educação específicos para atender a demanda de quem tem orçamento apertado, mas começa a perceber a importância da qualificação. Segundo Marcelo Neri, coordenador do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, um dos mais brilhante sinais que apontam para um futuro promissor da classe média é que os filhos são mais bem educados que os pais.
Dos quatro filhos de Rosalina Amâncio, auxiliar de cozinha, três estão na escola pública. Apenas o mais novo, com 2 anos ainda não frequenta a escola. Rosalina e o marido, o caixa Flávio Correia, fazem parte da parcela da população brasileira que ascendeu à classe média. Observando o orçamento familiar, o casal diz que despesas como o vestuário têm peso maior para a família que a educação, uma vez que a escola particular só deve entrar na lista de despesas na medida em que os filhos cresceram e chegarem à faculdade. Uma compra de roupas para toda a família sai por aproximadamente R$ 700 e precisa ser feita duas vezes ao ano. Rosalina e Flávio consideram importante investir em educação e por isso compraram um computador para facilitar a pesquisa das crianças. Para eles, que têm uma família grande para os padrões atuais – a média brasileira é de 1,8 filho, segundo o IBGE –, os gastos com vestuário se destacam no orçamento. “Roupas e calçados são itens caros. Como a escola é pública, pesa mais que a educação.”
De olho na necessidade de famílias como a de Rosalina e Flávio, algumas instituições brasileiras de ensino superior criaram estratégias para a inserção da classe emergente no mercado de trabalho. A União Educacional de Brasília (Uneb) adotou a educação à distância. A idéia, segundo o diretor-executivo Marcelino Hermida, é usar tecnologias inovadoras em benefício do aluno, sem baixar a qualidade. “Quanto mais investimento em educação, maior a empregabilidade e o reconhecimento profissional.”