A recessão se agravou em Portugal no segundo trimestre e o desemprego alcançou uma taxa recorde, criando uma situação que mina os esforços do governo conservador para levantar a economia, sujeita a um plano de assistência internacional há mais de um ano.
A economia portuguesa registrou contração de 1,2% no segundo trimestre e de 3,3% em ritmo anual, em consequência da forte queda da demanda interna, anunciou nesta terça-feira o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
A contração do PIB acentuou-se ainda mais no segundo trimestre por uma forte redução da demanda interna, após uma contração no primeiro trimestre de 0,1%, e de 2,3% em ritmo anual, completa o INE.
A redução de 3,3% da economia em ritmo anual é especialmente preocupante, levando-se em consideração a previsão do governo de limitar a 3% a queda do PIB no conjunto do ano. Portugal, sob ajuda financeira da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde maio de 2011, se comprometeu a executar um exigente programa de austeridade e de reformas que aumentaram a recessão.
Com uma demanda interna reduzida, o governo aposta nas exportações para reativar a economia, mas o ritmo de crescimento perdeu força no segundo trimestre, com uma alta de 6,8% contra 11,5% no primeiro trimestre.
"O comportamento das exportações e o esforço das empresas para encontrar novos mercados é fundamental para evitar um agravamento da recessão", disse a analista Paula Gonçalves Carvalho em uma nota enviada à AFP.
O INE também revisou o resultado do país em 2011: a economia registrou contração de 1,7%, contra 1,6% anunciado anteriormente. A recessão e o desemprego são em grande parte consequência das medidas de austeridade impostas desde maio de 2011 pelos credores internacionais de Portugal, em troca de um plano de assistência financeira de 78 bilhões de euros.
O governo de centro-direita tem cumprido as receitas de seus credores, rebaixando os salários dos funcionários, elevando os impostos e reduzindo os gastos de ministérios como os de Saúde e Cultura. As cifras ruins deste mês chegam um pouco antes de a "troika" de credores de Portugal (UE, FMI e Banco Central Europeu) terem feito sua quinta avaliação das medidas de rigor adotadas pelo governo de Pedro Passos Coelho.
Após os exames anteriores, os credores institucionais advertiram sobre os "sérios desafios" que enfrenta o país. Ante a complicadíssima tarefa que prevê sanear as contas em meio a uma recessão e com um desemprego em alta, a oposição de esquerda pediu ao primeiro-ministro que negocie com a "troika" uma nova ajuda ou um prazo suplementar para cumprir os objetivos fixados, começando pela redução do déficit a 4,5% do PIB ao final do ano. Contudo, o primeiro-ministro respondeu que não pedirá nem uma coisa nem outra, e continua afirmando que seu país é considerado um "bom aluno" da zona do euro.
Além da recessão, o desemprego crescente também preocupa. O índice de desemprego em Portugal alcançou o nível recorde de 15% no segundo trimestre, superando o resultado de 14,9% do trimestre anterior, anunciou o INE.
O governo português prevê que o desemprego alcance 15,5% no conjunto do ano e 16% em 2013. Por outro lado, a crise na vizinha Espanha, principal sócio econômico de Portugal e também em recessão e com um desemprego galopante (próximo a 25%), também não ajuda.