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Estado de Minas

Vizinhos lamentam abandono das vias férreas na Região Metropolitana

Moradores da Grande BH guardam boas lembranças dos tempos em que os trilhos eram usados para transportar trabalhadores


postado em 26/08/2012 07:42 / atualizado em 26/08/2012 07:51

Linha desativada em Raposos, que serviu para o renascimento econômico da cidade, serve hoje de estacionamento para carros(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Linha desativada em Raposos, que serviu para o renascimento econômico da cidade, serve hoje de estacionamento para carros (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Vizinhas do trecho que ligava o Bairro General Carneiro, em Sabará, a vários municípios da Região Central do estado, Cecília de Jesus, de 93 anos, e Dalva de Lourdes Silva, de 58, acompanham de perto a desintegração da linha férrea que já foi o principal meio de transporte dos moradores da região. Desativada há 16 anos, a ferrovia percorre 84 quilômetros até a Estação Miguel Burnier, em Ouro Preto, e se divide em várias linhas de acesso aos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Vim de Coronel Fabriciano para a capital há 60 anos, de trem, e desembarquei nessa mesma linha que hoje já não existe mais. Era um transporte muito usado por trabalhadores que migravam para a cidade, mas só tinham condição de morar na periferia. A linha também era usada para transportar mercadorias e cargas, mas foi ficando cada vez mais jogada às traças, apesar das promessas de que seria reformada”, lamenta Cecília.

Cecília de Jesus e Dalva de Lourdes Moreira, vizinhas da ferrovia em General Carneiro, dizem que a linha está
Cecília de Jesus e Dalva de Lourdes Moreira, vizinhas da ferrovia em General Carneiro, dizem que a linha está "jogada às traças" (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
A decepção com o abandono dos trilhos é compartilhada por outra vizinha antiga da ferrovia, cerca de 30 quilômetros à frente. Em Santo Antônio de Roça Grande, em Sabará, a aposentada Maria dos Santos Souza, de 78, lembra a época em que os trens eram a principal forma de locomoção dos mineiros e saíam duas vezes por dia levando trabalhadores e moradores para a capital. “A linha era a opção que tínhamos para ir para a cidade durante os anos 1960 e 1970. Lembro-me de levar os meninos de trem para o médico e ir passear com a família nos fins de semana. Hoje, são os ônibus e carros que ganharam espaço e se tornaram a única opção. Não precisamos voltar ao que tínhamos antigamente, já que os trens de madeira que saíam apenas uma vez por dia não atendem mais a demanda, mas também não podemos deixar essa quantidade de aço em ótima condição apodrecer desse jeito”, cobra Maria dos Santos.

No lixo

Lincoln Alves de Oliveira, de Raposos, defende a adoção de critérios que vão além do lucro para reativar as velhas ferrovias de Minas (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Lincoln Alves de Oliveira, de Raposos, defende a adoção de critérios que vão além do lucro para reativar as velhas ferrovias de Minas (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
 O pesquisador do Instituto de História e Geografia do Alto Rio das Velhas (Ihgar), Lincoln Alves de Oliveira, que mora em Raposos, na Região Metropolitana de BH, também assiste com tristeza a deterioração da estação ferroviária municipal nos últimos 20 anos. Segundo ele, o espaço que hoje está sendo usado pela Secretaria Municipal de Cultura já foi responsável pelo povoamento e recuperação econômica do município. “No início do século passado, quando o arraial estava em franca decadência, com as pessoas pensando em se mudar da região, essa ferrovia garantiu que Raposos renascesse. Sinto que algo que foi construído com muito sacrifício e poderia representar uma ótima opção para o desenvolvimento da região está sendo jogado no lixo”, afirma.

Sobre a viabilidade da recuperação dos principais trechos na região metropolitana, o pesquisador ressalta que, em projetos que pretendem melhorar a mobilidade, a principal avaliação que deveria ser feita pelos governantes diz respeito às melhorias que as ações poderão representar para a população. “Claro que a relação entre custo e benefício deve ser avaliada, mas não deve ser pensado somente como um transporte que deve dar lucro para alguma empresa, e sim garantir mais qualidade de vida para as pessoas. Também não podemos pensar essa modalidade de transporte apenas como opção para a exportação de minério, temos grandes demandas de empresas menores que também precisam de novas opções de mobilidade”, ressalta Lincoln.


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