Veteranas no processo de industrialização de Minas Gerais, as cerâmicas e olarias se prepararam com um ciclo de investimentos em modernização tecnológica e automação para crescer 8% neste ano, mas a previsão já foi reduzida quase à metade (5%), diante das projeções modestas de expansão inferior a 2% da economia brasileira, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), o conjunto da produção de bens e serviços no país. Apesar do freio imposto às expectativas das empresas, a indústria começa a registrar sinais de recuperação da demanda, acompanhando o desempenho firme da construção civil e o cronograma das obras do Minha casa, minha vida – programa federal de estímulo à habitação popular – e dos projetos de infraestrutura.
Depois de um primeiro semestre fraco, a retomada dá as caras, segundo o presidente da Assoclação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), Luiz Carlos Barbosa Lima. “Agora, acreditamos num segundo semestre forte e num primeiro semestre de 2013 também ativo, se mantido o discurso oficial e os anúncios de que o Minha casa, minha vida dará prioridade a materiais ambientalmente sustentáveis”, afirma. O desempenho ainda positivo dos índices de emprego em Minas, a despeito do desaquecimento da economia, contribui para o novo ânimo, num cenário de maior circulação do dinheiro extra no fim do ano.
Além de grande fornecedoras das construtoras, as olarias – segmento da indústria que usa terra, ar e fogo na produção de tijolos, blocos e telhas – também se beneficiaram do crescimento recente da renda e da ocupação no país, que levou à ascensão as classes C e D. Nos últimos sete anos, de acordo com o presidente da Anicer, a expansão dos negócios do setor beirou os 80%. Num ambiente, hoje, de baixo crescimento, a indústria mantém a esperança de pelo menos superar o índice modesto de aumento da receita em 2011, de 2%. O faturamento de um universo de 6,9 mil empresas no Brasil somou R$ 18 bilhões.
Qualquer referência a uma retomada ganha significado especial em Minas Gerais, que lidera o ranking nacional em número de empresas (840) e receita (R$ 2,3 bilhões), conforme pesquisa concluída no fim de 2011 pela Anicer. Não há, no entanto, estatísticas consistentes sobre a produção brasileira. A melhora das vendas desde o mês passado provocou algum alívio, em meio às revisões para baixo das taxas de crescimento do PIB, de até 5% no começo do ano para os atuais 1,9%, lembra o industrial Rodrigo Silveira, diretor do sindicato da indústria mineira e proprietário da Cerâmica Jacarandá, há 46 anos no ramo.
“O consumo formiguinha (a demanda das famílias que investem em reformas e ampliação da habitação) salvou o primeiro semestre e agora as vendas começam a melhorar”, afirma. A empresa não chegou a estocar cerâmica para vedação e na linha de blocos estruturais o estoque ficou alto até junho, quando iniciou um movimento de baixa. Para se ajustar ao período de dificuldades que o setor enfrentou, a fábrica, que emprega 200 pessoas em Ribeirão das Neves, aproveitou para fazer a manutenção em três fornos.
Com a cultura da modernização implantada pelo pai na década de 80, Rodrigo Silveira concluiu em 2011 os investimentos na instalação de um forno túnel que permitiu aumento da produtividade industrial e redução do consumo de energia. Cerca de 65% da produção são destinados às construtoras e os restantes 35% aos depósitos de materiais de construção. Atrás de mais eficiência e qualidade , a Cerâmicas Braúnas, criada há 60 anos, também investiu na atualização tecnológica de suas unidades em Neves. A indústria adquiriu dois robôs e construiu um forno túnel, ambos os equipamentos com tecnologia italiana.
O processo de automação, com o realocamento de parte dos empregados – um universo de 500 pessoas – permite maior produtividade e uma queda drástica das perdas no controle de qualidade, conta José Antônio Gasparini, engenheiro químico e gerente de produção da Braúnas. “A empresa investiu acreditando no aquecimento do mercado de consumo e tem como princípio atender imediatamente a demanda”, afirma. Tem crescido a participação das construtoras no negócio, que é de 60% das vendas totais das duas fábricas, com capacidade total para produzir 18 mil toneladas anuais de blocos cerâmicos e estruturais. A perspectiva de recuperação neste segundo semestre é otimista, de acordo com Gasparini, embora a passos mais lentos do que o setor imaginava.
O que nos interessa
Elo forte no crescimento
O ritmo de atividade da construção civil, assim como da sua indústria fornecedora de matéria-prima e equipamentos, é medida importante e obrigatória para se avaliarem os rumos da economia. O setor responde por 5,9% do PIB de Minas e participa com 5,3% do resultado da economia brasileira. No estado, detém uma fatia superior, por exemplo, a das empresas prestadoras de serviços de transporte e aos chamados serviços industriais de utilidade pública (3,6%), aqueles prestados pelas companhias de energia, água e esgoto. Se a construção civil e os elos que compõem a cadeia vão mal, é sinal de alerta para consumo das famílias e nos efeitos que isso causa, e também para os indicadores de emprego e rendimentos do trabalho.
