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Estado de Minas

Aposentados e familiares devem entrar em campo para a Copa

Escassez de mão de obra para o Mundial acende sinal amarelo. Especialistas já admitem improvisos como contar com o trabalho de inativos e de parentes de quem está empregado


postado em 20/08/2012 06:59 / atualizado em 20/08/2012 07:21

Na construção civil, a saída tem sido a mão de obra feminina, como a da Elisângela Alves de Meira. ''Não há nada que os homens façam que não consigo fazer igual ou melhor. Mas não posso perder a feminilidade. Trabalho maquiada''(foto: (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press))
Na construção civil, a saída tem sido a mão de obra feminina, como a da Elisângela Alves de Meira. ''Não há nada que os homens façam que não consigo fazer igual ou melhor. Mas não posso perder a feminilidade. Trabalho maquiada'' (foto: (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press))
 

A pouco menos de dois anos para a bola começar a rolar pelos estádios brasileiros no megaevento da Copa do Mundo, o sinal amarelo já está acesso em diversos setores que correm o risco de não conseguir entregar o serviço necessário para o Mundial: falta mão de obra na construção civil e no segmento de turismo, os aeroportos correm contra o tempo e precisam ampliar o número de funcionários para finalizar as obras de expansão, o número de táxis que circulam pelas ruas é escasso. E, para completar, começa a ser ventilado o risco de apagão no setor de telecomunicações.

Para tentar suprir o problema da mão de obra, os organizadores do evento acreditam que vai ser necessário reativar os aposentados no mercado de trabalho e contar também com a ajuda de amigos e familiares nos balcões de vendas e serviços. Na construção civil, a qualificação profissional alcançou as mulheres e o trabalho feminino tem sido uma das saídas encontradas para driblar a escassez de trabalhadores nos canteiros de obra. “O volume de mulheres na comparação com homens ainda é pequeno na construção, mas tornou-se realidade”, afirma Antônio Carlos Mendes Gomes, presidente da Comissão de Política de Relações Trabalhistas (CPRT) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que lançou um programa para incentivar o sexo feminino a colocar a mão na massa nos canteiros.

O segmento de turismo deve criar cerca de 5 mil postos de trabalho só em Belo Horizonte até a Copa de 2014, segundo estimativas do BH Convention & Visitors Bureau. “Os empregos serão criados desde o pipoqueiro até o dono do hotel cinco estrelas”, afirma Roberto Luciano Fagundes, presidente do Visitors Buerau. Segundo ele, há perspectiva para a abertura de cerca de 35 hotéis na capital até o Mundial de futebol, sendo que cada um deve demandar cerca de 30 funcionários. “Nossa preocupação maior é com a mão de obra e a dificuldade de conseguir trabalhadores com formação específica”, diz Fagundes.
A hotelaria, a alimentação fora do lar, os taxistas e os prestadores de serviço para o público são os setores que mais devem sofrer com a falta de trabalhadores, avalia Fagundes. “Acredito que teremos que resolver o problema com improvisações. Aposentados e familiares devem ser demandados para trabalhar”, afirma.

Oportunidades


O Ministério do Turismo abriu 2,5 mil vagas no Senac de Minas Gerais para cursos com atividades voltadas para a Copa do Mundo, como camareira, recepcionista de meios de hospedagem, garçom e auxiliar de cozinha. O Senac já recebeu 330 matrículas de interessados nos cursos. “A carência de profissionais nessas áreas ocorre desde agora. No curso de garçom, por exemplo, as pessoas já saem com oferta de emprego de mais de uma empresa”, afirma Carolina Vieira, gestora do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) no Senac Minas.

De olho na Copa de 2014, Rochelle Maciel está fazendo o curso de recepcionista de eventos. “Imagino que teremos muitas oportunidades no Mundial, pois vamos receber autoridades e equipes esportivas de todos os países”, afirma Rochelle, que não está trabalhando atualmente. Ela sabe inglês e já trabalhou como atendente de aeroporto. Na sua avaliação, o curso vai servir não só para o período da Copa. “Belo Horizonte é uma cidade de turismo de negócios. Temos eventos o ano inteiro. E a Copa vai ajudar a mostrar a cidade para o mundo”, diz.

