"Não há projeção para aumento no valor das passagens a curto prazo, mas caso a situação do câmbio e do aumento do combustível permaneça, a alta no valor das tarifas é questão de tempo", afirmou Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Gol. Afirmação semelhante foi feita por Marco Antonio Bologna, presidente da TAM. O executivo só fez a ressalva de que a eventual "recuperação tarifária" terá como limite o bolso dos consumidores. "O aumento vai até onde o mercado pode absorver", ressaltou.
Segundo Kakinoff, a companhia aérea espera um resultado financeiro melhor no segundo semestre. Apesar disso, o desempenho ainda será insuficiente para a segunda maior companhia do setor no país voltar ao azul. A Gol encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 715,1 milhões. "Como não há nenhuma projeção, neste semestre, de valorização do real ou de redução significativa no valor do querosene, não podemos falar ainda em retorno da lucratividade", resumiu.
O presidente explica que as perdas de abril a junho foram consequência "da situação mais adversa" enfrentada em toda a história da empresa. Entre os fatores combinados que, segundo ele, levaram ao resultado negativo, estão o aumento no valor do combustível, a valorização do dólar frente ao real e a queda na demanda por voos, dentro de uma tendência mundial. Os ajustes feitos pela Gol, com redução do número de voos e demissão de parte dos funcionários, vão, a seu ver, ajudar na sua recuperação.
Bologna faz avaliação semelhante, ressaltando que o setor sofreu "relevante choque de custos". Ele também não fixou prazo para o provável aumento dos preços das tarifas, mas adiantou que "dificilmente esses custos serão reduzidos".
Briga agora vai ser em bloco
As cinco maiores companhias aéreas do Brasil formaram uma aliança histórica para pressionar o governo a reduzir os custos diretos e indiretos sobre o setor, alertando para riscos ao crescimento dos seus negócios e até mesmo de desaparecimento de marcas nacionais. Assustados com conjunturas doméstica e internacional adversas, TAM, Gol, Azul, Trip e Avianca lançaram ontem a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), da qual são as sócias fundadoras. O primeiro item da pauta da entidade é conter os reflexos negativos da escalada nos preços do querosene de aviação e do avanço recente das despesas atreladas ao dólar.
"Perdemos R$ 1,6 bilhão em apenas três meses (segundo trimestre). Precisamos defender já o setor para não repetir histórias tristes do passado", confidenciou um executivo da aviação civil brasileira no evento de lançamento da Abear. Ele se referia aos prejuízos acumulados de abril a junho pelas líderes do mercado nacional, TAM (R$ 928 milhões) e Gol (R$ 715 milhões). Mesmo apresentando nos últimos anos a maior taxa de crescimento no mundo, o setor no país não conseguiu escapar de suas fragilidades estruturais concentradas no chamado custo Brasil, como câmbio e carga tributária.
Nos bastidores, empresários do setor lembram que durante o chamado choque do petróleo, nos anos 1970, as companhias aéreas e o governo foram levados a apostar na regionalização do tráfego. Não por acaso, uma das atuais investidas preparadas pelo Planalto para aprimorar a infraestrutura logística do país é justamente estimular a construção e a reforma de terminais no interior do país. As perdas geradas com as viagens de longa distância em razão da demanda maior com combustíveis já levaram TAM e Gol, donas de 75% do mercado doméstico, a reduzir seus voos para o Nordeste e exterior, tendência que deverá crescer nos próximos meses.
Eduardo Sanovicz, presidente da recém-criada Abear, aponta para a necessidade urgente de investimento na ampliação e modernização dos aeroportos brasileiros e de redução do peso dos tributos sobre a atividade das associadas, sobretudo do estadual Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). "O número de passagens aéreas vendidas no país supera desde o ano passado o número de passagens de ônibus. A aviação civil precisa então ser vista como parte de um projeto de desenvolvimento nacional", discursou. (SR)