Setores da cadeia de combustíveis sinalizam que o percentual de etanol misturado à gasolina deve aumentar cinco pontos percentuais a partir de abril do ano que vem, como reforçado ontem pelo presidente da Petrobras Biocombustíveis, Miguel Rosseto. O executivo acredita que em 2013 será possível chegar a uma mistura de 25% de álcool anidro na gasolina, já que a próxima safra de cana-de-açúcar deve ser bem melhor que a de 2012, que foi prejudicada pelas chuvas. Atualmente o percentual de mistura é de 20%.
A medida, defendida pela presidente da Petrobras, Graça Foster, na semana passada permite aliviar o volume de gasolina importada pela estatal, o que, por consequência, reduz as perdas de caixa. No entanto, o governo federal precisa publicar resolução que confirme a intenção ainda nesse semestre para que os usineiros possam se planejar para a maior produção de etanol anidro. A proposta está em discussão entre representantes do setor e do governo federal e, assim que aprovada, pode trazer um conjunto de ações que garantam maior competitividade ao setor. Entre elas, maior clareza quanto ao formato da matriz energética.
O setor sucroalcooleeiro reivindica incentivos para melhorar o plantio de cana-de-açúcar desde o ano passado e ações que mostrem com clareza as regras do planejamento da matriz energética. Com o foco voltado aos combustíveis fósseis, boa parte dos canaviais não foram renovados, o que, associado aos problemas climáticos registrados nos últimos três anos, fez com que a produtividade da lavoura caísse aproximadamente 20% este ano, retomando ao patamar de 2008.
Para mudar esse cenário, representantes do setor cobram medidas de incentivo à produção que garantam novo ciclo de investimentos na cadeia de combustíveis renováveis. No topo da lista, os empresários cobram sinalização clara do governo de quanto o governo deseja ter de biocombustíveis na matriz. “Apesar de ter demanda potencial crescente e sinalização de aumento de consumo no exterior, o empresário não tem enxergado oportunidade de criar novas usinas. Tudo tem gerado muita incerteza aos investidores”, afirma o diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão de Souza. Segundo ele, deveriam ser criadas entre 120 e 130 novas usinas para dobrar a produção de cana e atender o mercado. Mas não é só. O setor insiste na desoneração tributária e na redução de custos para investimentos, que forcem diminuição de preços de máquinas e equipamentos, em modelos semelhantes aos que foram propostos para outros segmentos.
A expectativa dos usineiros é de que a próxima safra possa ser mais rentável que a desse ano, o que permitiria a retomada do fornecimento de etanol anidro para ser misturado à gasolina, que, desde 1º de outubro do ano passado, foi reduzido de 25% para 20%. “Sem dúvida nenhuma, ano que vem deve ser bem melhor”, afirma o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Luiz Custódio Cotta Martins.
Planejamento da Safra
Em consonância com o discurso dos produtores, Rosseto, defendeu a necessidade de o governo federal anunciar o aumento de cinco pontos percentuais da mistura. "Quanto mais rápido o governo sinalizar, melhor a capacidade de planejamento do setor para a próxima safra. Temos condições de atender a volta de 25% do etanol na gasolina já no ano que vem", afirmou ele durante evento da companhia petrolífera. O prejuízo registrado pela Petrobras no balanço do segundo trimestre pode forçar o governo federal a tratar com mais carinho a produção do etanol numa tentativa de balancear o fornecimento de combustível.
Na semana passada, o diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Allan Kardec, já tinha sinalizado com a possibilidade de retomar os valores da mistura estabelecidos antes de outubro do ano passado a partir da próxima safra, principalmente com a tendência de queda do preço do açúcar graças à maior disponibilidade do produto em países como Rússia e Índia.
Concessionárias cautelosas
Embora as análises de especialistas mostrem que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis favoreceu a retomada da economia com ajuste dos estoques nas montadoras, abertura de espaço na produção e geração de emprego, o que poderia viabilizar a prorrogação do benefício, o discurso positivo não se repete nas concessionárias. As revendas de veículos não estão otimistas para um possível prolongamento do IPI e correm contra o tempo para vender tudo o que podem, antes do dia 31, quando termina o prazo.
Além de forçarem a comercialização de seus estoques, as lojas estão oferecendo aos clientes produtos que ainda não chegaram às lojas. “Os indícios são de que os descontos vão acabar e a procura está aumentando”, diz o gerente da Pisa Ford, Antônio Longuinho. “Estamos vendendo o que temos nos estoques, mas também o que ainda chegará para faturamento até o dia 30 para não perder venda”, acrescenta.
Para carros novos, fora de estoque, o prazo de espera pedido pelas concessionárias varia de 30 a 60 dias. Na Automax, revendedora Fiat, a espera por veículos fora de estoque chega a 60 dias, enquanto na Pisa Ford, o prazo é de 30 dias. Na Pisa, além de venderem os veículos parados no pátio, também são comercializados aqueles produzidos pela indústria que ainda não chegaram às lojas, mas que serão entregues e faturados ainda este mês. “Ele já chega vendido e o cliente tem a segurança de pagar mais barato”, afirma Longuinho.
Com o prazo de 30 dias, concessionárias de importados não estão vendendo mais sob o argumento dos descontos. “Os nossos carros desembarcam no Brasil no dia 20 de cada mês, levam tempo nos processos de nacionalização e no trâmite do faturamento que vai permitir o transporte deste veículo para a concessionária. Por isso, não estamos mais nos comprometendo com o cliente”, explica o gerente da Kia Brisa, Iran Célio Pinheiro de Abreu.
Perdas
A Federação dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave) informou que, em julho, a média diária de licenciamentos de automóveis e comerciais leves caiu 5,9% em relação a junho, mês em que havia subido 35,9%. A média diária no mês passado ficou em 16 mil unidades, abaixo dos 17 mil de junho, mas bem acima dos 12,3 mil de janeiro a maio. Diante dos números, o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv/MG), Mauro Pinto de Moraes, avalia que a renovação do IPI seria importante para que o mercado recuperasse as perdas do ano passado. “Não temos informações sobre o que vai ocorrer, mas se não for mantido teremos setembro e outubro muitos fracos”, considera. (Com Jorge Freitas)