Déficit na construção civil

Na construção civil, as empresas querem investir, mas falta mão de obra. O setor conta hoje com 3,3 milhões de trabalhadores formais no Brasil, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Nos últimos seis anos, esse número dobrou. A entidade estima que vai fechar 2012 com cerca de 200 mil novas vagas na construção, aumento de 6% em relação a 2011. Na Grande BH, há atualmente 130 mil trabalhadores da construção e um déficit de 20 mil pessoas.
“Os trabalhadores estão migrando para outras profissões, como garçom, vendedor e diarista. Os empresários vão ter que trabalhar para formar a mão de obra especializada. Acredito que as obras em hotéis e infraestrutura serão as mais prejudicadas”, diz Osmir Venuto da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil em Belo Horizonte e região metropolitana. Segundo ele, vai ser preciso contratar mais gente. “Caso contrário, os cronogramas vão ser atrasados”, afirma. E, como faltam trabalhadores, a mão de obra de outros estados, com destaque para o Nordeste, começa a chegar à capital.

As obras de ampliação e modernização do terminal 1 no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, já sinalizam a situação que muitos empreendimentos podem vivenciar nos próximos meses. Para conseguir terminar os trabalhos no prazo planejado (dezembro de 2013), a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e o consórcio Marquise/Normatel anunciaram que vão ampliar em 25% (de 200 para 250) o número de trabalhadores no aeroporto.

"Imagino que teremos muitas oportunidades no Mundial, pois vamos receber autoridades e equipes esportivas de todos os países", diz Rochelle Maciel, que faz curso de recepcionista. (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

Se for depender da mão de obra feminina para ajudar nos canteiros de obra, boa vontade não falta a Elisângela Alves de Meira, de 31 anos. É com protetor solar, base no rosto, sombra nos olhos, batom e brinco que ela vai diariamente para as obras da construtora MRV. Ela trabalha há dois anos como sinaleira de grua e conta que é a única mulher entre os colegas. “Não há nada que os homens façam que não consigo fazer igual ou melhor. Mas não posso perder a feminilidade. Venho trabalhar sempre maquiada”, diz. Ela era faxineira, mas conta que trocou de emprego para ter o 13º salário, férias e horário para entrar e sair do serviço.

APAGÃO NA TELECOMUNICAÇÃO A edição impressa da revista britânica The Economist trouxe recentemente reportagem em que aponta para o risco de apagão das telecomunicações no Brasil, em especial nos dois próximos grandes eventos esportivos que o país vai abrigar: a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Segundo a publicação, a pane das redes de telefonia pode ocorrer caso não sejam feitos investimentos vultosos no setor para responder à demanda crescente por novas linhas.

O quadro do setor não é otimista. O governo brasileiro fez o leilão para o oferecimento de serviço 4G nas cidades-sede do próximo Mundial sob a condição de que tudo esteja pronto um ano antes do evento. Mas as empresas vencedoras são, em sua maioria, as mesmas que não conseguiram atender à demanda pelo 3G e por serviços de voz. Há ainda o caso recente da proibição da venda de novas linhas pelas empresas Tim, Claro e Oi como outra evidência de que o caos não parece estar distante. Apesar de as três operadoras terem concordado em gastar R$ 2 bilhões a mais, totalizando R$ 20 bilhões a serem investidos até 2014, o valor ainda é pouco para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

O professor de economia da área de concorrência e regulação da Fundação Getulio Vargas (FGV) Arthur Barrio Nuevo pondera, no entanto, que o problema no segmento de telecomunicações não acontece só no Brasil. “O número de linhas está crescendo, assim como o número de minutos. E o tráfego aumenta muito rapidamente. É necessário continuar a investir para melhorar o serviço de 3G e oferecer o 4G”, diz. (GC)

daqui para o futuro
Investimento em infraestrutura será gol de placa


O sucesso para a organização da Copa do Mundo depende ainda de outro investimento considerado chave para os analistas: o da infraestrutura. A conclusão é de estudos do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, que analisou o comportamento econômico do Brasil de 1994 a 2011. “Para que o país cresça, é urgente o investimento em infraestrutura”, avalia Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor associado da FDC, com pós-doutorado em transportes no Canadá. Ele ressalta que os desembolsos anuais do governo para o setor (incluindo energia elétrica, telecomunicações, transportes e saneamento básico) desde o início do Plano Real se mantém em cerca de 2% a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo dos gastos de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que chegam a 7% do PIB.


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