Reação em toda a cadeia
A reação das vendas que alcançou a indústria da cerâmica foi sentida em julho pelo comércio de material de construção e se mantém neste começo ansioso de agosto, segundo Rui Fidelis Júnior, diretor da varejista Obradec e da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac-MG). A recente redução das taxas de juros nos bancos ajudou, uma vez que o varejo apura 70% do seu negócio nos investimentos do chamado consumidor formiguinha em reformas e ampliação da casa própria.
"A redução dos juros foi uma das razões da recuperação das vendas, assim como a decisão do consumidor de começar a retomar as reformas, depois de reduzir o nível de endividamento", observa Fidelis Júnior. A Acomac está levantando informações sobre o comportamento dos negócios no mês passado para avaliar novamente as projeções de crescimento neste ano. Com o primeiro semestre desanimador, as previsões recuaram da aposta de 7%, feita no começo do ano, para entre 2% e 3%. Um detalhe importante está na queda dos juros do programa Construcard, linha de crédito oferecida pela Caixa Econômica Federal para a compra de material de construção.
Em julho, a Caixa anunciou a redução dos juros e a ampliação do prazo de pagamento dessa carteira. A taxa mínima, que era de 1,96% ao ano, foi reduzida a 1,4% anuais; e os encargos máximos recuaram de 2,35% ao ano para 1,85% anuais. O prazo de quitação dos débitos aumentou de 60 para até 96 meses. As revendas de material de construção apuram no segundo semestre algo ao redor de 60% das vendas do ano.
No embalo do crescimento da construção civil, a indústria cerâmica mineira mostrou expansão de 7,5% do faturamento em 2011, portanto acima da média nacional, conforme o levantamento feito pela Anicer. O presidente da instituição, Luiz Carlos Lima, credita o destaque do estado aos efeitos positivos sobre as vendas do setor dos bons indicadores de emprego e renda da economia mineira, associados à capacidade de as fábricas atenderem outros estados.
O fôlego da construção civil, de fato, continua e indica uma taxa de crescimento de 5% neste ano, na prática, mantendo a performance de 2011, informa Luiz Fernando Pires, presidente do sindicato das empresas do setor (Sinduscon-MG). "As perspectivas são boas, com muitos investimentos em curso no Brasil, embora as obras de infraestrutura de que o país necessita não caminhem na velocidade que se esperava", afirma.
Depois de um primeiro semestre fraco, a retomada dá as caras, segundo o presidente da Assoclação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer), Luiz Carlos Barbosa Lima. “Agora, acreditamos num segundo semestre forte e num primeiro semestre de 2013 também ativo, se mantido o discurso oficial e os anúncios de que o Minha casa, minha vida dará prioridade a materiais ambientalmente sustentáveis”, afirma. O desempenho ainda positivo dos índices de emprego em Minas, a despeito do desaquecimento da economia, contribui para o novo ânimo, num cenário de maior circulação do dinheiro extra no fim do ano.
Além de grande fornecedoras das construtoras, as olarias – segmento da indústria que usa terra, ar e fogo na produção de tijolos, blocos e telhas – também se beneficiaram do crescimento recente da renda e da ocupação no país, que levou à ascensão as classes C e D. Nos últimos sete anos, de acordo com o presidente da Anicer, a expansão dos negócios do setor beirou os 80%. Num ambiente, hoje, de baixo crescimento, a indústria mantém a esperança de pelo menos superar o índice modesto de aumento da receita em 2011, de 2%. O faturamento de um universo de 6,9 mil empresas no Brasil somou R$ 18 bilhões.
Qualquer referência a uma retomada ganha significado especial em Minas Gerais, que lidera o ranking nacional em número de empresas (840) e receita (R$ 2,3 bilhões), conforme pesquisa concluída no fim de 2011 pela Anicer. Não há, no entanto, estatísticas consistentes sobre a produção brasileira. A melhora das vendas desde o mês passado provocou algum alívio, em meio às revisões para baixo das taxas de crescimento do PIB, de até 5% no começo do ano para os atuais 1,9%, lembra o industrial Rodrigo Silveira, diretor do sindicato da indústria mineira e proprietário da Cerâmica Jacarandá, há 46 anos no ramo.
“O consumo formiguinha (a demanda das famílias que investem em reformas e ampliação da habitação) salvou o primeiro semestre e agora as vendas começam a melhorar”, afirma. A empresa não chegou a estocar cerâmica para vedação e na linha de blocos estruturais o estoque ficou alto até junho, quando iniciou um movimento de baixa. Para se ajustar ao período de dificuldades que o setor enfrentou, a fábrica, que emprega 200 pessoas em Ribeirão das Neves, aproveitou para fazer a manutenção em três fornos.
Com a cultura da modernização implantada pelo pai na década de 80, Rodrigo Silveira concluiu em 2011 os investimentos na instalação de um forno túnel que permitiu aumento da produtividade industrial e redução do consumo de energia. Cerca de 65% da produção são destinados às construtoras e os restantes 35% aos depósitos de materiais de construção. Atrás de mais eficiência e qualidade , a Cerâmicas Braúnas, criada há 60 anos, também investiu na atualização tecnológica de suas unidades em Neves. A indústria adquiriu dois robôs e construiu um forno túnel, ambos os equipamentos com tecnologia italiana.
O processo de automação, com o realocamento de parte dos empregados – um universo de 500 pessoas – permite maior produtividade e uma queda drástica das perdas no controle de qualidade, conta José Antônio Gasparini, engenheiro químico e gerente de produção da Braúnas. “A empresa investiu acreditando no aquecimento do mercado de consumo e tem como princípio atender imediatamente a demanda”, afirma. Tem crescido a participação das construtoras no negócio, que é de 60% das vendas totais das duas fábricas, com capacidade total para produzir 18 mil toneladas anuais de blocos cerâmicos e estruturais. A perspectiva de recuperação neste segundo semestre é otimista, de acordo com Gasparini, embora a passos mais lentos do que o setor imaginava.
O que nos interessa
Elo forte no crescimento
O ritmo de atividade da construção civil, assim como da sua indústria fornecedora de matéria-prima e equipamentos, é medida importante e obrigatória para se avaliarem os rumos da economia. O setor responde por 5,9% do PIB de Minas e participa com 5,3% do resultado da economia brasileira. No estado, detém uma fatia superior, por exemplo, a das empresas prestadoras de serviços de transporte e aos chamados serviços industriais de utilidade pública (3,6%), aqueles prestados pelas companhias de energia, água e esgoto. Se a construção civil e os elos que compõem a cadeia vão mal, é sinal de alerta para consumo das famílias e nos efeitos que isso causa, e também para os indicadores de emprego e rendimentos do trabalho.
Reação em toda a cadeia
A reação das vendas que alcançou a indústria da cerâmica foi sentida em julho pelo comércio de material de construção e se mantém neste começo ansioso de agosto, segundo Rui Fidelis Júnior, diretor da varejista Obradec e da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac-MG). A recente redução das taxas de juros nos bancos ajudou, uma vez que o varejo apura 70% do seu negócio nos investimentos do chamado consumidor formiguinha em reformas e ampliação da casa própria.
"A redução dos juros foi uma das razões da recuperação das vendas, assim como a decisão do consumidor de começar a retomar as reformas, depois de reduzir o nível de endividamento", observa Fidelis Júnior. A Acomac está levantando informações sobre o comportamento dos negócios no mês passado para avaliar novamente as projeções de crescimento neste ano. Com o primeiro semestre desanimador, as previsões recuaram da aposta de 7%, feita no começo do ano, para entre 2% e 3%. Um detalhe importante está na queda dos juros do programa Construcard, linha de crédito oferecida pela Caixa Econômica Federal para a compra de material de construção.
Em julho, a Caixa anunciou a redução dos juros e a ampliação do prazo de pagamento dessa carteira. A taxa mínima, que era de 1,96% ao ano, foi reduzida a 1,4% anuais; e os encargos máximos recuaram de 2,35% ao ano para 1,85% anuais. O prazo de quitação dos débitos aumentou de 60 para até 96 meses. As revendas de material de construção apuram no segundo semestre algo ao redor de 60% das vendas do ano.
No embalo do crescimento da construção civil, a indústria cerâmica mineira mostrou expansão de 7,5% do faturamento em 2011, portanto acima da média nacional, conforme o levantamento feito pela Anicer. O presidente da instituição, Luiz Carlos Lima, credita o destaque do estado aos efeitos positivos sobre as vendas do setor dos bons indicadores de emprego e renda da economia mineira, associados à capacidade de as fábricas atenderem outros estados.
O fôlego da construção civil, de fato, continua e indica uma taxa de crescimento de 5% neste ano, na prática, mantendo a performance de 2011, informa Luiz Fernando Pires, presidente do sindicato das empresas do setor (Sinduscon-MG). "As perspectivas são boas, com muitos investimentos em curso no Brasil, embora as obras de infraestrutura de que o país necessita não caminhem na velocidade que se esperava", afirma.